ELEIÇÕES 2022
“A coligação proporcional ela é muito democrática, ela fortalece os partidos em crescimento”
Especialistas criticam a volta das coligações e apontam prejuízo a democracia
Confuso o cidadão poderia votar em um candidato e acabar elegendo outro que pensa completamente diferente.
“Péssimo para a democracia” a opinião sobre a volta das coligações proporcionais é um consenso entre especialistas em ciência política, a medida aprovada na última quarta (11), pelo plenário da Câmara Federal, traz de volta a possibilidade de alianças para disputas de deputados e vereadores, viabilizando os históricos “blocões” com vários partidos políticos, alguns sem qualquer afinidade ideológica.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 125/11 foi aprovada em primeiro turno com 423 votos favoráveis e 35 votos contrários. A medida deve causar profundas alterações nas estratégias partidárias para 2022, a PEC deve ser votada em segundo turno já na próxima semana.
O doutor em ciência política, Vítor Sandes, avaliou a medida e criticou a “hiper fragmentação” que a mudança trará, dificultando ainda mais a execução de ações na esfera pública.
“Quando tivemos a aprovação da minirreforma o objetivo era reduzir as fragmentações partidárias, nas últimas eleições de 2020 houve uma redução no lançamento de candidaturas, especialmente de partidos pequenos nas cidades do interior, com isso nós tivemos vários partidos pequenos em risco. O fim desse processo é ruim já que um dos grandes problemas é a fragmentação que a coligação gera, são diversos atores para se negociar o que eleva o custo para se tomar as decisões mais complexas, gerando uma hiper fragmentação” explicou Vítor Sandes.
O especialista revela também que para o cidadão e para a democracia brasileira a medida seria péssima já que a coligação muitas vezes coloca partidos ideologicamente opostos no mesmo lado, meramente por uma estratégia eleitoral. Confuso o cidadão poderia votar em um candidato e acabar elegendo outro que pensa completamente diferente.
“Do ponto de vista do cidadão a volta das coligações é ainda pior, o eleitor não consegue distinguir entre as propostas ideológicas alinhadas, isso faz com que o cidadão não saiba o que está defendendo na política. Muitas vezes vemos partidos com perspectivas ideológicas diferentes que alinham politicamente, isso é péssimo para a democracia, vemos alianças políticas e não programáticas” concluiu o cientista político
Foto: ODIA
Deputados divididos
Se em Brasília a volta das coligações proporcionais foi praticamente unanimidade entre os deputados, no Piauí o tema divide opiniões. Enquanto uma ala de políticos defende a medida outros atacam duramente a matéria. A deputada Teresa Britto (PV) foi uma das defensoras das coligações e elogiou o caráter “democrático” que a mudança traz.
“A coligação proporcional ela é muito democrática, ela fortalece os partidos em crescimento e contribui para que possamos ter pessoas que não possuem um poder aquisitivo maior ou uma influência política possa chegar a ter um mandato eletivo. Acho bastante democrático, foi uma postura boa do congresso. Eu sou a prova, estou fazendo o meu trabalho sério aqui na Assembleia, pautado os problemas do Piauí após uma eleição em que fiz parte de uma coligação. Precisamos sim que isso ocorra para que outras ‘Teresa Britto’ possam surgir” afirmou.
Já Warton Lacerda (PT) atacou duramente a PEC que muda as regras eleitorais um ano antes do pleito, o petista chamou de “esculhambação” a mudança.
“Sinceramente falando, e aqui vai um desabafo, olha a esculhambação que é esse Congresso Nacional. Eles votaram uma reforma política em 2017 para não valer em 2018, ou seja, para não atingi-los, mas atingiu os vereadores em 2020. Usaram os vereadores de cobaia. Chega em 2021 e eles aprovam uma reforma política desfazendo o que eles fizeram em 2017, porque viram que não iria atendê-los. “É para se perpetuarem no poder, para massacrar as minorias, para que o filho do pobre não possa chegar a uma casa legislativa ou a uma Câmara Federal” lamentou o deputado.
Tarcio Cruz / Portalodia.com