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‘Eu não conheço ninguém no governo federal’, afirma reverendo Amilton Gomes

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Apesar da fala, ele se reuniu com integrantes do Ministério da Saúde e recebeu aval de ex-funcionário da pasta para negociar vacinas. Reverendo prestou depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (3).

CPI: reverendo que negociou vacinas diz não conhecer ‘ninguém do governo federal’

O reverendo Amilton Gomes de Paula afirmou, em seu depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira (3) não conhecer “ninguém do governo federal” ou que seja próximo ao presidente da República, Jair Bolsonaro. A fala foi vista com descrédito pelos integrantes da comissão.

Amilton Gomes é fundador de uma entidade privada chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah). O reverendo é considerado uma peça-chave na investigação da CPI, que tenta esclarecer como o governo brasileiro negociou a aquisição de imunizantes por meio de intermediários.

Amilton Gomes participou de negociação para a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca, em um momento de escassez de doses de imunizantes em todo o mundo.

“Eu não conheço ninguém no governo federal. Ninguém próximo ao presidente”, disse Amilton Gomes. Questionado, então, se teria algum registro fotográfico com alguém próximo ao presidente, o reverendo disse primeiro não se recordar, depois disse que deve ter fotos.

Na sequência, voltou a dizer: “não tenho nenhuma aproximação e nenhum relacionamento [com pessoas próximas a Bolsonaro]”.

Embora tenha dito que desconhece integrantes do governo federal, o reverendo e a entidade que fundou, a Senah, receberam aval do então diretor de Imunização do Ministério da Saúde Laurício Monteiro Cruz para negociar a vacina AstraZeneca em nome do governo com a empresa americana Davati Medical Supply. O caso foi revelado em reportagem do Jornal Nacional.

Davati

À CPI, Amilton Gomes disse ter conhecido o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que se dizia representante da Davati Medical Supply, no dia 16 de fevereiro. Que Dominghetti falou em 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca “disponíveis para pronta-entrega” em até oito dias, por US$ 3,97 a dose.

O reverendo afirmou, então, ter solicitado uma reunião para tratar da oferta com representantes do Ministério da Saúde no dia 22 de fevereiro e que foi atendido no mesmo dia, por Laurício Monteiro. A agilidade chamou a atenção dos senadores.

“O senhor então mandou um e-mail às 12h, apontou o horário de que a reunião teria que ser às 16h30, às 16h30 já foi recebido. Eu queria essa eficiência do serviço público para a Pfizer”, ironizou Randolfe Rodrigues.

“Nós enviamos o e-mail e fomos recebidos”, reiterou Amilton. Questionado sobre a que motivo atribui o “prestígio” de ser atendido com celeridade, o reverendo afirmou: “Eu creio que, pela urgência da demanda, da escassez, do que nós estávamos vivendo, nós fomos recebidos”.

Em outro momento, o reverendo disse ter conversado duas vezes com o dono da Davati, Herman Cardenas, e que o empresário garantiu a ele ter as vacinas.

Em entrevista ao Fantástico, entretanto, Herman Cardenas disse apenas que tinha uma “alocação”, uma espécie de reserva de vacinas, mas não especificou a origem dos imunizantes. O empresário também disse ter sido enganado por seus parceiros no Brasil.

Doação

Ainda durante o depoimento, o reverendo sinalizou que a Senah, entidade que fundou, receberia doações da Davati, caso a venda de doses pela empresa ao governo se concretizasse.

O reverendo não explicitou, no entanto, que tipo de doação seria ou qual valor a Senah receberia, mas que havia um “interesse humanitário” da entidade. “Qualquer instituto vive de doação”, disse Amilton. Na sequência, ele disse não ter participado de “nenhum acordo”.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) insistiu na questão e perguntou qual seria o valor que a Senah receberia com a negociação.

“Não foram estabelecidos valores. Desde o início, falava-se sobre doação”, afirmou o reverendo, que voltou a afirmar que a Senah tinha interesse “humanitário” no episódio.

A fala irritou Contarato, que reagiu: “O interesse, com todo o respeito, não era humanitário, não. O interesse era qualquer outro, menos humanitário, e 557.359 pessoas pagaram com a vida! E a digital de muita gente está nessas mortes. O senhor, como reverendo, deveria ter esta consciência: 557.359 brasileiros e brasileiras perderam suas vidas”.

“Nosso interesse era extremamente humanitário”, repetiu o reverendo.

‘Bravata’

O reverendo também foi questionado sobre mensagens que trocou com o policial militar Dominghetti, no dia 16 de março.

Respondendo a Dominghetti, que queria atualizações a respeito de reuniões do reverendo, Amilton afirmou naquela data: “Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!”.

Indagado sobre o episódio e sobre a quem se referia, Amilton Gomes, orientado por seu advogado, afirmou que a fala foi uma “bravata”. Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), protestou:

“Veja bem, pastor, tudo que o senhor fala a partir de agora, as pessoas vão olhar para o senhor e vão dizer: ‘Será que ele está com bravata ou está falando a verdade?’. Repense o seu depoimento, pastor”.

Por Gustavo Garcia e Jamile Racanicci, G1 — Brasília

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