Esporte
Amanda Nunes: o que falta para o estrelato da brasileiro no cenário mundial?
Toca da Leoa: o que separa Amanda Nunes do hall das grandes estrelas do UFC
Com números gigantes, cinturões e qualidade acima do normal no MMA, brasileira foca no octógono, se fecha para mundo business e luta contra preconceitos
Pergunte a qualquer apaixonado pelo MMA: “qual o tamanho de Amanda Nunes como lutadora?”. A resposta vai ser a mais positiva e empolgada possível. E com justiça: a “Leoa” é a atual dona do cinturão das categorias galo e pena do UFC, com resultados expressivos na carreira.
Mas a qualidade técnica, diversas vezes comprovada, encontra resistências que travam o “boom” da brasileira para além dos córneres do octógono. E quais os motivos para Amanda ainda não ter conquistado espaços ocupados, por exemplo, por Ronda Rousey no auge da carreira? O que faz uma campeã já histórica ter um alcance limitado?
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Amanda Nunes: o que falta para o estrelato da brasileiro no cenário mundial? — Foto: Info Esporte
MARKETING EM SEGUNDO PLANO
Amanda saiu de Pojuca, no interior da Bahia, para fazer história. E a escreveu toda dentro do cage. Lá enfileirou adversárias de peso e tornou-se a primeira mulher campeã de duas categorias do maior evento da modalidade. Assim ganhou merecida relevância. Mas o próximo passo na escalada para o hall das lendas não depende apenas da trocação insana.
Na grande vitrine do Ultimate o crescimento é medido por resultados e também pelo poder de engajamento das marcas – no caso, os lutadores. Praticamente irretocável no primeiro quesito, a Leoa, por opção própria, não abraça o marketing.
Amanda é discreta e pouco trabalha o nome fora dos eventos. Ao longo da trajetória, não escondeu que o foco era ser a melhor de todos os tempos. Teve êxito – mas quase sempre em silêncio. Superou as adversárias nos confrontos diretos, contudo deixou pelo caminho inúmeras oportunidades de traduzir o domínio em um número ainda mais maciço de fãs, dentro e fora do mundo do MMA.
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Amanda Nunes com os cinturões peso-galo e peso-pena do UFC — Foto: Jason Silva
De fato, a brasileira viu o número de seguidores crescer durante o tempo: eram cerca de 30 mil no Instagram no dia 9 de julho de 2016, quando conquistou o cinturão dos galos contra Miesha Tate. Hoje, ultrapassou a marca de 1,1 milhão. Significativo, claro, porém nem tanto se comparado ao universo da organização. O reflexo aparece nas vendas de pay-per-view e quantias recebidas por luta aquém em relação a outros nomes.
A diferença fica mais clara se compararmos o alcance da brasileira com duas potências do Ultimate:
- Ronda Rousey – já derrotada por Amanda – não esqueceu do desempenho e foi dominante durante muito tempo, mas aproveitou a onda para vender a imagem. Virou ícone, mergulhou em outras áreas, ganhou o mundo (ultrapassou 11 milhões de seguidores) e fez do sucesso a oportunidade ideal para escancarar as portas do MMA para as mulheres, tudo com os holofotes lado a lado.
- Conor McGregor teve ascensão meteórica. Fez do marketing pessoal, recheado de trash talk, a primeira grande arma. Com muita qualidade, bancou o que prometeu e chegou ao cinturão. Assim como Amanda, conquistou dois de forma simultânea, mas entendeu a necessidade de crescer em outras áreas. Mesmo apenas na oitava colocação no momento no ranking peso por peso entre os homens, virou indiscutivelmente a cara do UFC e ganhou legião de fãs – são mais de 36 milhões nas redes sociais.
Amanda defendeu o cinturão dos galos pela primeira vez contra Ronda Rousey — Foto: John Locher / AP
RELAÇÃO COM A IMPRENSA
O estilo mais reservado restringe o espaço de Amanda Nunes nos principais veículos especializados em MMA pelo mundo. Mesmo em alta e objeto de desejo da mídia, a Leoa prefere entrevistas pontuais e espaçadas. Mais se ouve a brasileira de 32 anos nos eventos oficiais do Ultimate ou no microfone de Joe Rogan ainda no octógono após as vitórias.
A carreira é trabalhada em família. A assessoria, feita pela irmã, Val Nunes, que conhece as preferências de Amanda. Em mais de uma ocasião, procurada pela reportagem do Combate.com, por exemplo, a lutadora evitou qualquer tipo de contato. Foram poucas e fechadas com muito esforço as oportunidades para matérias mais produzidas, como a gravação para o Fantástico em férias no Brasil.
O próprio MMA brasileiro já deu mostras de como o clichê “quanto mais se é visto, mais se é falado” vale no dia a dia da profissão. Em 2011, Anderson Silva, campeão e invicto há mais de quatro anos à época, fechou parceria aos 35 anos com a “9ine”, empresa do ex-jogador Ronaldo, para gestão de imagem e captação de patrocínios, com o objetivo de impulsionar ainda mais uma marca já consolidada.
LUTA CONTRA OS PRECONCEITOS
Amanda e a noiva Nina Ansaroff vivem expectativa pela chegada da primeira filha — Foto: Jason Silva
De personalidade forte, a Leoa trata com muita naturalidade as escolhas. Numa sociedade com problemas enraizados, enfrenta dois tristes obstáculos no caminho: a homofobia e o machismo.
Amanda Nunes é noiva de Nina Ansaroff, também lutadora do UFC. Faz questão de aparecer e citar a importância da parceira em todas as ocasiões, tornando-se assim uma importante bandeira no movimento contra a homofobia, principalmente pela posição de destaque conquistada. O casal espera, agora, o nascimento da filha, Raegan.
Desde muito jovem, ainda em Salvador, quando buscou os primeiros passos no MMA, a brasileira convive em um universo dominado pelos homens. As barreiras vão sendo quebradas lentamente ao longo dos anos – com mais força desde a explosão de Ronda Rousey no cenário -, mas ainda é raro ver lutadoras figurando entre rankings de maiores nomes de todos os tempo, mesmo com resultados mais relevantes, como na lista montada recentemente por Conor McGregor.
CARREIRA LONGE DO BRASIL
Amanda Nunes na fazenda da família no Brasil — Foto: Ana Hissa
Amanda guarda com carinho as origens no interior da Bahia, em Pojuca, ao lado da mãe Ivete e das irmãs. O sonho de ser uma gigante do esporte obrigou a lutadora a deixar a família para trilhar um caminho de vitórias longe do Brasil.
A Leoa mora e treina nos Estados Unidos. Das 13 lutas realizadas no Ultimate, apenas três foram em solo brasileiro – uma delas a defesa do cinturão dos galos contra Raquel Pennington, em maio de 2018. Num paralelo, José Aldo, em 15 compromissos na organização, fez seis em casa e tem a trajetória marcada por treinamentos no Rio de Janeiro, na Nova União.
Pelas raras aparições na mídia, a única campeã brasileira do UFC na atualidade acaba enfrentando um distanciamento com o público local, principalmente os curiosos que não acompanham o esporte com afinco.
Dona do mesmo apetite que a colocou no topo e com família, amigos e fãs na torcida, Amanda volta ao habitat natural neste sábado. A brasileira defende o cinturão dos penas contra Felicia Spencer, em Las Vegas, na luta principal do UFC 250.
O Combate transmite o UFC 250 ao vivo, na íntegra e com exclusividade neste sábado, a partir das 19h20 (de Brasília), com o “Aquecimento Combate”. O SporTV 2 e o Combate.com transmitem o “Aquecimento” e as duas primeiras lutas do card preliminar. O site acompanha todo o evento em Tempo Real.
UFC 250
6 de junho de 2020, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):
Peso-pena: Amanda Nunes x Felicia Spencer
Peso-galo: Raphael Assunção x Cody Garbrandt
Peso-galo: Aljamain Sterling x Cory Sandhagen
Peso-meio-médio: Neil Magny x Anthony Rocco Martin
Peso-galo: Eddie Wineland x Sean O’Malley
CARD PRELIMINAR (19h35, horário de Brasília):
Peso-pena: Alex Caceres x Chase Hooper
Peso-médio: Gerald Meerschaert x Anthony Ivy
Peso-galo: Cody Stamann x Brian Kelleher
Peso-médio: Charles Byrd x Maki Pitolo
Peso-mosca: Jussier Formiga x Alex Perez
Peso-meio-pesado: Alonzo Menifield x Devin Clark
Peso-casado (até 68kg): Herbert Burns x Evan Dunham
Por Igor Rodrigues — Rio de Janeiro / Globoesporte.globo.com