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Braz explica a decisão de não renovar com Dorival Júnior
Marcos Braz diz que Flamengo não se arrepende da saída de Dorival: “Precisava ser trocado”
Em exclusiva, vice de futebol passa a limpo derrota no Mundial e afirma que não continuaria com o ex-comandante, independentemente do substituto
A surpreendente eliminação do Flamengo na semifinal do Mundial de Clubes suscitou a seguinte questão: valeu a pena mexer no comando a cerca de dois meses do início do torneio? Com a palavra, Marcos Braz.
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Em entrevista de 40 minutos de duração ao ge,ao sportv e à TV Globo em Rabat, o vice de futebol garantiu que o Flamengo não manteria Dorival Júnior, independentemente de trazer do substituo.
– Entendo a pergunta, é pertinente, assim como o questionamento da torcida quando os resultados não vêm. O Flamengo, na Libertadores, teve o maior aproveitamento da história de um clube. Ganhou 12 de 13 jogos, e o empate aconteceu em um impedimento de quase um metro, porque não tinha VAR. Temos confiança no grupo, que é vencedor e campeão. A gente tinha aqui dentro uma análise bem clara e bem transparente de que precisava fazer a troca do comando, e assim foi feito. Pode ter tido um ponto fora da normalidade nesse sentido (resultados), mas você tem alguns itens na hora de analisar o que você busca no comando de uma equipe. E a gente entendeu que precisava ser trocado. Foi trocado, e em um segundo momento veio a situação do Vítor Pereira. A gente entendia que teria que ser trocado. É diferente de ser trocado pelo Vítor Pereira. A gente entendia que tinha que ser trocado. Apenas isso – detalhou o dirigente.
Em entrevista de 40 minutos de duração ao ge,ao sportv e à TV Globo em Rabat, o vice de futebol garantiu que o Flamengo não manteria Dorival Júnior, independentemente de trazer do substituo.
– Entendo a pergunta, é pertinente, assim como o questionamento da torcida quando os resultados não vêm. O Flamengo, na Libertadores, teve o maior aproveitamento da história de um clube. Ganhou 12 de 13 jogos, e o empate aconteceu em um impedimento de quase um metro, porque não tinha VAR. Temos confiança no grupo, que é vencedor e campeão. A gente tinha aqui dentro uma análise bem clara e bem transparente de que precisava fazer a troca do comando, e assim foi feito. Pode ter tido um ponto fora da normalidade nesse sentido (resultados), mas você tem alguns itens na hora de analisar o que você busca no comando de uma equipe. E a gente entendeu que precisava ser trocado. Foi trocado, e em um segundo momento veio a situação do Vítor Pereira. A gente entendia que teria que ser trocado. É diferente de ser trocado pelo Vítor Pereira. A gente entendia que tinha que ser trocado. Apenas isso – detalhou o dirigente.
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Questionado se o Flamengo procuraria outro profissional caso não tivesse Vítor no radar, Braz foi enfático:
– Sim.
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Braz lamenta poucas contratações do Flamengo antes do Mundial
Braz ainda emendou que a questão financeira não foi a única a influenciar na decisão pela interrupção do trabalho de Dorival:
– Quando você está dentro de uma negociação, de uma análise de renovação, você analisa o custo-benefício e todos os itens. Se falar para você que teve questão financeira somente, seria muito raso. A gente analisa todos os aspectos, inclusive esse.
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Marcos Braz conversa com o ge em Rabat — Foto: Fred Gomes
Braz abordou também a chegada de Vítor Pereira. O dirigente afirmou que o Flamengo já o conhecia antes mesmo da chegada ao Corinthians e, por isso, o contratou com bastante confiança no sucesso.
– A contratação do Vítor foi com convicção, isso é o mais importante para deixar claro. Não é porque perdemos duas finais que vou mudar meu discurso. O Vítor não é um nome analisado no curto prazo pelo Flamengo. Já conhecia o trabalho, assim como do Jorge Jesus. O Vítor ficou conhecido no Brasil pelo trabalho do Corinthians, mas nós já tínhamos outra análise (inclusive foi um dos avaliados para substituir Renato Gaúcho no início de 2022). É um técnico que já está adaptado ao Brasil, o que contou muito. É profundo conhecedor dos adversários. Achamos que seria um facilitador enorme para um bom trabalho aqui – afirmou.
Dorival em partida pelo Flamengo no Brasileirão de 2022 — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
Marcos Braz admitiu, porém, que o Flamengo arriscou alto ao fazer a troca com o Mundial batendo à porta e diante de um intervalo de 38 dias entre o primeiro treino dado por Vítor Pereira e a estreia no torneio:
– Se eu não soubesse desse risco, não poderia estar no cargo que estou. A gente sabia desse risco. Você não pode imputar somente ao tempo de trabalho o resultado, que não foi o que queríamos entregar. A diretoria do presidente Rodolfo Landim está há quatro anos fazendo muita entrega, bem acima da média histórica (do Flamengo). Foram duas Libertadores, dois Brasileiros, uma Recopa, duas Supercopas. Tínhamos uma expectativa maior de chegar à final de um Mundial. Quando não se chega, evidente que existem os questionamentos. Vamos avaliar o que poderia ter sido feito melhor.
Re
Braz diz que Vítor Pereira foi contratado para toda a temporada do Flamengo
Numa autocrítica, o comandante do futebol rubro-negro reconheceu que poderia ter trazido mais contratações no início do ano.
– Tivemos um calendário atípico em relação a contratações. Entendemos que poderíamos ter sido um pouco mais agressivos no mercado, mesmo trazendo Gerson, que é uma grande contratação. Talvez por ser um ex-jogador nosso, muita gente não entende a dimensão do que foi trazer o Gerson de volta. Ele fez gols, deu assistências e foi muito relevante para a ida do Olympique à Champions. Evidente que a gente quis fazer outras contratações. Temos uma inserção muito grande quando vamos analisar um jogador, e a Copa do Mundo atrapalhou muito. Jogador concentrado, jogador esperando para jogar. E essa é de fato a prateleira em que estão as contratações do Flamengo hoje em dia. A gente teve muita dificuldade nisso – disse, para completar:
– Todo mundo dentro do departamento queria fazer as contratações com jogadores de maior potencialidade para termos um resultado diferente, mas infelizmente não conseguimos fazer com mais contundência. Quando o resultado não acontece, tudo se apresenta com potencialidade no Flamengo. Do mesmo jeito que apareço no pódio, tenho que aparecer agora para dar o mínimo de satisfação aos torcedores do Flamengo.
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Diante desse cenário de dificuldades para contratar e calendário diferente de pouco tempo para quem viesse a substituir Dorival, não seria mais prudente manter o comando anterior?
– Se a gente estivesse fazendo essa entrevista antes, você não seria tão contundente somente nessa pergunta. Apresentar agora um único fato quem se a gente não tivesse feito a troca do Dorival, teria outro resultado, eu acho pouco, acho raso. Temos um respeito enorme pelo Dorival, mas mais uma vez: a gente entendeu que deveria fazer a troca. Internamente tínhamos questionamentos nossos para fazer a troca. Evidente que é um início de trabalho, mas também não temos apenas uma semana de trabalho. Acho que o resultado não aconteceu e nem quero me apegar à arbitragem… Mas trouxeram um árbitro que nunca apitou Copa do Mundo. Foi uma vergonha a arbitragem, foi um absurdo. Não quero usar isso como bengala, mas foi uma vergonha a arbitragem do romeno.
– Mas voltando à pergunta: a gente entendia que era razoável fazer essa troca de comando, pela qualidade do elenco, pela vinda do Gerson.
Depois da disputa do terceiro lugar, o Flamengo tem a Recopa e uma sequência de três clássicos, que sempre influenciam. O quanto esse pacote de jogos mexe nas convicções de vocês?
– A temporada está apenas começando. Infelizmente a gente tinha o torneio de maior expectativa no começo. Mas a gente não trouxe uma comissão técnica para dois jogos. A gente trouxe para a temporada inteira. O Flamengo disputa, no Maracanã, outro torneio internacional. Quero lembrar que o primeiro torneio internacional que o Flamengo ganhou no Maracanã foi com a gente, foi a Recopa. Temos a oportunidade novamente. Temos pedreiras com os times do Rio de Janeiro, que se reforçaram. É vida que segue. Temos que fazer as entregas para a torcida, ter personalidade. Infelizmente, não podemos reverter os resultados que ficaram para trás.
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Há necessidade de reforços?
– O Flamengo tem que se reforçar sempre, estar atento à janela. Precisamos do maior elenco possível, para deixar a comissão técnica com opções durante o jogo. Falar de carência acho que não é razoável. Digo que o Flamengo está atento ao mercado, como sempre esteve. O presidente Landim sempre nos deu apoio, muita força, nos ajudou em todos os processos. A gente está atento e vai ao mercado. E já iria independentemente do resultado aqui.
João Gomes fez falta? Poderiam ter tentado fazer a venda mais à frente?
– Se for pelo resultado do Al Hilal, não. A gente teve dois pênaltis contra em que em nenhum dos dois o adversário tinha a posse da bola. Com 46 minutos do primeiro tempo, temos um jogador expulso por segundo amarelo, sendo que o primeiro foi uma vergonha. Se analisar somente esse jogo, o João Gomes não poderia ter ajudado tanto. Agora, o João Gomes durante a temporada, claro, iria nos ajudar. E é um dos motivos pelos quais iremos ao mercado.
Braz fala sobre a liderança de Gabigol no Flamengo
O quanto acha que essa derrota deixa pedras no caminho do Vítor Pereira?
– A derrota deixa pedras no caminho de todo mundo, inclusive no meu, mesmo com todos os títulos que a gente conquistou. Essa pergunta só poderá ser respondida um pouco mais na frente, com a entrega de toda a temporada. Está muito cedo para abordar esse tema de maneira rasa.
Em outras entrevistas, você disse que não gosta de trocar treinadores (o Flamengo está no oitavo desde 2019)…
– Tenho pavor disso.
Acha que o Flamengo tem a chance de mostrar maturidade e dizer: “Temos convicção e vamos seguir independentemente de resultado?”
– O Flamengo, nos últimos quatro anos, ajudou a quebrar alguns paradigmas no futebol brasileiro. Esse é um grande momento. (E não fazer de) Em toda derrota colocar em cima de uma pessoa, de um técnico. Trocar técnicos com tanta facilidade. Tomara que a gente quebre esse paradigma também, como fizemos com os técnicos estrangeiros.
Vítor Pereira em ação no jogo do Flamengo no Mundial — Foto: REUTERS/Andrew Boyers
Vocês definiram a saída do Dorival em 25 de novembro e sabiam que VP só assumiria o time na primeira semana de janeiro. Julgavam suficiente o tempo para adaptação para o Flamengo fazer um Mundial competitivo?
– A partir do momento em que a gente fez essa troca, sim. Se perguntar se é o ideal, talvez não. Mas tivemos tranquilidade para fazer essa troca, como a gente fez.
Mas não há nada que vocês possam abrir sobre os motivos que pesaram para a troca, sejam eles financeiros, técnicos, táticos ou físicos?
– Não dá para abrir.
Boletim do Flamengo: Fred Gomes traz o clima pós-eliminação no Mundial de Clubes
O Flamengo tem sempre mirado jogadores de Copa do Mundo. Falta tentar mercados periféricos ou os países vizinhos da América por soluções com atletas menos badalados? No momento, por exemplo, o Flamengo carece de um volante de pegada como o João Gomes.
– Teoricamente o Ayrton Lucas não era badalado. Pouca gente conhecia. Teve uma boa passagem no Fluminense, foi para fora. A gente trouxe. Pulgar não era badalado. O Flamengo não faz essa análise em cima de contratação, de badalado ou não. Acontece que, com essa loucura do futebol midiático, os melhores jogadores têm essa exposição. Temos por exemplo o Pedro ou Gabigol, que não deixamos de contratar porque têm mais inserção na mídia. Isso não quer dizer que não olhemos para outros mercados internos e para o sul-americano. Acabamos de contratar o goleiro do Boca Juniors, que só ficou um pouco mais badalado depois de cruzar com o Corinthians. A gente contrata em cima de convicção, em cima de análise do scout, é um processo interno muito grande.
O Flamengo não mira tanto o mercado sul-americano por conta da questão de impostos?
– Quando é possível, a gente contrata, como fizemos com o goleiro do Boca. É um goleiro sul-americano, contratado na Argentina. Quando temos a convicção, a gente contrata. Se você analisar os jogadores que nesses quatro anos o Flamengo colocou dinheiro em contratação vai ver que o acerto foi bem grande, independentemente dos títulos ou não. É muito maior do que a média em todo mundo. Isso é o trabalho de todo o departamento.
Como resolver a questão anímica e mental do elenco depois de perderem um título que a torcida estava louca para conquistar e que imaginamos que o grupo de jogadores também?
– A torcida estava louca para ser campeã do mundo, assim como todos nós aqui dentro. Respeito muito a posição e o esforço da torcida enorme de vir para cá e gastar dinheiro. Deixa de fazer outras coisas para vir a um evento como esse. Mas eu também tinha dois filhos chorando na arquibancada, igual à toda tristeza que estava no vestiário. É bom deixar claro: o resultado não veio, e está todo mundo aqui muito chateado, muito triste. Tem muitos profissionais aqui, mas que passam por esse processo de tristeza.
Marcos Braz em conversa com o ge no Marrocos — Foto: Fred Gomes
E as conversas para recuperar o grupo? Quem pediu a palavra?
– Isso já começou a ser feito no vestiário após o jogo. Duas ou três pessoas falaram no vestiário, todos no norte dessa sua pergunta. Todos. Jogadores, dirigentes, comissão técnica. Foi algo natural.
Há novas lideranças nascendo?
– Em momentos como esse você tem que se superar. Podem aparecer novas lideranças. O Flamengo, quando chegou aqui, tinha suas lideranças. Não é por conta do resultado que elas vão mudar no dia seguinte.
O vídeo do “Real Madrid, pode esperar” voltou após a eliminação. Você se arrepende?
– A melhor resposta quem deu foi um jogador do Real Madrid. Um momento de euforia, de alegria, se faz uma brincadeira ou outra. Não foi um desrespeito, nada. Foram 20 minutos depois de ganhar a terceira Libertadores da América. O futebol está ficando muito chato, falo isso em toda oportunidade que tenho. Não foi uma brincadeira desrespeitosa. O futebol é isso. Quando outros times ganharam, também fizeram brincadeiras. Tem que ser preservado, com respeito. Futebol tem essa magia, é um esporte coletivo diferenciado, em que o pior pode ganhar do melhor.
Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, disse que se surpreendeu com a queda do Flamengo. Como recebeu isso?
– O Ancelotti, um treinador dessa envergadura, falar isso, é porque tem um entendimento da qualidade do grupo do Flamengo. Mas futebol é isso. A gente não gostaria que fosse assim, gostaria de ganhar sempre, mas temos que dar as explicações nessas horas adversas, tem que expor. Não gostaríamos, mas faz parte do processo. Por isso estou aqui, para falar com a torcida do Flamengo. Não me incomoda nenhum tipo de questionamento. Mas gostaria de estar dando essa entrevista com um resultado diferente.
Por Eric Faria e Fred Gomes — Rabat, Marrocos
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