Esporte
Neymar imita o gesto de um maestro no bate-papo na Ásia
Neymar reverencia Pelé, fala de cobranças e diz que pode jogar sua última Copa
Jogador diz que críticas injustas o ferem, afirma que não sabe se seguirá na seleção brasileira após o Catar e que quer fazer a diferença no futebol ou na vida das pessoas
Neymar vai disputar a sua terceira Copa do Mundo. E, mais uma vez, chegará ao torneio como principal referência da seleção brasileira. Agora, com 30 anos, 121 jogos e 75 gols com a amarelinha, o camisa 10 do Brasil terá a oportunidade de chegar à competição sem percalços e as lesões que o atrapalharam nas edições passadas.
– Acho que é mais do que imaginava, do que eu sonhava. Nunca pensei em números, nunca quis ultrapassar ninguém, bater recorde. Sempre quis só jogar futebol. Esse era o meu sonho, o que eu projetava para mim. Claro que jogar pela seleção brasileira era o meu sonho. Só de jogar pela seleção é algo surreal. Era um sonho que eu não estava realizando só para mim, mas para os meus amigos, que não conseguiram jogar profissionalmente, para o meu pai, para o meu avô, para a minha família.
Em 2014, no Mundial do Brasil, após boas atuações, ele acabou sofrendo uma pancada nas costas do volante Zuñiga, da Colômbia, e sofreu uma fratura na coluna. O Brasil passou pelos rivais nas quartas de final, mas na semifinal, sem Neymar, perdeu de 7 a 1 para a Alemanha. O time ficou na quarta colocação. Quatro anos depois, antes da Copa da Rússia, o jogador quebrou o quinto metatarso do pé direito e chegou ao torneio sem o melhor de suas condições.
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Na entrevista concedida na Ásia, em junho, durante os amistosos contra Coreia do Sul e Japão, o atacante estava solto, feliz e pronto para mostrar que estava focado para a Copa do Mundo. Porém, o jogador lamentou o que considera críticas injustas em alguns momentos de sua carreira e respondeu se é ou não difícil ser Neymar.
– Depende do ponto de vista, do jeito que você olha. Para mim, não. Tem muitas cobranças? Tem. Tem cobranças injustas? Tem. Tem coisas que são fundamentais e te fazem bem? Tem. Eu pego para mim. Mas também existem injustiças por você ser o Neymar. Por ser eu hoje na seleção brasileira. Escuto coisas na minha carreira e escuto até hoje que olho e penso, sem sentido isso. Não posso estar alcançando números hoje sem ter me cuidado na minha carreira, sem ter treinado, sem ter batalhado para conquistar isso tudo. Não posso estar batendo recordes a todo momento, a cada dia que passa. A cada jogo que passa eu bato um recorde à toa? Não é à toa. Trabalhei para isso, treinei para isso, deixei de fazer muita coisa para isso. As críticas injustas, nesse sentido, me ferem muito porque ninguém conhece a realidade que eu passo. Ninguém sabe do meu dia a dia, ninguém tá ali comigo pra isso. As pessoas que estão ao meu redor, que são mais próximas de mim, realmente sabem o que eu faço para estar bem, para estar 100%, para não sofrer lesão. As lesões acontecem, fazem parte do atleta, do jogador de futebol. Infelizmente elas vem em momentos que você não quer. Faz parte. Não é uma coisa que eu escolho. Eu me cuido todo dia, me preparo para isso, faço as coisas que eu tenho que fazer para exercer um bom futebol no jogo. O dia que eu não quiser mais me cuidar, eu não vou jogar futebol. Não é para isso, não é assim. As pessoas tem que entender que a minha vida não é do jeito que elas imaginam. Ela é do jeito que eu quero que ela seja. Estou aqui para isso, para bater recordes, para tentar construir uma história na Seleção. Já construí uma longa história na Seleção e, com certeza, eu quero finalizar ela muito bem.
Neymar imita o gesto de um maestro no bate-papo na Ásia — Foto: Reprodução
E qual seria a melhor palavra para definir o momento do atacante antes da Copa do Catar? Leveza?
– Essa é a palavra que eu sempre levei a vida inteira. Para todos que me conhecem e sabem como eu sou. Eu sempre tento colocar leveza em tudo. Por mais que você reencontre pessoas que não torcem por você ou falaram besteira de você, eu tento levar de uma maneira totalmente diferente. Eu tento levar para uma maneira completamente diferente. Eu tento levar para o lado bom. O lado que você não conhece. Se você conhece só o lado escuro, eu vou te mostrar a luz. Eu tento trazer sempre isso para a seleção. Todos os meus companheiros que tiveram comigo aqui sabem como eu sou. Sou um cara leve, brincalhão, tento deixar todo mundo em casa ao máximo porque quando cheguei aqui sei como é se sentir o novato da seleção. Sei como é isso. Dá muito nervosismo, muita coisa para pensar. Quando as pessoas te agarram, te puxam, isso facilita para você jogar o seu futebol.
E será a sua última Copa?
– Eu vou jogar como se fosse a última. Falo com o meu pai, a gente sempre conversa, jogar cada jogo como se fosse o último porque você não sabe o dia de amanhã. Eu não posso te garantir que vou jogar outra Copa ou que vou… Eu sinceramente não sei. Vou jogar como se fosse a última. Pode ser que eu jogue outra, pode ser que não. Depende… Vai mudar de treinador, não sei se o treinador vai gostar mim.
Neymar afirmou ainda que a decisão não terá a ver com a parte física.
– Física? Não. Depende de como eu vou estar. É uma coisa que eu não quero afirmar nada agora. Quero jogar essa Copa, me dedicar para isso, porque tenho certeza que temos potencial para chegar muito longe. Apesar de muita gente não confiar na gente, nós vamos demonstrar o diferente. Vejo que essa Seleção tem muito fruto, muita coisa boa, e vejo que a gente pode chegar muito longe.
De acordo com os números da Fifa, Neymar está a três gols de superar Pelé como o maior artilheiro da história da seleção brasileira. Enquanto o atual camisa 10 tem 75 gols, o Rei do Futebol marcou 77.
– Pelé é a referência. Pelé é o futebol. Pelé é praticamente tudo para o nosso país. O respeito e admiração que eu tenho por ele são gigantescos. A importância que ele teve no tri foi fundamental porque era um cara com bastante experiência e pôde ajudar os seus companheiros com a sua melhor fase. Muitos diziam que ele não estava preparado para jogar essa Copa, que não aguentaria jogar a Copa pela idade que tinha e ele demonstrou que todo mundo estava errado.
Neymar aproveitou para apontar outros maestros da seleção brasileira.
– O maior maestro da seleção de todos os tempos? É difícil. Seleção é privilegida porque tiveram muitos. Vi alguns jogarem. Não tive o privilégio de ver outros, mas sei da história. É difícil falar um só. Pensando rápido, Ronaldinho Gaúcho e Zico.
E como o Neymar chega à Copa?
– Eu? Sou um cara diferente, alegre. Não gosto de falar de mim, não gosto de me colocar como melhor. Gosto de jogar futebol, gosto de ganhar. Gosto de ser melhor do que eu a cada dia. Gosto de estar ajudando os meus companheiros, que é a principal coisa. Espero que o meu nome esteja guardado na história do futebol. Se não for no futebol que seja na vida de alguém.
Por Márcio Iannacca — Rio de Janeiro
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