SIGA O 24H

Esporte

O futebol é movido pela vitória. Todo clube, de maior ou menor porte, com ou sem dinheiro

Publicado

em

Compartilhar isso...

Identidade de jogo ou competência: o que um clube deve procurar num treinador?

Processo de seleção do Flamengo e Atlético-MG levanta o debate sobre as qualidades que o cargo mais visado de um clube precisa ter

Com a saída de Cuca, o Atlético-MG elegeu Jorge Jesus como principal alvo para o cargo de treinador. Na recusa do português, nomes como Carlos Carvalhal, Juan Pablo Vojvoda e Odair Hellamnn são cogitados para assumir o Galo.

+ Atlético-MG ainda mira Jorge Jesus para ser novo técnico, mas reunião fica à espera de confirmação
+ PVC: Jesus parece reticente em aceitar proposta do Galo
+ Técnico, chegadas, saídas: Atlético-MG inicia primeira semana de 2022 com muito a fazer nos bastidores

São perfis completamente distintos em tantos quesitos, como estilo de jogo, relacionamento com profissionais e liderança de vestiário, que a linha condutora do Atlético-MG pode ser colocada em xeque. O que o clube quer?

Jorge Jesus Benfica Champions — Foto: SL Benfica

Jorge Jesus Benfica Champions — Foto: SL Benfica

A resposta é simples: contratar alguém para vencer. Não está necessariamente errado.

O futebol é movido pela vitória. Todo clube, de maior ou menor porte, com ou sem dinheiro, quer o acúmulo de vitórias que objetiva um título. É natural que a contratação de um treinador seja feita com base no potencial daquele profissional de vencer e competir, dentro de um determinado estilo que pode ou não ter conexão com o que a torcida espera do seu time.

Poucos clubes no mundo possuem uma cultura de jogo que justifica a contratação de treinadores com uma identidade específica. Talvez apenas Ajax, Indepiendente del Valle e Barcelona possuam um DNA futebolístico que exige um treinador adepto de uma filosofia. E ter uma cultura, por si só, não é garantia de sucesso. O Barcelona, que tanto se orgulha de La Masia, vem colhendo os frutos de anos de inflexibilidade com as categorias de base numa crise sem data para acabar.

Técnico Cuca em treino do Atlético-MG — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG

Técnico Cuca em treino do Atlético-MG — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG

Além disso, treinadores não são pessoas estáticas. Boa parte do sucesso deles vem da capacidade de se adaptar ao elenco que têm, bem como da didática que possuem ao transmitir uma ideia de jogo para um grupo. Tome como exemplo o próprio Cuca: o Santos que chegou na final da Libertadores jogava de um jeito totalmente diferente do Atlético-MG, que por sua vez, eram times bem diferentes do Palmeiras de 2016.

É aí que mora a questão: treinadores não vencem porque possuem super-poderes, mas por estarem inseridos num contexto específico que favorece o que eles têm de qualidade.

O erro de clubes brasileiros está em ignorar esse contexto e considerar apenas a “grife” do técnico.

Nenhum técnico vence sozinho. O desempenho de um treinador é afetado por uma série de fatores. Tem a comissão que o acompanha, a qualidade do elenco, a organização financeira do clube, o tempo de trabalho, a própria expectativa gerada naquele momento, o tempo de treino e até as competições disputadas naquele momento.

+ Abel Ferreira lança livro sobre tática. Por que o futebol brasileiro não documenta a própria história?
+ RETROSPECTIVA 2021: o domínio da escola alemã, a zona pressionante de Abel e o jogo de mobilidade no Galo e na Itália

Erros de contratação vem da falta de leitura desse contexto. Quando contratou Tiago Nunes, o Corinthians parecia mais interessado em dar uma resposta à torcida sobre a expectativa subjetiva de jogar bonito e chamar o nome nascido no Brasil no momento (tanto que Nunes chegou a ter o nome ventilado na Seleção no início de 2020). Esqueceu de avaliar que Nunes era parte de um processo imenso no Athletico, que envolvia mais tempo de treino, passagem pela base e um organograma muito maior. Mesmo erro do Inter com Ramírez, ou do São Paulo com Jardine.

DUDU MACEDO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO — Foto: Domenec Flamengo Atlético-MG Mineirão

DUDU MACEDO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO — Foto: Domenec Flamengo Atlético-MG Mineirão

Ventilar nomes diferentes faz parte do processo de escolha e negociação. O erro está na falta de leitura do que esses profissionais podem oferecer e de como isso encaixa com a necessidade daquele clube. Ao substituir Jorge Jesus, o Flamengo queria apenas um técnico que jogasse para frente, bonito. Ventilou nomes diferentes dentro desse critério – Carlos Carvalhal, Dome e Hierro – e chegou no técnico que precisaria de muito tempo para atingir o objetivo.

É um erro que o Flamengo não repetiu com Paulo Sousa, e que o Atlético-MG parece evitar pensando com cautela em que irá substituir Cuca.

Clubes brasileiros seguem contratando e demitindo por grife. Muitas vezes, técnicos levam a culpa de falhas que começam mesmo antes deles chegarem num clube. Entre o dilema de contratar um técnico que siga um estilo e chamar quem é “bom”, é a leitura do contexto do sucesso de cada nome que pode diminuir erros na grande roleta que é contratar um treinador.

Por Leonardo Miranda

Ge.globo.com

COMENTÁRIOS

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade