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O Fla foi dominante, basicamente, enquanto teve fôlego para sustentar uma boa pressão na saída de bola rival.
Bilionário, Flamengo se encaminha para o terceiro ano sem sequer disputar o título brasileiro
Faz pouco mais de 100 dias que Jorge Sampaoli assumiu o Flamengo. É pouco para um veredicto sobre seu trabalho, tempo insuficiente para que ele apresentasse um time pronto para se exibir em sua melhor versão. No entanto, é tempo suficiente para que o rubro-negro desse sinais melhores, passasse a sensação de que é um trabalho promissor. Não é exagero dizer que menos da metade dos 25 jogos com o treinador foram convincentes. Neste sábado, contra o América-MG, o 1 a 1 que bem poderia ter sido uma derrota apenas confirmou problemas que o time tem repetido à exaustão. Quando se olha para a escalação que entrou em campo, para as opções de elenco, a campanha é absolutamente desapontadora.
Léo Pereira em Flamengo x América-MG — Foto: André Durão
O Flamengo foi dominante, basicamente, enquanto teve fôlego para sustentar uma boa pressão na saída de bola rival. Recuperava a bola rapidamente e chegava em poucos passes a uma posição de finalização. Além disso, quando cabia ao América-MG tentar marcar no campo ofensivo, os rubro-negros achavam Éverton Ribeiro como homem livre às costas dos meias do time mineiro. Com espaço para acelerar, o Flamengo levava perigo. Até poderia ter pavimentado o caminho para uma vitória tranquila nestes minutos iniciais.
Não fez o gol e, a partir daí, viveu um paradoxo. Sampaoli vive pedindo que o time tenha mais pausa, que não acelere o tempo todo, justamente para evitar jogos descontrolados. Sob certo aspecto, o argentino tem razão. Em dado momento, o meio-campo virou lugar de passagem e a bola ia da entrada de uma área até a outra, sem pausa. O Flamengo desperdiçava a bola mais rapidamente, já não sustentava a pressão ofensiva de forma tão eficaz e levava um susto ou outro.
Ocorre que, pouco a pouco, o América-MG passou a acumular jogadores à frente de sua área, fazia Pedrinho, o ponta esquerda, acompanhar as subidas de Wesley, enquanto Paulinho Bóia vigiava Ayrton ou Bruno Henrique. Os mineiros chegavam a ter seis homens na linha defensiva e limitavam espaços. Pois bem, um tipo de jogo que exigia certa pausa, uma construção com mais passes para mover a marcação e encontrar espaços. E, neste tipo de jogo, o Flamengo tem ido muito mal.
O time fazia a saída de bola com os dois zagueiros e o lateral Ayrton Lucas, que iniciava as jogadas um pouco mais recuado numa formação que tinha Bruno Henrique aberto na esquerda. Allan e Gérson estavam logo à frente, com cinco homens no setor ofensivo: Wesley, Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, este em fase técnica bem inferior a suas possibilidades. Por vezes, Gérson ou Ayrton surgiam como um sexto homem ofensivo.
No entanto, a ocupação de espaços não correspondia à criação de mecanismos para abrir espaços. Havia pouca aproximação, poucas combinações, raríssimos movimentos de infiltração às costas da defesa. O Flamengo sempre tinha dois homens bem abertos, mas raramente os fazia receber a bola em vantagem sobre a marcação. Estava posto o dilema: a pausa dá a Sampaoli a sensação de mais controle, mas ainda não dá ao time o poder de criar; a aceleração tem permitido atacar espaços, mas também exposto o time a momentos de um jogo descontrolado e perigoso nos contragolpes rivais.
Pois o Flamengo, diante de tal encruzilhada, voltou para o segundo tempo e não teve nenhum dos cenários que lhe favorecia: nem acelerou, nem defendeu bem os contra-ataques. Sampaoli mudou o desenho ofensivo após a entrada de Victor Hugo, passou a acumular homens na linha de ataque, sobrecarregando a defesa do América-MG, mas o time se partia em dois: um grupo atacava a última linha americana, enquanto volantes e zagueiros, sem articulação, tentavam fazer a bola chegar de qualquer maneira aos homens de ataque. O Flamengo forçava passes, cruzamentos, perdia bolas e ficava muito exposto.
Rodrigo Varanda, uma das mudanças de Vágner Mancini, deu o primeiro avisou ao marcar um gol corretamente anulado por impedimento. Mais adiante, Felipe Azevedo fez o gol dos visitantes. O Flamengo só evitaria a derrota numa bola parada que encontrou a cabeçada de Victor Hugo.
O rubro-negro pode terminar a rodada a 11, 12 ou 14 pontos do líder Botafogo. Por ora, salvo uma guinada que neste momento parece improvável, tudo indica que o clube das receitas superiores a R$ 1 bilhão passará o terceiro ano seguido sem sequer disputar verdadeiramente o título do Brasileiro, o torneio doméstico mais importante do país, aquele em que, usualmente, os mais ricos prevalecem.
Por Carlos Eduardo Mansur
Ge.globo.com