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Nicole Silveira, enfermeira e atleta brasileira de skeleton.

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Enfermeira e surfista do gelo: a brasileira que combate a Covid e tenta vaga olímpica no skeleton

Enfermeira e surfista do gelo: a brasileira que combate a Covid e tenta vaga olímpica no skeleton
Foto: Acervo pessoal

“Surfando” em montanhas de gelo, gaúcha Nicole Silveira, de 26 anos, sonha com uma vaga nos Jogos de Pequim 2022

Salvar vidas entre abril e outubro e descer montanhas de gelo deitada em um trenó de novembro a março, essa é a rotina de Nicole Silveira, enfermeira e atleta brasileira de skeleton. Apesar das duas profissões, o objetivo principal dessa gaúcha de 26 anos é: classificar-se para as Olímpiadas de Inverno de Pequim em 2022 e, com isso, fazer história sendo a primeira representante do Brasil na modalidade.

“É tipo surfar de barriga numa água congelada”, Nicole, sobre o skeleton

– Acho que seria muito legal (poder competir nas Olímpiadas). Poder mostrar que é possível, porque eu sei que quando a gente fala: “Ah, eu sou do Brasil competindo no skeleton”, todo mundo ri e diz: “Como assim? Não tem como”. Eu espero que abra muitas portas para outros atletas verem que é possível. Vai ser uma honra se eu conseguir mesmo representar o Brasil numa Olímpiada e fazer história, já que nunca tivemos um atleta de skeleton a representar o país.

Nicole com o uniforme do skeleton  — Foto: Acervo pessoal

Nicole com o uniforme do skeleton — Foto: Acervo pessoal

A gaúcha de Rio Grande se mudou para o Canadá com apenas 7 anos. Nicole sempre foi muito ligada a esportes, mesmo antes de se mudar para Calgary, no estado canadense de Alberta. As atividades foram muitas: dança, futebol, ginástica olímpica, vôlei, rugby e até fisiculturismo.

O gosto pelos esportes de inverno surgiu quando um colega, que praticava bobsled, perguntou a Nicole se ela não gostaria de tentar, afinal a seleção brasileira feminina estava precisando de uma integrante para disputar a temporada pré-olímpica de PyeongChang, na Coreia do Sul, em 2018. Nicole embarcou de cabeça, entrou para a equipe e gostou.

Na temporada seguinte surgiu a oportunidade de mudar para o skeleton, um esporte que, segundo a própria Nicole: “É tipo surfar de barriga numa água congelada”. Os competidores deitam em trenós, que são pranchas com lâminas, e descem pistas cavadas em montanhas de gelo buscando sempre conseguir o melhor tempo. A velocidade pode chegar até os 135km/h.

Nicole já tem no currículo dois campeonatos mundiais e, recentemente, disputou a Copa do Mundo da categoria, onde ficou em 18º lugar. A brasileira conta que a temporada 2020 serviu para seu desenvolvimento, já que não contou pontos para os rankings olímpicos, e que está feliz em poder ter a experiência de competir entre as melhores.

– Eu sou a mais inexperiente de todas que estão aqui (na Copa do Mundo), então eu fico muito feliz de estar nesse nível. Da para ver que eu não estou no nível das melhores do mundo ainda, mas estou muito feliz de estar nesse ambiente. É um ambiente que me puxa mais, me incentiva a fazer o meu melhor, mais do que se eu estivesse em um nível mais baixo. Eu estou aprendendo muitas coisas com elas, do jeito que elas fazem. Tem sido um ajuste enorme, mas um grande aprendizado também – disse a atleta, quando estava competindo no mês passado.

Mesmo depois de três anos descendo as pistas de gelo, a atleta confessa que ainda sente um frio na barriga na hora da primeira descida em uma pista nova.

– Dá medo, geralmente na primeira descida. Tu faz o máximo para se preparar, tem vídeo, aí você estuda a pista, visualiza, mas mesmo que tu ache que está mentalmente preparado, é sempre uma surpresa. Que dá medo, dá. Eu converso com as melhores atletas e até elas ficam nervosas na primeira decida – brincou Nicole.

Nicole trabalhando como enfermeira  — Foto: Acervo pessoal

Nicole trabalhando como enfermeira — Foto: Acervo pessoal

Mas se engana quem pensa que encarar as pistas é o único desafio de Nicole. Além de atleta, a brasileira é enfermeira e trabalhou no combate à pandemia de coronavírus no Canadá. A gaúcha tem orgulho de sua profissão, mas, de certa forma, isso acabou atrapalhando seus treinamentos durante o verão.

– Eu sou enfermeira, então tive que trabalhar em duas casas de idosos em uma área que estavam precisando por causa da pandemia. Foi difícil balancear o emprego com os treinos.

Nicole como enfermeira  — Foto: Acervo Pessoal

Nicole como enfermeira — Foto: Acervo Pessoal

Além disso, a pandemia acabou interferindo na temporada do skeleton. O calendário ficou confuso, o tempo de treinamento ficou menor e o isolamento necessário fizeram com que as competições fossem “longas semanas” para Nicole. Mas a brasileira comemorou o fato de ter conseguido competir mesmo que por um curto período de tempo esse ano.

– Eu fico feliz por estar conseguindo descer (na pista). Muitos esportes foram completamente cancelados, e tem gente que não tá nem treinando. Eu sei que tem muitas atletas, que são de skeleton, que não estão conseguindo viajar e não estão tendo a oportunidade de descer na pista. Então eu fico feliz que estou conseguindo treinar e desenvolver.

A brasileira ressalta que o esporte tem um custo bem alto pela quantidade de viagens e equipamentos. Como o skeleton só poder ser praticado no inverno, ela consegue intercalar a enfermagem com o esporte profissional. Mas Nicole segue no objetivo de ser a representante do Brasil no skeleton nas Olímpiadas de Inverno de Pequim 2022 e entrar para a história do esporte brasileiro.

Nicole descendo a pista  — Foto: Acervo pessoal

Nicole descendo a pista — Foto: Acervo pessoal

*Estagiária, sob supervisão de Raphael Andriolo

Por Clara Casé* — Rio de Janeiro / Globoesporte.globo.com

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