Internacional
Nicolás Maduro toma posse para o terceiro mandato presidencial no Capitólio, em Caracas, na Venezuela.
Maduro toma posse para terceiro mandato como presidente da Venezuela sob protestos e acusações de fraude
Cerimônia ocorre apesar de evidências de que o ex-diplomata Edmundo González Urrutia venceu as eleições
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tomou posse para o seu terceiro mandato consecutivo no país na manhã desta sexta-feira, apesar de evidências confiáveis de que seu oponente venceu as últimas eleições e em meio a protestos contra seu plano de permanecer mais seis anos no poder. O evento da posse do líder chavista foi organizado pela Assembleia Nacional, também controlada pelo partido governista, no Palácio Federal Legislativo, em Caracas.
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— Eu juro que este novo mandato presidencial será o mandato da paz — disse Maduro diante do presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, que respondeu declarando o líder chavista como presidente constitucional da República Bolivariana de Venezuela. — Este ato é possível porque a Venezuela está em paz, em pleno exercício de sua soberania. Estes anos [de mandato] representam a luta de 500 anos contra o colonialismo. É a história da resistência contra toda a forma de dominação.
Nicolás Maduro toma posse pela terceira vez na Presidência da Venezuela
A posse de Maduro ocorre apenas horas após centenas de manifestantes contrários ao governo tomarem as ruas da capital — e de assessores da líder da oposição, María Corina Machado, denunciarem que ela foi brevemente detida por forças de segurança enquanto participava do protesto. Após meses sem aparições públicas, a popular ex-deputada, proibida pelo governo de se candidatar a cargos públicos, esteve nas ruas para exigir que o candidato da oposição, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, assuma a Presidência.
A oposição qualificou a posse do governante como “golpe de Estado”. Em comunicado, a principal coalizão opositora, a Plataforma Unitária, disse: “Com a usurpação do poder por parte de Nicolás Maduro (…), apoiado pela força bruta e desconhecendo a soberania popular expressa de forma contundente em 28 de julho passado, consumou-se um golpe de Estado. González Urrutia é quem deve ser empossado”.
Líderes internacionais condenaram o governo por reprimir as vozes da oposição e exigiram sua libertação. Entre as autoridades presentes estão os primeiros-ministros da República Árabe Saaraui Democrática e de Antígua e Barbuda, além dos presidentes de Cuba, Miguel Díaz Canel, e o da Nicarágua, Daniel Ortega. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, um aliado próximo de Maduro, declarou que não compareceria devido às detenções, no início da semana, de outro opositor venezuelano e de um defensor dos direitos humanos.
Também não se sabe se González Urrutia, exilado na Espanha desde setembro, cumprirá a promessa de retornar à Venezuela na sexta-feira. O opositor está na República Dominicana, última parada de uma viagem internacional que terminaria em um voo privado para Caracas para tentar tomar posse como presidente. Autoridades governamentais ameaçaram repetidamente prender o candidato se ele voltar ao país, indicando que ele seria tratado como “invasor”.
O governo brasileiro foi representado por sua embaixadora em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira — uma delegação de nível inferior à enviada para a posse do ultraliberal Javier Milei na Argentina. A administração Lula continuará sem reconhecer Maduro ou González Urrutia como presidente, embora resista romper completamente as relações diplomáticas com o país vizinho. Ao lado dos presidentes colombiano e mexicano, o petista investiu capital político em uma saída diplomática negociada com a oposição, mas o líder chavista rejeitou qualquer concessão e deixou de lado seu antigo aliado.
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O desfecho das eleições presidenciais na Venezuela representa um fracasso político para Lula, publicou o El País. Isso porque o brasileiro iniciou seu mandato apostando nas relações com o governo venezuelano, impulsionando uma ofensiva diplomática para romper o isolamento de Maduro e normalizar as relações com Caracas após a ruptura dos anos Bolsonaro. Lula e seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, tentaram uma abordagem cuidadosa, apoiando o processo que levou às eleições, mas exigindo um pleito transparente.
Reflexo de que os interesses do presidente Lula nem sempre coincidem com os do partido que fundou e lidera, o PT enviou uma delegação para a cerimônia de posse, acrescentou o El País.
Na última posse de Maduro, em 2019, estiveram presentes o presidente de Cuba e o então presidente da Bolívia Evo Morales. As eleições de 2018 também foram amplamente consideradas uma farsa, após o governo proibir a participação dos principais partidos da oposição.
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Por O Globo e agências internacionais — Caracas