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Os tropeços vieram — seja antes ou na última rodada. O Rubro-Negro perdeu por 2 a 1. E o Inter tropeçou nas próprias pernas
Análise: Inter amarga vice em jogo de muita luta e paga por pouco repertório com gol que não veio
Colorado vê Flamengo tropeçar e, mesmo assim, amarga o vice no Brasileirão por não conseguir marcar uma vez sequer diante do Corinthians
Cinquenta e quatro minutos do segundo tempo no Beira-Rio, o Inter depende de um gol para ser campeão brasileiro e tem um escanteio pela direita. Se pudesse, até o presidente Alessandro Barcellos estaria entre as cotoveladas da grande área, agarrado ao zagueiro rival.
Moisés cobra, Cássio se atrapalha com a presença de Marcelo Lomba, e a bola sobra para Lucas Ribeiro. Ele domina, gira o corpo e isola. A bola sobe, sobe e leva consigo o último fio de esperança colorada de ser tetra no Brasileirão após 41 anos. E também resumo de como o Inter tentou criar na obrigação por vencer.
+ Inter empata em 0 a 0 com o Corinthians e fica com o vice
+ Abel se despede do Inter orgulhoso, mesmo com vice
Nesta quinta-feira, o Inter não dependia apenas de si. Precisava vencer o Corinthians e contar com um tropeço do Flamengo para o São Paulo no Morumbi para ser campeão brasileiro.
O tropeço veio. Ou os tropeços vieram — seja antes ou na última rodada. O Rubro-Negro perdeu por 2 a 1. E o Inter tropeçou nas próprias pernas com um empate em 0 a 0 diante do Corinthians que deixou colorados estatelados, desolados no gramado do Beira-Rio.
Mas é possível lembrar também da derrota para o Sport, no Beira-Rio, duas rodadas atrás, em cenário muito parecido. O Inter penou para furar rivais mais fechados, retraídos. O Leão montou-se assim, o Timão também, apesar do primeiro tempo. A falta de repertório não significa só maneiras de atacar, mas de como solucionar e passar por cima da estratégia adversária. Jogar de mais de um jeito.
O teto colorado
O Inter que tanto lutou pelo gol que não veio pagou pelos próprios erros neste 25 de fevereiro eterno. É recorrente dizer que jogos de título são definidos no detalhe. E os detalhes tiraram o tetra.
A começar pela postura no primeiro tempo. O Colorado entrou obrigado a vencer para ser campeão contra um Corinthians sem pretensões no Brasileirão. Parecia o oposto.
Era o Timão que tinha a bola, e o Inter que se defendia, com quase todo o time postado no campo de defesa. Estava acostumado a jogar assim, se fechar e atacar rápido. Mas não era o suficiente. A situação só se inverteu quando Abel Braga inverteu Patrick e Caio Vidal de lado.
Em tempos pandêmicos, dirigentes, jogadores que não foram relacionados e integrantes da comissão técnica eram as vozes coloradas nas arquibancadas. Elas ecoaram com reclamações e ofensas ao árbitro Wilton Pereira Sampaio por um pênalti anulado após revisão no VAR. Atribuíram o vice ao lance capital e polêmico.
Primeiro, veio o lance do pênalti assinalado e anulado com consulta ao VAR pelo árbitro após Moisés cruzar e acertar o braço de apoio de Ramiro. Depois, o Pantera Negra fez jogada individual vindo da direita para a esquerda. A bola sobrou para Yuri Alberto marcar um golaço. Em impedimento.
A milhares de quilômetros de distância, o São Paulo vencia o Flamengo por 1 a 0 no Morumbi, e o Inter voltou do intervalo energizado pelo gol de Luciano. A partir daí, foi um jogo de ataque contra defesa.
Mas de um ataque desorganizado, sem efeito e que foi perdendo forças. Obrigado a vencer, o Inter teve 15 finalizações e 12 escanteios. Mas poucos lances de perigo: uma cabeçada de Edenílson que parou em milagre de Cássio após cruzamento de Heitor e um chute de Caio Vidal que explodiu na trave.
Lucas Ribeiro perderia nos acréscimos talvez uma das chances mais claras de sair do anonimato e entrar para a história colorada.
O Corinthians congestionava o entorno da área, e o Inter só conseguia chegar pelas beiradas, com cruzamentos a perder de vista. O Colorado usou e abusou da bola aérea. Não à toa, Abel mandou a campo Abel Hernández e Thiago Galhardo. Sem efeito.
A equipe cansou, viu o Timão crescer no jogo e ficar mais com a bola. Mas não desistiu. Em um já derradeiro suspiro de esperança, veio um golpe fatal: Víctor Cuesta fez bela jogada individual e serviu Moisés. O lateral cruzou para Edenílson fazer o gol que seria o do título. Não fosse o impedimento.
O Inter fecha o Brasileirão com 70 pontos – seu recorde na era dos pontos corridos – e com um vice-campeonato de sabor amargo, a ser digerido na eternidade. O Colorado já volta a campo na próxima segunda-feira, às 20h, quando enfrenta o Juventude no Beira-Rio pela estreia no Gauchão.
Por Eduardo Deconto — Porto Alegre
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