Esporte
Da esquerda para a direita: Gustavo Feijó (vice), Ednaldo Rodrigues (presidente interino)
Assembleia Geral da CBF se reúne em meio a disputa entre presidente interino e diretor nomeado pelo STJ
Presidentes de clubes da Série A e das 27 federações vão definir peso de votos no colégio eleitoral e regras para candidaturas
Esta segunda-feira será um dia decisivo para o futuro do futebol brasileiro. A CBF convocou para as 14h uma Assembleia Geral, da qual participam representantes das 27 federações e dos 20 clubes da Série A, para discutir as regras das futuras eleições na entidade.
A reunião vai definir qual o peso dos votos de cada categoria que vai participar das futuras eleições na CBF: federações estaduais, clubes da Série A e clubes da Série B. Hoje, as federações têm peso 3, os clubes da Série A têm peso 2 e os clubes da Série B têm peso 1. Na prática, isso significa que as federações podem decidir sozinhas as eleições, pois concentram 81 votos, contra 60 dos clubes.
Também será discutida a cláusula de barreira, que restringe a inscrição de candidaturas nas eleições da CBF. Hoje, para uma chapa poder concorrer, ela precisa ter o apoio formal de 8 federações estaduais e 5 clubes da Série A. Todas as eleições da CBF nos últimos 35 anos tiveram candidato único.
Além da Assembleia Geral que definirá as regras eleitorais, a CBF convive com a expectativa de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que na prática pode definir quem será o presidente interino da entidade até que as próximas eleições aconteçam: o atual interino, Ednaldo Rodrigues, ou o diretor mais velho, Dino Gentile.
No último dia 24, uma decisão do presidente do STJ, ministro Humberto Martins, determinou que Gentile deveria assumir a presidência no lugar de Ednaldo para que a CBF rediscutisse as regras eleitorais. A decisão foi encaminhada para a Justiça do Rio no próprio dia, mas numa decisão paralela à do STJ, o juiz Mário Cunha Olinto Filho, da 2º Vara Cível da Barra da Tijuca aceitou suspender a ação após pedido do MP.
Da esquerda para a direita: Gustavo Feijó (vice), Ednaldo Rodrigues (presidente interino) e Marcus Vicente (vice), dirigentes da CBF — Foto: Thais Magalhães/CBF
A situação gerou grande discórdia entre Rodrigues, que o STJ havia determinado afastamento (além de toda a sua chapa, composta por mais 7 vices), e o diretor Gentile nomeado pelo ministro na ação que tramitava em Brasília.
Desde então, ambos os lados ingressaram com petições no STJ. Os advogados de Ednaldo Rodrigues citam que a CBF já assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público do Rio de Janeiro, e que esse acordo já foi validado pela Justiça do Rio de Janeiro.
Gentile alega que a decisão inicial de Humberto Martins, no dia 24 de fevereiro, não foi cumprida. E que o TAC assinado entre CBF e MP não tem validade, porque foi firmado por Ednaldo Rodrigues no dia 28 de fevereiro, quando ele já deveria – segundo essa argumentação – estar fora do cargo.
Dino Gentile, diretor de patrimônio da CBF, nomeado presidente interino pelo STJ — Foto: Thais Magalhães/CBF
Clubes não creem em mudanças
Presidentes de clubes ouvidos pela reportagem não veem chances de mudança que leve a uma maior participação das agremiações na vida política da CBF, Isso porque mesmo que todos os 20 votem da mesma forma, eles serão derrotados pelos 27 presidentes de federações que tradicionalmente votam em bloco.
– Há uma grande insatisfação nos grupos de presidentes que participo. Os clubes queriam ter a mesma participação que as federações. A gente se sente um pouco impotente quanto a isso. O maior problema do futebol é que os clubes não são unidos, disse o presidente do Atlético-GO, Adson Batista.
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– Mantenho minha posição de sempre de revisar o peso dos votos, descontaminando o colégio eleitoral, disse Romildo Bolzan, presidente do Grêmio, clube que não vai participar da votação desta assembleia por estar na Série B, mas que faz parte do colégio eleitoral.
O que motivou a disputa judicial
Em março de 2017, a CBF promoveu uma assembleia geral – sem a participação dos clubes – e definiu novas regras para as suas eleições. O objetivo era atender a uma atualização da Lei Pelé, promovida pela lei do Profut, de 2015. Por não ter a participação dos clubes da série A, que já faziam parte da assembleia geral, mas não participaram da mudança, o MP ingressou com ação para anular a mudança.
O colégio eleitoral da entidade passou a ser formado pelas 27 federações, os 20 clubes da Série A e os 20 clubes da Série B do Campeonato Brasileiro.
Para evitar que os clubes tivessem maioria, a CBF estabeleceu que os votos das federações estaduais teriam peso 3, os votos dos clubes das Séries A teriam peso 2 e os votos dos clubes da Série B teriam peso 1. Na prática, se as 27 federações estaduais votassem no mesmo candidato, elas teriam 81 votos. Se os clubes se unissem, teriam 60 votos.
A manobra foi realizada pelo grupo político de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF e suspenso pela Fifa por 20 anos por corrupção, para beneficiar Caboclo na eleição.
Por Gabriela Moreira, Martín Fernandez e Sérgio Rangel
Foto: Thais Magalhães/CBF
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