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Fachada da boate Kiss com fotos de vítimas
Boate Kiss: tragédia completa dez anos sem punições ou previsão de novo júri
Quatro réus foram condenados pela morte das 242 vítimas do incêndio, mas julgamento foi anulado e imbróglio judicial continua
Boate Kiss após incêndio, em janeiro de 2013
DEIVID DUTRA/JORNAL A RAZÃO/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
A tragédia da boate Kiss, que deixou 242 mortos e 636 feridos em um incêndio ocorrido em Santa Maria (RS), completa dez anos nesta sexta-feira (27) sem que ninguém esteja respondendo criminalmente e marcada por um julgamento anulado.
Apesar de a investigação sobre as responsabilidades ter sido relativamente rápida, – quatro envolvidos se tornaram réus ainda em 2013 por homicídio com dolo eventual – o processo se dividiu em seis e passou pelas fases de recursos até chegar ao tribunal do júri em 2021.
Em dezembro daquele ano, os dois ex-sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann foram condenados, respectivamente a mais de 22 anos e 19 anos de prisão. Também foram condenados o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que tocava naquela noite na boate, Marcelo dos Santos, e o produtor de eventos da banda, Luciano Bonilha, que acendeu o artefato pirotécnico que Marcelo segurava. Ambos pegaram uma pena de 18 anos.
Segundo a investigação, o artefato fez uma espuma instalada no teto da boate pegar fogo, liberando um gás tóxico que fez com que a maioria das 242 vítimas fatais morresse asfixiada. O Ministério Público apontou também que a casa estava superlotada.
O julgamento, considerado o maior da história do Rio Grande do Sul, foi transmitido pela internet, sendo reproduzido por meios de comunicação. Oito meses depois, porém, o TJ (Tribunal de Justiça) do Rio Grande do Sul anulou o julgamento, o que causou revolta nas famílias das vítimas, que esperam há anos por um desfecho do caso.
Os quatro réus do caso: Luciano, Elissandro, Mauro e Marcelo
REPRODUÇÃO TJ-RS
A Justiça acolheu argumentos das defesas dos réus, que apontaram falhas em diversos aspectos do julgamento, como na realização de uma reunião apenas entre o juiz e os jurados, sem a presença dos representantes dos julgados.
Antes disso, as famílias já discordavam do fato de representantes do poder público em Santa Maria e de órgãos de fiscalização, como os bombeiros, não terem sido denunciados criminalmente por terem permitido à Kiss funcionar de forma irregular, com a falta de uma saída de emergência adequada, por exemplo. Apenas dois bombeiros responderam a processos administrativos e pegaram penas pequenas.
O Ministério Público apresentou recursos tentando reverter a anulação do julgamento que condenou os quatro réus do caso, e eles ainda tramitam no TJ (Tribunal de Justiça) do Rio Grande do Sul. Deverão ainda ser julgados pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e STF (Supremo Tribunal Federal), não havendo data para a resolução do caso, portanto.
Tatiana Borsa, que defende o vocalista Marcelo, afirma que a defesa espera um novo julgamento. O direito existe, a Justiça existe, e eu tenho certeza que eles vão ir para um novo júri e vão ser absolvidos”, diz.
Em nova divulgada na quinta-feira (26), o Ministério Público disse reiterar a sua convicção na lisura de todo o júri popular, realizado de forma imparcial, sem “intercorrências”. “A sociedade, de forma isenta e soberana, deu a resposta justa e adequada aos graves fatos ocorridos em 27 de janeiro de 2013. Deste modo, tal resposta deve ser respeitada”, afirma o órgão.
Vigília
Apesar do imbróglio, as famílias mantém a luta por justiça. A Associação de Familiares de Vítimas de Sobrevivente da Tragédia de Santa Maria, em conjunto com o Coletivo Kiss: Que Não Se Repita e o Eixo Kiss do Coletivo de Psicanálise de Santa Maria, havia programado uma vigília para a noite de quinta e a madrugada desta sexta (27), quando a tragédia completa dez anos.
- CIDADES | Do R7