Esporte
Copa América, os jogadores da Seleção preparam um manifesto
Brasil usa três formatos para vencer o Equador e faz de Paquetá um “volante” decisivo
Meio-campista se destaca ao ser recuado por entrada de Gabriel Jesus e oferece a Tite nova alternativa após seus “cinco atacantes” serem neutralizados
Sem mudanças radicais no sistema tático, o 4-4-2, a seleção brasileira fez ajustes ao longo do jogo para vencer a quinta partida consecutiva nas eliminatórias. Sutis, mas fundamentais. Lucas Paquetá, por exemplo, atuou em quatro posições diferentes. Numa delas, que podemos chamar de segundo volante, conseguiu acelerar, pressionar e se tornar fator de desequilíbrio.
O mundo do futebol sabe que, desde novembro de 2019, o Brasil ataca no 2-3-5: os dois zagueiros; à frente deles, o lateral-direito alinhado aos dois volantes; mais adiantados entre as linhas de marcação do adversário, empurrando-as para trás, o lateral-esquerdo, o meia mais criativo e os três atacantes. No Beira-Rio, essa formatação não funcionou por algumas razões.
Destaquemos duas:
Alex Sandro não é Renan Lodi. Não tem a naturalidade do lateral-esquerdo do Atlético de Madrid para disparar e atuar em profundidade, aproveitar o corredor e permitir que a Seleção se avolume na área adversária com sua chegada ao fundo. Alex Sandro é bom, tanto melhor com outras atribuições, mais conectadas aos companheiros da linha defensiva.
Espertamente, Gustavo Alfaro, técnico do Equador, congestionou o espaço que se abriu entre os jogadores que fazem a saída de bola e os que avançam, dividindo a Seleção de Tite em dois blocos distantes. Enner Valencia e Mena fecharam os passes de Militão e Marquinhos, a linha de meio-campo se adiantou e o Brasil só conseguiu jogar quando roubou a bola no campo de ataque – um ponto positivo durante toda a partida.
Aos poucos, Tite e seus auxiliares corrigiram defeitos, adaptaram situações, abriram mão do 2-3-5, e o Brasil, que jamais perdeu o controle da situação, se tornou mais incisivo.
Jogadores da seleção brasileira comemoram gol sobre o Equador — Foto: Diego Vara/Reuters
Sem a bola, inicialmente Neymar e Gabriel Barbosa tinham mais liberdade à frente. Atrás deles, a linha de quatro tinha Fred pela esquerda e Richarlison pela direita, com Casemiro e Paquetá centralizados. Tão logo o time recuperava a bola, Paquetá desgarrava e se juntava ao bloco mais ofensivo, enquanto Fred vinha para dentro, próximo a Casemiro.
Ainda durante a etapa inicial, o Brasil alterou essa configuração. Richarlison veio para a esquerda, Paquetá passou a ser um meia que flutuava da direita para dentro, com Casemiro e Fred marcando centralizados. Isso tirou Alex Sandro da profundidade e o trouxe para dar mais suporte à saída de bola.
A equipe melhorou, mas continuou dependente da pressão ofensiva. Gabriel Barbosa ofereceu aos companheiros as inúmeras possibilidades de passe habituais no Flamengo, mas teve momentos de afobação, naturais para quem não era titular da Seleção há cinco anos.
O artilheiro insistiu em passes de primeira, mesmo quando não havia ninguém próximo. Livrou-se da bola. Dentro da área, foi perigoso como sempre, tendo, inclusive, um gol anulado.
A cartada decisiva para transformar o controle em chances criadas foi a entrada de Gabriel Jesus no lugar de Fred, de atuação irregular. O Brasil passou a ter dois atacantes pelos corredores laterais – Jesus na direita e Richarlison pela esquerda – e Paquetá por dentro, mas não espetado como no início, e sim mais recuado, vendo o jogo de frente.
Na pressão, Paquetá roubou a bola, que chegou a Neymar, depois a Richarlison e à rede de Domínguez: 1 a 0. O meia do Lyon também acelerou o jogo em retomadas do seu campo.
O Brasil só não aumentou logo porque a bola, extremamente obediente a Gabriel Barbosa no Flamengo, resolveu ser caprichosa em duas finalizações do centroavante: uma defendida pelo goleiro e outra que fugiu da rede, por pouquíssimo.
Neymar, de pênalti – sofrido por Gabriel Jesus, em jornada reduzida, mas muito boa –, confirmou mais três pontos de uma Seleção que vence e vence, mas não alcança a paz absoluta, graças às peripécias dos presidentes da CBF: os antigos, os antigos que ainda são atuais, o atual e os que desejam ser os próximos.
São Paulo /GE.com
Jogadores da Seleção preparam manifesto sobre Copa América e querem evitar politização
Grupo se reúne em concentração em Porto Alegre para elaborar texto
Em silêncio desde o início da semana, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa América, os jogadores da Seleção preparam um manifesto para externar a posição do grupo a respeito da disputa do torneio em meio à pandemia de Covid-19.
Além de esclarecer informações e boatos que vêm sendo divulgados nos últimos dias, os atletas pretendem afastar a conotação política da decisão deles. Na visão dos jogadores, disputar ou não a Copa América não significa um ato de apoio ou protesto contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, ou ao presidente da CBF, Rogério Caboclo.
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Eles acompanharam posicionamentos diversos em redes sociais e perceberam avaliações polarizadas entre apoiadores da competição e quem defendia o cancelamento do torneio.
Jogadores da Seleção comemoram gol sobre o Equador com Tite — Foto: Lucas Figueiredo / CBF
A ideia é também mostrar união entre os atletas e todo o grupo de trabalho de Tite. Apesar de os jogadores mais experientes liderarem as conversas e a abordagem ao presidente Rogério Caboclo, todos participam das discussões internas.
O texto começou a ser preparado ainda antes da partida contra o Equador (confira os melhores momentos da vitória por 2 a 0 no vídeo amais abaixo), na concentração da Seleção em Porto Alegre. A data de publicação da nota ainda não foi definida, mas a tendência é que isso ocorra na terça-feira, após o duelo contra o Paraguai, em Assunção, pelas Eliminatórias.
Os jogadores da Seleção estão insatisfeitos com a forma como o presidente da CBF conduziu o tema junto ao elenco. Caboclo esteve na Granja Comary no domingo e em nenhum momento tratou da possibilidade de transferência da Copa América para o Brasil, o que se consumou na manhã do dia seguinte.
Também causou mal-estar, inclusive na comissão técnica da Seleção, o fato de nenhum dirigente ter se pronunciado publicamente sobre a transferência da competição para o País. Eles se sentiram expostos com a situação.
Desde então, as três entrevistas coletivas de jogadores que estavam previstas foram canceladas.
Depois da vitória brasileira sobre o Equador, o capitão Casemiro disse que “todo mundo sabe” o posicionamento dos atletas, sem explicitar o que lhes incomodava.
Alguns jogadores do Brasil – liderados por Neymar – procuraram atletas de outros países para discutir um boicote à Copa América. Apesar dos problemas da competição, outros jogadores de seleções lembraram que existe compromisso em jogar, o que acarretaria consequências e prejuízos financeiros também àqueles que não são tão bem renumerados quanto às estrelas do futebol europeu.
Segundo o zagueiro Arboleda, do Equador, o tema está sendo tratado por capitães das seleções. O defensor que atua no São Paulo disse ainda que é um “momento muito difícil” para o Brasil realizar a Copa América.
A seleção segue em Porto Alegre até a próxima segunda-feira, quando embarca para Assunção. A programação prevê que, depois do jogo no Paraguai, o grupo siga reunido para a disputa da Copa América. A estreia está marcada para o dia 13, no Nilton Santos, contra a Venezuela.
Por Bruno Cassucci, Daniel Mundim, Martín Fernandez e Raphael Zarko — Porto Alegre e Assunção
Globoesporte.globo.com