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Ainda sou (reserva). Não (tenho esperanças de ser titular).

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Muito além do futebol, Michael celebra vida renovada no Flamengo: “Às vezes, quem mais ri é quem mais sofre!”

Uma das principais esperanças na final da Libertadores, atacante fala sobre recuperação de quadro de depressão, “dribles que nem ele mesmo sabe” e se vê reserva no time de Renato

O sorriso sempre esteve ali. A alegria não. O talento sempre esteve ali. O desempenho não. O fantástico mundo do futebol sempre esteve ali. O equilíbrio na vida real não.

Os gols e dribles desconcertantes garantiram a Michael o posto de xodó da torcida do Flamengo, mas o atacante irreverente que vive a expectativa da final da Libertadores tem muito mais a comemorar no próximo sábado em Montevidéu. O Palmeiras é somente um rival a mais para quem carrega em gestos e palavras a vitória sobre a depressão.

Michael é o artilheiro do Flamengo no Brasileirão, com 13 gols — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Michael é o artilheiro do Flamengo no Brasileirão, com 13 gols — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Uma das armas de Renato Gaúcho na busca pelo tricampeonato da América, Michael é daqueles que trocam clichês por respostas surpreendentes em uma entrevista. Tanto que, em bate-papo com o ge, deixou claro: não se vê como titular se Arrascaeta, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabriel estiverem à disposição. Postura de quem enxerga um jogo de futebol como apenas mais uma oportunidade de se divertir, seja por um ou 90 minutos.

O jeito “maluco”, como ele mesmo se define, não esconde a personalidade forte de quem encara os problemas da vida com mais consciência do que encara os zagueiros:

“Do nada, faço um trem que nem eu sei e acontece. Quando o cara está confiante, faz coisas que nem ele sabe. Se eu nem sei para onde vou cortar, como o marcador vai saber?”

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Veja lances de Michael no jogo 100 dele pelo Flamengo

Quando fala de desafios da vida real, Michael aprendeu o que fazer conscientemente. Depois de superar seus próprios fantasmas, como revelou no podcast “Barbacast”, usa a representatividade para ligar o alerta para quem sofre com transtornos como depressão e ansiedade:

“Venci, graças a Deus! Tomei remédio? Tomei. Mas venci. Hoje, sou um cara um pouco diferente, mas com o mesmo carisma e amizade que eu sempre tive. Às vezes, quem mais sorri é quem mais sofre, mas sofre calado”

– Sou grato a Deus, ao clube, aos meus médicos, minha mulher… Estava naquela época do “fique em casa” e eu trancado. Eu sou hiperativo, estava ficando doido. E Deus me ajudou. Depois de tudo isso, viver esse momento é maravilhoso.

Michael em ação no Morumbi contra o São Paulo: destaque absoluto — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Michael em ação no Morumbi contra o São Paulo: destaque absoluto — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Em 20 minutos de conversa divertida, mas não menos séria, Michael falou sobre a boa fase, a origem do bordão “quando está feio, esquece”, a recuperação do equilíbrio entre corpo e mente e das expectativas para a final da Libertadores. Flamengo e Palmeiras disputam o título mais importante das Américas no sábado, às 17h (de Brasília), no estádio Centenário, em Montevidéu.

Confira a íntegra da entrevista:

Ansiedade para decisão

– Sempre sonhei em disputar a Libertadores e estou feliz pela primeira oportunidade de disputar a final. Claro que fico apreensivo querendo que chegue o dia, mas não podemos esquecer o Brasileiro. Foco em cada partida, porque o amanhã pode não existir. Tenho que aproveitar o hoje para chegar ao dia 27 inteiro e bem.

Tem chances de ser titular?

– Ainda sou (reserva). Não (tenho esperanças de ser titular). Primeiro, por ser um cara que respeita muito os companheiros. Respeito a história e o futebol que cada um tem. Estou aqui para agregar, para acrescentar. Vou dar o meu melhor, seja um minuto, 10, 45, 90… Nunca quis menosprezar e ser melhor que os outros. Quero contribuir. Claro que sei da importância que tenho para o grupo hoje, mas sei também dos meus companheiros e mantenho meu pensamento.

“Hoje, eu sou reserva dos quatro melhores atacantes do Brasil. Ah, mas tem melhor? A minha opinião é que eles são os quatro melhores. Eu trabalho para um dia ser como eles ou até melhor, mas sabendo respeitar e trabalhar”

Causas do bom momento

– Fé! Se não fosse a fé em Deus, acho que não teria conseguido. O Flamengo como um todo, comissão, jogadores, torcida… Sempre recebi críticas, ficava chateado com algumas, outras não. Sempre discernia a boa e a ruim, a construtiva e a destrutiva. E nunca abaixei a cabeça. O carinho que esse clube aqui depositou em mim, junto com minha fé e dedicação, me permitiu entregar o melhor. Não sou um cara que pensa individual, penso coletivo. Quero ganhar par ou ímpar ou Libertadores, mas respeitando a todos e os momentos ruins. Nunca vou errar querendo errar, eu quero acertar. De tanto querer acertar, às vezes vou errar. Pode ter certeza que vou tentar do minuto 1 ao 90. Esse é meu diferencial. Não coloco a dúvida na cabeça. Se eu errar, ligo o f… e vou embora.

Importância de Renato Gaúcho

– O ponto de vista tático é o mais simples. Ele diz o que eu tenho que fazer, pede para eu ficar aberto, movimentar, não ficar impedido, se posicionar melhor, finalizar melhor… Isso é o simples. Mas eu sempre tive isso e em toda minha carreira tentei fazer o que faço hoje. Precisamos de confiança, de incentivo. Por isso, sempre falei do Filipe, dos Diegos, do Gerson, que me mostravam o que fazer, incentivavam… Tudo o que precisamos é de confiança. Às vezes, dou dribles que nem sei o que fiz. Me perguntaram do gol contra a Chape. Eu nem vi o gol, gente. Do nada, faço um trem que nem eu sei e acontece. Quando o cara está confiante, faz coisas que nem ele sabe. Se eu nem sei para onde vou cortar, como o marcador vai saber?

Quando está feio…

– O Gabi já tinha o dele “quando estou loiro, esquece”. E, no campo, o pessoal fala: “Quando estou de chuteira tal, esquece!”, “Quando estou de cabelo cortado, esquece!”. Todo mundo falando qualidades. Eu olhei para mim e pensei: “Cara, não sou bonito, não tenho jeito de jogador, minha cara está mais para malandro do que atleta. Vou falar o quê?”. Aí, começaram a me chamar de feioso, e eu falei: “Quando estou feio, esquece!”.

Michael brinca com Léo Pereira e faz careta — Foto: Reprodução

Michael brinca com Léo Pereira e faz careta — Foto: Reprodução

Depressão

– Depressão no meio do esporte é a coisa mais natural, mas muita gente não tem coragem de falar. Eu sou meio maluco mesmo, falo as coisas e não estou nem aí. Já passei por muitas coisas na vida, só que tem pessoas que querem se vitimizar, outras não. Pessoas que querem ser espelho, outras não. Tem quem quer falar e quem quer guardar, não se expor. Eu quis falar, não para ser coitadinho, mas para verem que até quem joga no maior clube do Brasil pode sofrer com isso, para que tenham coragem de falar. Às vezes, não falam e isso causa o suicídio, quer ser forte e guardar, e tira a própria vida. O que eu fiz foi contar para todo mundo, explicar para psiquiatra, psicólogo, clube, e todos me acolheram, me abraçaram e fizeram ver muitas coisas diferentes.

Carinho dos companheiros

– Sempre fui amado, mas muitas vezes não entendemos e passamos por dificuldades emocionais que precisamos expor. Não é só isso aqui, é o todo, é um montão de coisas que vão juntando e geram isso. Aprendi a me amar, me respeitar, me valorizar. Eu amava e fazia mais para os outros do que propriamente para mim. Isso me ajudou muito.

Sonho da vida do Micha?

– Pretendo parar de jogar bola com 33, 34 anos, e depois disso fazer missões. Ajudar crianças, casas de recuperação, orfanatos… São coisas que eu já faço. Criamos uma marca chamada Exu Adonai, que é voltada para casas de recuperação. Todo dinheiro é revertido para esse objetivo. E meu maior sonho é esse: quando parar de jogar bola, ajudar essas pessoas.

Por Cahê Mota, Ivan Raupp e Raphael de Angeli — Rio de Janeiro

Ge.globo.com

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