Esporte
Torcedores do Uzbequistão, abraçados às bandeiras de Portugal, Argentina e Brasil, na estação Msheireb, do metrô de Doha
“Metro, this way”: Como o trem de Doha conecta torcidas e faz Copa do Mundo andar
Com 37 estações e 75 quilômetros de trilhos, meio de transporte chega a receber 560 mil pessoas nos dias mais movimentados e faz ser possível um Mundial tão compacto; brincadeira vira febre
O relógio marcava 2h30 da madrugada de terça para quarta. Volta do estádio Lusail após Portugal 6 x 1 Suíça. Dois jornalistas brasileiros conversam com um torcedor português sobre Cristiano Ronaldo. Ao lado, um boliviano tenta ensinar, em inglês, o significado de uma expressão árabe. A um grupo de marroquinos.
Essas são cenas corriqueiras do lugar que reúne todas as torcidas na Copa do Mundo: o metrô de Doha
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Metrô de Doha conecta torcedores e faz Copa do Mundo andar
Você deve ter se deparado com algum vídeo nas redes sociais no qual funcionários orientam os torcedores: “Metro, this way!” (Metrô, por aqui!). As três palavras viraram febre na Copa do Mundo. Há quem faça música com elas (veja mais abaixo).
E tem também quem responda os simpáticos portadores da mensagem nos megafones. Esses homens de azul, com indicadores gigantes e que viraram estrelas no Catar, são quase todos quenianos.
Sem o metrô, a Copa do Mundo compacta, praticamente em uma só cidade, não andaria. Nos dias mais movimentados, mais de 560 mil pessoas passaram pelos 110 trens disponibilizados para o Mundial, que viajam em 75 quilômetros de trilhos em três linhas e 37 estações. Serão 60 estações mais, segundo o governo do Catar, até 2026.
“Metrô, this way”: frase ganhou a simpatia dos torcedores na Copa do Mundo.
Funcionários do metrô mostram simpatia com música para orientar os torcedores:
Metrô de Doha Copa do Mundo Catar torcedor Camarões — Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE
As obras duraram 12 anos e custaram cerca de US$ 8,6 bilhões (41 bilhões). O metrô foi inaugurado no fim de 2019, com trens automatizados, sem maquinistas, e que chegam a superar a velocidade de 100 km/h. Durante a Copa, operam 21 horas por dia: entre 6h e 3h – nas sextas, dia sagrado para os muçulmanos, a partir das 9h.
Para um país que nada em dinheiro, há vagões exclusivos, mais caros, com detalhes em ouro. No entanto, no evento que promove a união de diferentes povos do planeta, essa divisão não existe. Na Copa do Mundo, a área VIP não funciona, e todos podem andar gratuitamente, desde que possuam o Hayya Card, espécie de visto criado no Mundial.
Metrô de Doha tem vagão VIP com detalhes em ouro: mas área exclusiva não funciona na Copa do Mundo — Foto: Divulgação/QRC
Onde o jogo começa
Passar alguns minutos ou horas vagando pelas estações e trens é a oportunidade para ver quem está no Catar para a Copa do Mundo. A estação Msheireb conecta as três linhas da rede: Dourada, Verde e Vermelha. E é lá onde todos se encontram.
Torcedores que saem de uma partida esbarram com quem está indo para outra. Funcionários tentam superar o barulho de centenas de pessoas passando ao mesmo tempo para indicar qual linha leva a qual estádio e salvar os perdidos, que sempre aparecem.
Metrô de Doha Copa do Mundo Catar torcedores Argentina — Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Nesse caos, quatro jovens do Uzbequistão aparecem, enrolados a bandeiras de Portugal, Argentina e Brasil. Iam acompanhar a seleção portuguesa contra a Suíça, nas oitavas de final. Com Cristiano Ronaldo no banco. Elogiam o metrô, mas admitem que às vezes ficam confusos com as placas.
“É a melhor forma de ir aos jogos. Aqui a gente sente a Copa do Mundo”, diz um dos torcedores uzbeques, abraçado à bandeira brasileira.
Torcedores do Uzbequistão, abraçados às bandeiras de Portugal, Argentina e Brasil, na estação Msheireb, do metrô de Doha — Foto: Daniel Mundim
Guias com grupos tentam controlar seus torcedores para que não se percam entre os vagões. E quem se movimenta na Copa do Mundo pelo metrô também tenta acompanhar o que está acontecendo no Mundial.
Dentro de um trem, o celular de um repórter do ge virou atração para torcedores que iam ao estádio Lusail, onde Portugal golearia a Suíça. Tudo para acompanhar os pênaltis de Marrocos x Espanha. No fim, todos vibraram com a classificação marroquina.
Dos oito estádios, um será desmontado, e os demais terão suas capacidades reduzidas diante da fraca demanda pelo esporte no Catar. Num país com futebol inexpressivo e desenhado para os carros, o metrô é visto como o verdadeiro legado da Copa do Mundo.
*Colaboraram Bruno Cassucci, Cahê Mota, Martín Fernandez e Raphael Zarko .
Torcedores se juntam ao redor de celular para acompanhar pênaltis de Marrocos x Espanha no metrô de Doha na Copa do Mundo — Foto: Raphael Zarko
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