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Fernando Haddad, ministro da Fazenda, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça

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Especialistas sobre Haddad em Davos: governo deve abandonar narrativa e ‘arregaçar mangas’

Ministro da Fazenda discursou no Fórum Econômico de Davos, que contou com a ministra Marina Silva e termina nesta sexta-feira (20)

A participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, foi vista com ressalvas por economistas ouvidos pelo R7. A avaliação é de que o governo terá de abandonar a narrativa política e trabalhar para entregar o que foi prometido na campanha: responsabilidade fiscal e controle dos gastos públicos.

Haddad representa o Brasil no evento ao lado da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. O fórum teve início no dia 16 e termina nesta sexta-feira (20). O evento reúne lideranças de diversos países e membros da iniciativa privada para discutir temas econômicos e sociais que afetam todo o mundo.

“A narrativa de que é preciso construir um Brasil que está desconstruído tem um viés de rivalidade política, que faz parte, claro, mas em algum momento o governo vai precisar efetivamente arregaçar as mangas e implementar as políticas que estavam previstas na campanha eleitoral”, avalia o professor convidado de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Hugo Garbe.

“O mercado sente que existe uma narrativa política. A economia é uma ciência social, que tem efeitos colaterais em várias áreas. No caso do Imposto de Renda, a ideia é isentar quem ganha até R$ 5 mil, mas como vai compensar isso? Cobrando de quem ganha mais? Na teoria é bonito, mas na prática dificilmente funciona. A execução do plano [do governo] fica na teoria e na narrativa política”, disse.

Garbe destaca que o Fórum Econômico de Davos é uma excelente oportunidade para o atual governo se expor e tentar atrair investimentos para o Brasil, mas o ministro “perdeu a chance de focar em uma agenda de futuro”.

Para o economista Tiago Piassum, as sinalizações de Haddad indicam para uma retomada de políticas que foram adotadas pelo PT enquanto esteve à frente da Presidência da República e que acabaram contribuindo para o impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Quando o governo sinaliza que tudo pode mudar, sem investimento privado, aí entra o investimento do Estado. Essa conta não fecha, o caixa fica zerado”, diz.

“Está todo mundo querendo o Lula 1 [do primeiro mandato]. O grande medo do mercado é que esse estímulo que Haddad quer dar na economia seja tão forte que sejam ignorados os princípios da estabilidade fiscal, porque vai ser uma guerra do monetário contra o fiscal. E aí vai ser baixar juros na canetada, [conceder] subsídios para [determinados] setores, e isso no futuro é uma bomba, como aconteceu no governo da Dilma”, aponta Piassum.

Em Davos, Haddad disse na última terça-feira (17) que pretende apresentar a reforma tributária prometida durante a campanha eleitoral de Lula em duas etapas. A primeira, que seria enviada até o mês de abril, teria foco na mudança da tributação sobre o consumo; a segunda parte, com expectativa para ser apresentada no segundo semestre, com mudança dos impostos sobre a renda.

“É um momento delicado para uma reforma tributária tão contundente, ao mesmo tempo em que o governo estuda o ajuste fiscal no Orçamento da União. O risco é sair com uma tributação mais alta, inclusive. A ideia é tributar o consumo neste primeiro momento, o que é delicado e difícil, uma vez que ele quer aprovar a proposta ainda no primeiro semestre”, afirmou Azzoni.

“E a tributação sobre consumo é um pouco absurda, porque até o mais pobre paga esse tipo de tributo. Aquela pessoa que ganha R$ 50 por hora, por exemplo, que recebe em espécie, vai ser tributada a partir do momento em que for comprar qualquer coisa, porque é consumo”, completa.

A segunda etapa da reforma pretende atacar o Imposto de Renda. A ideia defendida por Lula é isentar da tributação quem ganha até R$ 5 mil por mês. O governo, no entanto, reconhece as dificuldades de implementar a medida porque não há espaço fiscal. Cerca de 90% dos assalariados estão nessa faixa de renda.

“O Imposto de Renda, caso seja alterado, tem que ter a progressividade. Além disso, não adianta o ministro ter vontade e fazer um trabalho técnico e a matéria não passar no Congresso Nacional. Porque, nesse caso, os ricos vão pagar mais, e eles não gostam muito dessa ideia”, pontua o economista Newton Marques.

Na avaliação de Marques, a questão é política. “Na época do Fernando Henrique Cardoso, ele governava com medida provisória. Não tinha limite. Ele podia ter feito uma reforma tributária, mas não fez porque representava os interesses de São Paulo, que é o estado que mais vai perder com a reforma. O Estado produtor, nesse caso, é penalizado.”

Questão ambiental

Se a questão econômica é vista com certa desconfiança, a presença da ministra Marina Silva foi um ponto positivo do Brasil no fórum, na visão do economista Alessandro Azzoni, uma vez que Marina é respeitada internacionalmente e a preocupação com as mudanças climáticas é um tema em pauta em todo o mundo.

“É uma balizadora, autenticadora, de todas as políticas públicas que foram e vão ser implementadas pelo novo governo. E aí temos uma margem muito grande de desenvolvimento para o país”, avalia. E já vemos reflexos dessa medida, por exemplo, nos fundos internacionais de investimento, de proteção à Amazônia, que ganhou recentemente o apoio da Alemanha, Noruega e Inglaterra.”

Agenda

O primeiro compromisso do ministro da Fazenda na Suíça foi um encontro com Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

No segundo dia, Haddad se reuniu com Nick Clegg (presidente de Assuntos Globais da Meta) e participou de um jantar oferecido pelo banco BTG Pactual. O ministro da Fazenda e a ministra do Meio Ambiente fizeram ainda um painel juntos no fórum.

Já no terceiro dia, o ministro da Fazenda se encontrou com o jornalista Martin Wolf, do jornal britânico Financial Times, com Mathias Cormann, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e Dara Khosrowshahi, da Uber. Haddad ainda participou de um painel com os presidentes da Colômbia, Equador e Costa Rica, além de encontro com o vice-presidente da República Dominicana.

  • BRASÍLIA | Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
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