Politica
Francisco Dornelles em um evento no Palácio Guanabara, 2016
Morre Francisco Dornelles, ex-governador do Rio e de longa trajetória na política brasileira
Além de ter chefiado o Palácio Guanabara e ocupado também o posto de vice, político foi secretário da Receita Federal, ministro, senador, deputado federal e presidente de honra do PP
Morreu nesta quarta-feira, aos 88 anos, o presidente de honra do Progressistas Francisco Dornelles. Afastado da vida pública no período mais recente, Dornelles experimentou como poucos a política brasileira, tendo atuado como ministro, senador, deputado, secretário da Receita Federal, vice-governador e governador do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelo secretário de saúde do Rio, Dr. Luizinho (PP-RJ).
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Dornelles nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1935. Ele fazia parte de uma família com ampla vocação política. Por parte de pai, era primo de segundo grau do ex-presidente Getúlio Vargas. Pela da mãe, sobrinho dos ex-presidentes Tancredo Neves e Castelo Branco, além de ter como tio Ernesto Dornelles, que já foi senador e governador do Rio Grande do Sul.
Com contatos influentes na família, o político se formou em Direito e Finanças Públicas e foi secretário da Receita Federal no governo João Figueiredo, em 1979, durante a ditadura militar. Foi durante sua administração que foi criado o símbolo do leão como imagem representativa do Imposto de Renda e da instituição, presente até os dias de hoje. Como secretário, defendeu ainda um sistema tributário baseado em impostos progressivos sobre a renda, seletivos sobre o consumo, e sobre o patrimônio imobiliário.
Francisco Dornelles: veja fotos da carreira do político
Dornelles atuou como ministro, senador, deputado, secretário da Receita Federal, vice-governador e governador do Rio de Janeiro
Em 1985, Dornelles deixou a Receita e assumiu o Ministério da Fazenda para uma breve gestão. Embora tenha morrido antes de assumir a Presidência da República, Tancredo Neves já havia designado o sobrinho para a pasta. O vice José Sarney, que assumiu a presidência, manteve Dornelles à frente da pasta. Porém, diante de seu isolamento dentro do governo e diante de um índice de inflação mensal superior a 14%, ele se demitiu da Fazenda cinco meses depois.
Mais tarde, seria ainda ministro da Indústria, Comércio e Turismo durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. No cargo, defendeu a desregulamentação da economia como forma de reduzir o chamado “custo Brasil” e o protagonismo do setor privado na definição da política industrial do país.
Já no segundo mandato de FHC ele assumiu a pasta do Trabalho e do Emprego. Em janeiro de 2000 foram sancionadas duas iniciativas de Dornelles para reformar as relações de trabalho: a instituição da conciliação prévia e a introdução da figura do rito sumaríssimo nos processos trabalhistas. Além disso ele implementou inovações no FGTS como a regra que permitiu aos trabalhadores em estágio terminal de doenças graves sacar o fundo de garantia.
Pelo Rio de Janeiro, foi um dos deputados federais constituintes e permaneceu na Câmara até 2007, por cinco mandatos consecutivos, com passagens por PFL, PPR e PPB. Já pelo PP, conquistou uma vaga no Senado nas eleições de 2006 e ficou na Casa até 2014, ano em que renunciou, já na reta final do mandato, após ser eleito vice-governador do estado na chapa de Luiz Fernando Pezão (PMDB).
No Palácio Guanabara, Dornelles despachou como governador interino por sete meses durante a licença médica de Pezão para tratar um câncer, em março de 2016, e definitivamente após a prisão do mandatário fluminense em 2018 pela Operação Lava-Jato, quando teve a missão de conduzir o governo estadual pelos 32 dias de mandato que restavam.
Foi durante o primeiro período de Dornelles à frente da administração que o governo estadual decretou o Estado de Calamidade Pública, em junho de 2016, o que abriu caminho para socorro financeiro do governo federal.
Em 2019, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que Pezão e Dornelles cometeram abuso de poder econômico nas eleições de 2014 e os tornou inelegíveis até 2022. O pleito de 2020 foi, assim, o primeiro em mais de duas décadas a transcorrer sem que Dornelles estivesse ocupando um posto político ou participando enquanto candidato.
No último ano, o ex-governador ganhou uma biografia chamada “O poder sem pompa”, escrita pela jornalista Cecília Costa. O livro relembra, a partir de depoimentos do próprio personagem, passagens da trajetória de Dornelles, uma figura querida nos bastidores do poder até por adversários políticos.
O PP divulgou nota de pesar onde afirma estar de luto pelo falecimento do presidente de honra do partido.
“Grande homem público, defensor da democracia e do diálogo em todos os momentos, nos deixa um legado de ética, responsabilidade, humildade e dedicação ao Brasil”, diz um trecho da nota.
Por O Globo — Rio de Janeiro