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Empresas aplicam golpe prometendo reduzir juros de empréstimos já feitos e ainda devolver parte do dinheiro

Com uma câmera escondida, produtor do Jornal Nacional foi a uma empresa que oferece esses serviços no ABC Paulista. A atendente disse que a revisão dos juros tem aprovação do Banco Central, mas a instituição nega.

Empresas estão prometendo reduzir juros de empréstimos já feitos e ainda devolver parte do dinheiro, mas quem contratou o serviço denuncia: é golpe.

O escritório da AVT Prime Soluções Financeiras fica em Santo André, no ABC Paulista. A empresa promete reduzir juros e até devolver valores pagos em financiamentos. Com uma câmera escondida, o produtor do Jornal Nacional foi até lá. A atendente diz que a revisão dos juros tem aprovação do Banco Central do Brasil.

“A gente entra dentro da plataforma de recálculo bancário do Banco Central. Aí, a gente coloca todas as informações do seu contrato e eles fazem a análise. E aí conseguem verificar se existem juros abusivos. As parcelas que foram pagas com abusividade, você recebe o estorno”, afirma uma funcionária.

E dá até prazo:

“De 30 a 45 dias úteis para fazer toda a regularização do contrato”.

O produtor do JN usou o carnê de um parente para pedir uma simulação. Em seguida, outra mulher vem com um símbolo do Banco Central.

“Consta aprovada, tá? Então, a gente consegue fazer a revisão, né? Sua parcela de R$ 476,82, na verdade, ela deveria ser esse valor aqui ó: de R$ 273,83”, diz ela.

Produtor do JN registra venda de serviço que não existe para renegociação de dívidas — Foto: JN

Produtor do JN registra venda de serviço que não existe para renegociação de dívidas — Foto: JN

E promete a devolução do que foi pago:

“No seu caso, a irregularidade foi no valor de R$ 6.089, que é o que volta para você. Não tem erro. Agente tem 100% do procedimento concluído. Então, você tem 100% de garantia”.

Mas o serviço tem um preço que precisa ser pago antes do suposto ressarcimento : “Ó, R$ 1.395, tá?”.

Em Mauá, na Grande São Paulo, funciona a Simplifica Soluções.

“O nosso sistema, para estar sendo feita a revisão, ele usa o sistema direto do Banco Central. Você tem R$ 4.873,36 para receber”, diz funcionária.

O gerente de loja Michel Cavalcante Oliveira acreditou em uma dessas empresas. Pagou quase R$ 2 mil, mas, quase sete meses depois, não recebeu o valor prometido.

“Era em torno de R$ 12 mil mais ou menos que eu ia reaver. A propaganda foi tão bem-feita, um cenário muito bonito, que você cai. E a gente se sente mais uma vez enganado”, afirma Michel.

Jornal Nacional procurou o Banco Central para entender como funciona a plataforma citada pelos funcionários das empresas. Em nota, o BC foi taxativo: disse que não oferece sistema para contratação de operações de crédito nem para renegociação de dívidas, e declarou ainda que não interfere nos acordos entre as instituições financeiras e seus clientes.

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Documento com símbolo do Banco Central usado por empresas é falso — Foto: JN

Documento com símbolo do Banco Central usado por empresas é falso — Foto: JN

O delegado Paulo Roberto Mendes Pereira vê indícios de crime na conduta das empresas:

“Essa venda de garantia de resultado, isso pode configurar efetivamente crime contra as relações de consumo, é propaganda enganosa. O documento com timbre, o documento como se público fosse – e aquele documento não é público, não foi emitido efetivamente pelo órgão público – também é crime de falsificação de documento público”, afirma.

Claudia Yoshinaga, especialista em finanças, explica que o cliente não precisa de intermediário para renegociar a dívida com a instituição financeira.

“Juridicamente, não existe nada que defina que um juro que é cobrado é abusivo. A primeira coisa é verificar se a instituição financeira que está sendo ofertada, essa proposta, se ela existe de fato. E aí consultar no site do Banco Central se essa instituição financeira está cadastrada. Outro passo é, se é alguém que está oferecendo serviço, vale fazer alguma consulta na internet. Talvez isso sirva, comece a servir, de alerta para as pessoas desconfiarem de casos que parecem com ofertas boas demais para ser verdade”.

JN tentou falar com as duas empresas por redes sociais, mensagens por aplicativo, telefone e email, nesta sexta (21) e neste sábado (22), mas nenhuma das duas deu retorno.

Por Jornal Nacional

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