Esporte
Aline Pellegrino é a Coordenadora de Competições Femininas da CBF
Calendário confirmado, proposta de torneios regionais e o fim do legado da Copa: Aline Pellegrino projeta 2021
Coordenadora de competições femininas da CBF aponta Brasileiro feminino A1 para começar em 28 de março, salienta importância de lançar novas competições e comenta ideia de disputas como Rio-SP, Sul-Minas, Copa Nordeste. CBF Social desenha projeto para levar futebol feminino às escolas
O ano de 2020 terminou, o calendário do futebol feminino do ano ainda tem disputas por acontecer nas semifinais da Série A2, mas a CBF não para e já projeta as datas de 2021. Ou melhor, Aline Pellegrino não para. A coordenadora de competições femininas da entidade já tem as disputas para este ano desenhadas e as datas previstas. A princípio, o Brasileiro feminino Série A1 começa em 28 de março, data limite para o encerramento dos estaduais de 2020.
– A gente deixou a possibilidade dos estaduais até o dia 28 de março, o que basicamente deve ser quando começa nossa competição da Série A1. Então liberalmente o calendário de 2021 começa a partir do final de março, pode ter uma ou outra situação ali antes pontual, mas, assim, esse 2021 é engraçado porque a gente reclamava do calendário de 2019, em 2020 ele tinha melhorado e aí “mas ele não estava 100%” e hoje a gente se dá ao luxo de falar que tem muita competição acontecendo. Por que antes na minha época a questão de data Fifa não dava problema? Porque não tinha clube. Passava o ano na seleção e não era um problema. Hoje a gente tem os clubes. Então a data Fifa passou a ser uma realidade dentro do nosso calendário. O calendário estava ajustadinho, vem a pandemia e dá uma chacoalhada. Acho que o calendário de 2021, apesar de ser muito complexo, desafiador, ele está montado – disse Aline Pellegrino ao blog Dona do Campinho.
A preocupação também não é somente assegurar um calendário nacional. Aline Pellegrino salienta que de nada vale ter um Brasileiro forte se os estaduais não acompanham o ritmo. Para ela, o desenvolvimento do futebol feminino no país passa por todos os membros e não somente poucos clubes.
– Não adianta a gente ter competições nacionais muito fortes se a gente não tem os estaduais acompanhando isso. Por exemplo, tem um clube da A1 daquele estado. E os demais? Eu preciso estar preocupada com os demais também. Nosso olhar tem que ser para os demais também. A gente vem passando isso para os clubes. Isso é importante. Acho que é a gente entender que o desenvolvimento do futebol feminino passa por todos e a gente tem que estar buscando o mesmo objetivo – declarou.
Para tentar passar essa mensagem, a dirigente tem se aproximado mais das federações para entender as necessidades e não somente impor regras. O objetivo é que as 27 federações não tenham somente estaduais acontecendo ano a ano, mas que se garanta uma certeza de que serão realizados, planejamento a longo prazo e também calendário para a base nos estados. Além disso, ela quer mais equipes envolvidas, mais do que as quatro obrigatórias para que a competição saia do papel.
– É uma demanda também muito minha tentar buscar junto com as federações, com aquelas que já fui, nesses três meses, já, estar perto do diretor do departamento de competições, entender quais premissas são usadas, por que aquela data, por que aquele formato, muito como ouvinte, consultora, se for preciso. É o que eu costumo dizer. Uma competição que acontece em um mês com quatro clubes ela pode acontecer com quatro clubes em dois meses se ao invés de jogar de sete em sete dias jogar de 10 em 10 dias. Você já deu calendário para essa menina, você já deu condição do clube ter um contrato maior. Então, é o detalhe. Você precisa ajustar a forma que é possível em cada lugar. E também quanto confederação é buscar outras estratégias pra que possa atingir as 27 federações. Mas, de novo, é paciência, planejamento de longo prazo, é ir avançando onde dá, manter naquele lugar onde a dificuldade é um pouco maior. Hoje, manter os 27 estaduais adultos já é uma luta. Manter que isso aconteça por um período de 2, 3 anos é extremamente importante. Que daquelas 27, 3 ou 4 consigam avançar um pouco em calendário, um pouco em número de clubes participantes, avançar na base. E isso é para o adulto. Quando a gente pensa em categoria de base a gente não tem 27 estaduais acontecendo. A gente tem muito que avançar, mas é ter paciência de primeiro manter o que já vem acontecendo e fazer com que todos entendam que a partir daí a gente tem que avançar.
Nesse contexto e até mesmo como forma de tornar mais acessível financeiramente a ampliação do calendário, a CBF planeja o lançamento de um novo produto até como forma de chamar atenção da mídia para transmissões e também patrocinadores. Aline Pellegrino pensa em torneios regionais. A ideia seria já desenhar em 2021 para aplicação, talvez, em 2022.
– É um planejamento estratégico quando a gente fala das federações. Como a gente consegue envolver mais as federações dentro do processo de desenvolvimento do futebol feminino. A hora que você pensa em competições regionais cria-se aquele ego. Todo mundo sabe o que é um Rio-São Paulo. Eu assisti muito ao Rio-SP. É algo fácil quando a gente fala de Sul-Minas, quando falamos de Copa Nordeste. É um plano de ação estratégico para que a gente possa cada vez mais ter as federações atuando dentro desse cenário. Só que aí ele passa em que a gente tenha os 27 estados tendo as competições, tendo os campeões para a gente criar um formato que seja de isonomia. A gente está aqui o tempo todo buscando formatos que tragam isonomia. Aí às vezes é hora que a gente não consegue olhar muito pautado nas federações e tem que buscar esse formato de isonomia dentro das nossas competições, que é o que a gente tem um pouquinho de controle ou tem mais controle. Então, claro que dá para achar um formato regional dentro das nossas competições, que é o que a gente vem buscando. Mas eu acho que cabe essa competição, esses torneios porque é algo curto. Acho que a gente precisa ter um novo produto que a gente possa trabalhar ele com um novo formato, com uma outra cara para entregar uma outra plataforma específica. Precisamos ter um novo produto. O principal é a Série A1, mas ela é muito grande, muito cara. Então, como a gente tem algo tão bom quanto em um formato menor? Isso vem sendo trabalhado.
Uma questão, no entanto, passa a ser uma corrida contra o tempo em 2021. A partir de 2022, não haverá mais o valor vindo do legado da Copa, em que parte era destinado ao futebol feminino conforme orientação da Fifa. Aline Pellegrino comenta que o ano será de reflexão sobre o que já foi assegurado e olhar com mais cuidado ao marketing e as competições. Mas ela ressalta a importância de manter a qualidade.
– Desafio muito grande. É o que eu costumo dizer para todo mundo. Hoje todo mundo da cadeia produtiva do futebol feminino, clube, federação, confederação, hoje todo mundo tem investido e é o primeiro pilar para qualquer planejamento de desenvolvimento e de sucesso esportivo. Tem que investir. Depois você vai pensar na base, nas competições até ter a visibilidade e esse retorno começar a voltar. Essa questão do legado da Copa é extremamente importante, esses três anos no formato que foi dividido e construído. E aí eu acho que o final de 21 é para olhar para trás e pensar: “de tudo que a gente havia planejado, quais recursos a gente atingiu, quais não? O que a gente precisa manter? O que a gente precisa mudar?”. Obviamente a gente já internamente aqui junto ao departamento de competições, marketing, já vem trabalhando e correndo. A gente precisa em 2022 manter a qualidade. E manter a qualidade não quer dizer que ter um número menor de clubes é pior. Ela pode ter feito um ajuste técnico, criar uma outra divisão. Esse 2021 vai ser um momento de olhar para tudo que foi feito, ver como a gente vai ajustar dentro de 2022 para que a gente mantenha qualidade, mantenha o nível e mantenha o investimento – disse a coordenadora de competições femininas da CBF.
Uma boa notícia vem também do CBF Social. O braço da entidade estuda montar ao lado do governo federal um projeto para levar o futebol às escolas e o futebol feminino está inserido nesse pensamento. A ideia está sendo cuidada pelo gerente de Desenvolvimento Técnico, Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Confederação Brasileira de Futebol, Diogo Netto.
– A gente tem muitas frentes. Eu costumo dizer e a Duda aqui também é muita coisa, é muita demanda. Nossa chegada gera ainda mais coisa. E assim: o que é mais importante? A gente é garçom segurando 30 coisas. E tudo é importante. No final do dia, o “cliente” tem que sair dali feliz, satisfeito sem a gente ter derrubado um copo, sem o pedido ter demorado. São muitas demandas, muitas reprimidas do futebol feminino ao longo desses 40 anos. Então também temos tentado ser estratégicas. Se não daqui a pouco a gente está abraçando o mundo e não conseguindo fazer nada. A gente tem dentro da CBF o braço do CBF Social e que tem várias possibilidades. É uma demanda que vem muito do CBF Social e óbvio tanto o departamento de seleções com a Duda e o departamento de competições está tudo “linkado”. A gente vem conversando juntos todo mundo e tem tentado não deixar passar nenhuma oportunidade ou possibilidade em nosso projetos. Isso foi trazido por Diogo Neto, que é quem está mais à frente do CBF Social. Tem muito projeto na mesa da Pelle, na mesa da Duda, na mesa do Diogo. Projetos que já estavam na CBF. Hoje o futebol feminino dá força para que a coisa aconteça. Eu sempre acredito que o futebol feminino é um piloto. Falo que quando é projeto novo vamos começar pelo feminino porque a gente tem total condição, mais flexibilidade de replicar e depois falar que foi um case de sucesso. A questão é a gente ter paciência e ir colocando cada projeto no seu tempo, na hora certa para andar.
Veja outras respostas de Aline Pellegrino:
VAR em 2021
– Sim, isso é uma responsabilidade. Tudo o que a gente entregou agora nessa segunda fase para o ano que vem a gente manter para a segunda fase e tentar de alguma forma replicar em determinados momentos da primeira fase. Assim, temos um clássico gigante na terceira rodada. Obviamente que o VAR não dá para replicar, por uma questão de isonomia, agora, como a gente replica a grande arena, como replicamos o envelopamento melhor, como replicamos a craque da partida para as competições, em quais competições. Isso é uma busca. A gente mantém na segunda fase e mais em cinco momentos da primeira fase. No outro ano a gente mantém na segunda fase, em cinco momentos, daqui a pouco isso virou uma coisa perene que vai estar na competição toda.
Objetivo a curto prazo e custo dos protocolos do Covid em 2021
– Se eu for pensar em um objetivo a curto prazo, sem olhar o cenário, seguimos em uma pandemia, seguimos com dificuldades, é ter esse novo produto. Cabe a gente ter um novo produto, dar uma nova chacoalhada no mercado, dar uma nova chacoalhada nas TVs, quem vai cobrir, quem não vai. Alguma coisa nova. Alguma coisa nova ela não tem dono. O objetivo de curto prazo seria esse o cenário ideal. O cenário de pandemia atrasa um pouco. Hoje quando a gente olha para 2021 cheio a gente tem que repensar em replicar tudo que a gente fez esse ano no sentido da comissão médica, das testagens, desse controle e tudo isso é um custo que a CBF vem absorvendo. Óbvio, tem um programa da Fifa que ajuda, mas são todas as competições do Brasil inteiro em todas as categorias. É uma demanda importante do departamento de competições junto com a comissão médica com a premissa do presidente Rogério (Caboclo) em dar essa segurança. Hoje a gente olha para 2021 e enquanto não tivermos a vacina precisamos seguir muito os protocolos e entender qual momento essas competições vão retornar. Talvez a gente tenha que apertar, o protocolo ser mais rígido ou mais flexível. Olhando para 2021 muita atenção em qual vai ser o protocolo que a gente vai ter que colocar e manter e sabendo que é um compromisso que a gente tem que fazer. Não fosse isso talvez as competições femininas a gente talvez não tivesse conseguido ter a manutenção como teve esse ano A1, A2, sub-16 e sub-18.
Copa Intercontinental
– O objetivo é sempre ter a nossa competição A1 mais forte. Ter o campeão, vice, terceiro quando abre essa vaga indo disputar Libertadores para ser favorito e ser campeão. Então, a gente quer sempre o Brasil campeão e não podemos abrir mão disso. Ter uma competição forte aqui faz com que esses clubes cheguem cada vez mais preparados. Ter final sempre de brasileiros. Nesse caso a gente tem que tentar sempre trazer tudo para debaixo da nossa asa. A hora que acontece um novo torneio como esse a gente que tem que estar nessa festa.
– Precisa entender como vai ser esse primeiro formato e como a Conmebol e Uefa estão construindo. Tendo a possibilidade de ser aqui é extremamente rico e todo mundo quer ver um europeu jogando. A gente como CBF está sempre à disposição para unir forças com Conmebol, Uefa para que o futebol feminino tenha novos patamares
Por Cíntia Barlem
Jornalista e comentarista de futebol feminino do Grupo Globo
Globoesporte.globo.com