Cultura
Fernanda Torres recebe o Globo de Ouro de melhor atriz
Entenda os próximos passos de Fernanda Torres na corrida para o Oscar após vitória no Globo de Ouro
Premiação da Academia acontece no dia 2 de março, em Los Angeles
Você viu domingo? Você viu a Fernanda Torres no Globo de Ouro? Totalmente aclamada! Das telinhas da TV com personagens cômicas como Vani de “Os normais” ou Fátima de “Tapas & beijos” — ou seria “Slaps & kisses”? — ao sucesso no cinema com obras memoráveis como “Eu sei que vou te amar” (1986) e “Terra estrangeira” (1995)… Dos corredores de convenções de fãs, onde se sente o Pikachu, aos luxuosos quartos de hotéis da Europa, de onde anuncia: “a vida presta”… Dos memes e das figurinhas mais usadas nas redes sociais aos tapete vermelhos de premiações em Hollywood… Fernandinha é daquelas quase unanimidades em um Brasil que esteve muito dividido nos últimos anos.
- Artigo: Fernanda Torres, enfim uma terceira via para unir o Brasil
- Análise: O que a vitória de Fernanda Torres significa na corrida para uma indicação ao Oscar?
A já histórica conquista de Fernanda Torres, no domingo, como melhor atriz em filme dramático no Globo de Ouro 2025, pelo trabalho como Eunice Paiva em “Ainda estou aqui”, acabou em comemoração com ares de festa nacional e já deu início a uma nova trilha de especulações em relação ao Oscar. O interesse agora é saber o que a premiação conquistada significa na corrida pela estatueta da Academia de Hollywood. Embora não seja o principal termômetro para o Oscar já há algum tempo, tendo sido superado pelas premiações dos sindicatos (de atores, produtores, roteiristas e diretores), é inegável que a vitória ajuda e muito a brasileira, especialmente no que diz respeita à visibilidade. Após o resultado, publicações como Los Angeles Times, New York Times e Hollywood Reporter destacaram o prêmio como a grande surpresa da noite.
A votação para definir os indicados ao Oscar começa amanhã, ainda num momento em que o resultado do Globo de Ouro está bem quente entre os profissionais da indústria. Em toda a história, apenas em duas ocasiões a vencedora de melhor atriz em filme dramático ficou de fora da lista final do Oscar, em 1989 com Shirley MacLaine (por “Madame Sousatzka”) e em 2009 com Kate Winslet (por “Foi apenas um sonho”).
Por outro lado, a ausência de Fernanda nas indicações ao Critics Choice e na pré-lista do Bafta ainda deixa uma interrogação sobre sua presença no Oscar. Tentando manter os pés no chão, a atriz disse à GloboNews: “Estou satisfeita com o meu Globo de Ouro.”
— Este prêmio não só destaca o talento excepcional de Fernanda, mas a qualidade e a relevância do cinema brasileiro e das produções originais do Globoplay. “Ainda estou aqui” é um filme que toca profundamente em questões históricas e emocionais do Brasil, e ver esse reconhecimento internacional é uma honra imensa para todos nós. Continuaremos a investir em histórias que merecem ser contadas e que ressoam com o público global — diz Manuel Belmar, diretor de Finanças, Jurídico, Infraestrutura e Produtos Digitais da Globo.
Nas redes sociais, colegas de Fernanda comemoraram o resultado. “Obrigada Nanda por através do seu trabalho incrível nos afetar em tantos lugares. Te agradeço como mulher, como mãe, como brasileira e como atriz”, escreveu Taís Araujo. Já Ingrid Guimarães escreveu: “Nesse filme, sobre esse assunto tão essencial nos dias de hoje, vimos uma filha honrar a mãe. Vimos o cinema brasileiro brilhar.” Mesmo Regina Duarte, ex-Secretária da Cultura de Bolsonaro, celebrou a vitória: “As nossas Fernandas sempre inflando nossos corações com alegria”.
Mas engana-se quem pensa que só personalidades do audiovisual celebraram a conquista. “Fernanda Torres é orgulho do Brasil”, postou o presidente Lula. “Mais do que merecido”, comemorou a jovem Rayssa Leal, tricampeã mundial de Skate. “Coloca mais uma estrela na camisa da seleção”, pediu o influenciador do meio do futebol Pedro Certezas.
— Tudo tão surreal que eu tenho a sensação de viver uma realidade paralela, como quando se desfila em escola de samba. Ainda não voltei para a vida — comentou Fernanda, de 59 anos, ontem em entrevista ao Estúdio i na GloboNews.
Ao receber sua estatueta das mãos de Viola Davis, sobre o aplauso efusivo da concorrente Tilda Swinton e, é claro, da mesa de “Ainda estou aqui”, em que estavam Selton Mello, Walter Salles, os produtores Maria Carlota Bruno e Rodrigo Teixeira, Michael Barker (presidente da Sony Classics) e pelo marido Andrucha Waddington, Fernanda revelou não ter preparado discurso. Posteriormente, confirmou que jamais pensou que fosse ganhar, apesar de ser apontada como favorita por sua mãe, Fernanda Montenegro, e pela Variety, tradicional publicação americana (que acertou a aposta na brasileira, mas errou em todas as demais categorias de atuação em filmes).
— Eu sabia que ela iria ganhar — disse uma emocionada Fernandona, de 95 anos, ontem na GloboNews. — O prêmio do Golden Globe reconhece, cultua e ilumina essa grande atriz brasileira que é Fernanda Torres. (…) Eu aplaudo Fernanda Torres. Bravo, minha filha, bravo.
Próximos passos
Mal despertou em Los Angeles após a noite de gala e celebração, Fernanda Torres já precisou se preocupar com a agenda de compromissos. Ainda ontem, ela se juntou a Walter Salles para apresentar uma sessão de “Ainda estou aqui” no Festival de Cinema de Palm Springs, na Califórnia. A exibição foi seguida por um debate mediado pelo crítico David Ansen.
Nos próximos dias, atores, produtores e diretores terão as últimas oportunidades para tentar seduzir os eleitos do Oscar para indicações. A votação acontece entre os dias 8 e 12 de janeiro, com o anúncio da lista final sendo anunciada no dia 17. A cerimônia da 96ª edição do Oscar acontece em 2 de março.
Mas antes disso, ainda tem muita coisa para acontecer. Amanhã, serão anunciadas as indicações ao SAG Awards 2025, principal termômetro para o Oscar nas categorias de atuação. Realizada pelo sindicato dos atores dos Estados Unidos, a premiação, tradicionalmente, não abre muito espaço para indicados estrangeiros. Neste sentido, uma lembrança de Fernanda Torres no SAG praticamente garantiriam uma indicação da atriz no Oscar. Os sindicatos dos roteiristas (WGA) e dos produtores (PGA) também anunciam suas indicações nos próximos dias.
A temporada de premiações aquece ainda em fevereiro com a realização das cerimônias dos sindicatos de diretores e produtores (no dia 8), do BAFTA (16), no Film Independent Spirit Awards (22) e no SAG Awards.
A vitória de Fernanda acabou chamando mais a atenção para as possibilidades da atriz no Oscar, mas é bom lembrar que “Ainda estou aqui” também tem ótimas chances de figurar entre os cinco filmes internacionais. Na verdade, há quem garanta que uma indicação é certa na categoria, em que deve ter como principais ameaças o francês “Emilia Pérez” e o alemão “A semente do fruto sagrado”. O indiano “Tudo que imaginamos como luz”, um dos filmes mais elogiados da temporada, não preocupa o drama brasileiro no Oscar após não ter sido escolhido o representante da Índia na categoria.
Derrotado por “Emilia Pérez” no Globo de Ouro na categoria melhor filme em língua estrangeira, “Ainda estou aqui” também concorre no Critics Choice e está nas shortlists do BAFTA e do Oscar. Se confirmado no prêmio da Academia, será a primeira vez desde “Central do Brasil” que o Brasil entra na disputa de filmes internacionais.
“É muito emocionante viver isso 26 anos depois de ‘Central do Brasil’”, destacou Walter Salles em nota oficial comemorando a vitória de sua atriz.
Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro