Esporte
A Comissão de Atletas definiu a eleição, com pelo menos dez votos para Paulo Wanderley
Resultado da eleição é positivo a curto prazo, mas ciclo promete ser tumultuado politicamente
A nove meses das Olimpíadas, uma mudança no comando do COB atrapalharia a preparação dos atletas, mas resultado apertado e erros da gestão podem culminar em crise política nos próximos anos
Pela primeira vez em quarenta anos, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) teve uma eleição para valer, com oposição, disputa voto a voto e um resultado apertadíssimo. Também de forma inédita, os atletas tiveram direito a 12 dos 49 votos do colégio eleitoral, e acabaram por decidir o resultado, com vitória da chapa de situação (Paulo Wanderley presidente e Marco La Porta vice), por 26 a 20, contra Rafael Westrupp e Emanuel. A chapa de Helio e Robson Caetano recebeu dois votos, e a Confederação de Handebol não mandou representantes.
Paulo Wanderley Teixeira, presidente do COB — Foto: Ricardo Bufolin/Panamerica Press
O resultado, pensando a curtíssimo prazo, que é a Olimpíada de Tóquio, foi ótimo. Nada muda na preparação para os Jogos, marcados para daqui a nove meses. Em caso de vitória de Rafael, uma mudança radical, principalmente na parte técnica, às vésperas das Olimpíadas deixaria o planejamento de cabeça para baixo.
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Por outro lado, a parte política e o resultado apertado vão tumultuar o ambiente olímpico do país nos próximos anos.
É a primeira vez em 40 anos que o COB terá mais da metade das Confederações como oposição ali dentro. Resta entender o quê modalidades como vôlei, basquete, futebol e tênis, todas abertamente a favor de Rafael, vão fazer nos próximos anos. Serão oposição aberta desde já ou abrirão diálogo com a gestão atual? E, claro, o contrário também serve: como Paulo Wanderley vai recebê-los?
A Comissão de Atletas definiu a eleição, com pelo menos dez votos para Paulo Wanderley. Uma vitória sem precedentes dos atletas, finalmente com voz ativa na parte política do COB.
A oposição teve dois grandes erros no fim da corrida eleitoral. Um deles afastou alguns votos de atletas da comissão, que foi o exagero ataque de Emanuel à Carol Solberg, após a jogadora ter falado “Fora, Bolsonaro”, durante uma transmissão ao vivo da primeira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia. O outro foi não deixar com que o público geral soubesse o plano da gestão, optando por não dar entrevistas aos grandes meios de comunicação na semana da eleição.
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A vitória de Paulo Wanderley também garante mais quatro anos de comando de pessoas ligadas ao judô. Paulo Wanderley veio da Confederação de Judô, tem em seu braço direito o campeão olímpico de 1992 Rogério Sampaio. Na parte técnica, outro judoca, Sebastian Pereira tem um cargo importante, enquanto no marketing, a diretora é Manoela Penna, que por anos trabalhou com a CBJ.
A princípio, nada muda nos principais cargos dentro do COB. Mas, na parte política, Paulo Wanderley deve sofrer muitos ataques nos próximos anos, e terá que se defender fazendo um trabalho melhor à frente da entidade.
Por Guilherme Costa — São Paulo / Globoesporte.globo.com