Esporte
Dia 27 de novembro, às 17h. Não é possível jogar a final da Libertadores nem antes, nem depois.
A Libertadores só será ganha no dia 27, e não a cada rodada do Brasileiro
Não é possível mover a seta do favoritismo sempre que Flamengo e Palmeiras apresentarem atuações contrastantes
Dia 27 de novembro, às 17h. Não é possível jogar a final da Libertadores nem antes, nem depois. Tampouco tentar antecipar, a cada rodada, diante do contraste entre as exibições de Flamengo e Palmeiras, que cara terá a decisão de Montevidéu. Por mais tentador que seja este exercício. Do contrário, nos pegaremos numa gangorra de sensações que não permitirá definir como serão 90 minutos tão peculiares, uma história com princípio, meio e fim em si mesma, confrontando dois elencos talentosos e habituados a ocasiões assim. Claro que as fragilidades e as tantas virtudes de um lado e de outro terão peso, assim como as circunstâncias específicas e incontroláveis de uma final em partida única. Só não é possível ficar movendo a seta do favoritismo, a cada domingo, para um lado ou outro.
Michael comemora gol pelo Flamengo no jogo contra o São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
Há pouco mais de um mês, era o Palmeiras o time com pouco repertório ofensivo, por vezes instável ao defender e que transmitia sensações ruins. À época, confrontado com um Flamengo de placares contundentes, parecia condenado a coadjuvante da decisão. Desde então, o Flamengo de Renato Gaúcho perdeu titulares, viu seu jogo se deteriorar mesmo quando teve uma formação próxima do ideal, enquanto Abel Ferreira conduzia seu time a vitórias seguidas e a uma ampliação de repertório. Mudavam os prognósticos a poucas semanas da decisão. Neste domingo, as sensações novamente se inverteram. A rigor, a boa partida do Flamengo pode devolver confiança, a má atuação do Palmeiras pode remeter a problemas que pareciam no passado. Mas há muito mais fatores envolvidos, inclusive sob o ponto de vista da concentração, da forma como cada equipe se relaciona com o Campeonato Brasileiro nesta reta final de temporada. Os 90 minutos do dia 27 de novembro parecem um universo à parte, muito pouco – ou quase nada – condicionado pelo Brasileirão.
Talvez o Flamengo precisasse de um reencontro com suas maiores virtudes num jogo cujas circunstâncias o deixaram muito confortável. Uma conjunção de fatores, dos acertos rubro-negros a um plano de jogo que não funcionou pelo lado do São Paulo, fez com que o duelo do Morumbi estivesse sentenciado em nove minutos. Uma pressão ofensiva bem estruturada do time de Renato Gaúcho resultou na abertura do placar em 26 segundos. Mais adiante, o movimento de Éverton Ribeiro para o centro, onde o time paulista cedia espaços demais, iniciou a bela construção do segundo gol. Primeiro, um passe para Michael explorar outra disparidade da partida: sua velocidade contra um desconfortável Diego Costa como lateral-direito. A seguir, a bola encontrou Bruno Henrique, que infiltrou num espaço deixado por Léo, atraído pelo movimento de Gabigol para fora da área.
Rogério Ceni, talvez tentando compensar a falta de um jogador veloz, capaz de dar profundidade a seu time e atacar as costas de uma defesa, colocou Marquinhos como titular. Quando o São Paulo atacava, ele era um ala pela direita, com Reinaldo ocupando o lado esquerdo. Neste momento, Diego Costa, Miranda e Léo eram os três zagueiros. Sem bola, o time defendia com quatro homens, com Reinaldo na lateral esquerda e Diego Costa do outro lado. Desconfortável e desprotegido no setor onde o Flamengo tem armas das mais perigosas, Diego se via sempre em desvantagem contra Michael ou Bruno Henrique. Os gols desnortearam um time pressionado pela zona de risco na tabela, e a expulsão de Calleri encerrou pretensões dos donos da casa.
O Flamengo nem foi uma avalanche criativa, por vezes até foi passivo sem bola e viu o São Paulo ensaiar jogadas ofensivas que poderiam levar perigo. Ainda assim, as boas ações coletivas que conduziram aos gols e o talento do time construíram o placar. Michael, primeiro num golaço e depois numa ação inteligente às costas de Diego Costa, fechou a goleada e voltou a ter brilhante exibição.
Pouco depois, o Maracanã viu um Palmeiras lento e espaçado com a bola. Diante de um Fluminense que esperava atrás e apostava num contragolpe, a equipe de Abel Ferreira não repetia os bons movimentos ofensivos de jogos anteriores. Como os laterais Mayke e Victor Luís iniciavam as jogadas mais próximos aos zagueiros, Gustavo Scarpa e Dudu abriam campo no ataque. Poucas vezes Scarpa e Veiga se associavam e o jogo do Palmeiras não fluía, dependente de passes mais longos de Felipe Melo ou do goleiro Weverton. Ainda assim, o time tinha mais volume e terminou por abrir o placar num golaço de Dudu em rebote de escanteio.
Felipe Melo em disputa em Fluminense x Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras
No segundo tempo, um Fluminense mais ágil e corajoso, primeiro pela entrada de Gabriel Teixeira e depois pelas mexidas de Marcão no meio-campo, acentuou a dificuldade palmeirense na saída de bola. Claro que o jogo foi condicionado pelo empate no primeiro minuto da etapa final, mas o tricolor foi melhor time em todo o segundo tempo. Yago cresceu e o Palmeiras não conseguia encaixar a marcação no meia tricolor, autor do gol da virada. O Palmeiras já não era um time nem de criação, nem de transições rápidas.
O quanto as dificuldades do Palmeiras têm a ver com o desgaste pelos jogos seguidos, o quanto têm a ver com a concentração a duas semanas do jogo no Uruguai, é difícil dizer agora. Tampouco é simples garantir que o Flamengo reencontrou de vez seu melhor jogo, ou até que ponto os gols marcados cedo e a expulsão tornaram o roteiro do Morumbi atípico. Muito menos dizer que o favoritismo se inverteu. Os dois finalistas não medem forças a cada rodada do Brasileiro. Vão fazê-lo no dia 27. Nem antes, nem depois.
Ge.globo.com