Esporte
O novo técnico argentino do Atlético-MG, bastante midiático, se prepara para a estreia no clube
Caneta de Maradona, abraço em Messi, viagem no tempo: o lado B do Turco, técnico do Atlético-MG
Antonio Mohamed é um personagem cheio de histórias e folclores; nesta quarta-feira, estreia pelo Galo contra o Villa Nova, mesmo adversário do primeiro jogo de Jorge Sampaoli no clube
O novo técnico argentino do Atlético-MG, bastante midiático, se prepara para a estreia no clube, no estádio bem raiz de Nova Lima, o Alçapão do Bonfim, pelo Campeonato Mineiro. É o Villa Nova pela frente. Numa espécie de capítulo “De Volta para o Futuro”, Turco Mohamed traça o mesmo início de Jorge Sampaoli no Galo.
- Notícias do Atlético
- Atlético terá R$ 76,8 milhões em jogo na defesa do título da Copa do Brasil
- Citado por Diego Godín, João Pedro é capitão e artilheiro do Cagliari
E a franquia de filmes com Marty McFly (Michael J. Fox) e Doc Brown (Christopher Lloyd) no comando, sucesso na década de 1980, está presente na lista de curiosidades sobre a vida de Antonio Ricardo Mohamed Matijevich, o excêntrico treinador do Galo. “Me encanta o filme. Bem, eu gosto dos três”, disse o Turco, em entrevista à Tyc Sports, em setembro de 2021, vestindo a camisa do filme, e com um mini DMC DeLorean na estante de casa.
Fã de música romântica, também carrega tatuagens nos braços. Uma delas é do filho Farid, morto em acidente de carro em 2006, quando viajava pela Alemanha, ao lado do pai, para curtir a Copa do Mundo. Foi por ele que Mohamed chorou ao subir o Huracán (time do coração) de divisão, e ser campeão pelo Monterrey em 2019.
Antonio Mohamed — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG
Se o Atlético foi campeão da Libertadores 2013, da Copa do Brasil 2021 e do Brasileiro 2021 com um treinador que comandava a equipe à beira do campo com a camiseta de Nossa Senhora do Silêncio, o banco de reservas do Galo agora terá, sempre, o terço de Mohamed com o nome do filho na cruz.
– É o golpe mais duro que um ser humano pode receber. Uma vez, eu ainda estava operado, e meus amigos me não me trataram como sempre, me olharam de forma estranha, com pena. Fiz uma reunião, falando que eu deveria ser tratado normalmente. “Querem que eu morra também?”
“O tempo acomoda tudo” (uma das tatuagens de Mohamed)
É difícil deixar El Turco sem palavras. Coleciona histórias que virariam livros. Das mais dolorosas às engraçadas. Mohamed revelou o dia que Diego Maradona chegou aos berros no Vaticano, para o Jogo da Paz promovido pelo Papa Francisco. El Diez estava p… da vida pela presença de Mauro Icardi. A relação do Turco com Diego foi próspera.
– A última vez que o vi foi quando ele foi internado na clínica porque havia passado por uma cirurgia no joelho. Ele me fez um cachimbo com papel higiênico. Fui ao banheiro e, quando saí, ele jogou um cachimbo em mim com a mão esquerda, a perna que havia operado – disse. Ambos trabalharam no México e compartilhavam o mesmo agente – Christian Bragarnik.
Os óculos escuros, os ternos com colete, os sapatos chamativos, até boina, são alguns dos itens que incrementam o guarda-roupas do novo treinador do Atlético. É aquele que aglutina pessoas para uma rodinha de bate-papo. Mas também tem o ombro amigo. Em 2016, nos EUA, foi flagrado por câmeras de TV ao consolar Lionel Messi, que havia acabado de perder a Copa América pela Argentina, outra vez, diante do Chile. Após a final, Messi afirmou que não mais jogaria pela seleção.
– Ele é uma lenda. Eu vi o Messi andando sozinho pela rampa. Eu abracei ele. Ele estava mal, golpeado. Estava chorando, muito triste. “Eu quero morrer, eu quero morrer”. Disse a ele para ficar tranquilo, que ele teria a sua vingança (se referindo ao título da Copa América de 2019).
El Turco chegou ao Atlético na vaga deixada por Cuca — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG
Outro encontro, menos amistoso, com uma figura mundial do futebol: Jurgen Klopp, técnico do Liverpool. Contra os Reds, Mohamed ficou perto de um avanço à final do Mundial de Clubes de 2019. Ambos brigaram na área técnica, com cenas quentes.
– Eu cobrei cartão amarelo para o árbitro. É amarelo! E ele se cagou todo. Saltou o Klopp, me provocando, fazendo cartão com a mão e cara feia. Ele me xinga em inglês, eu entendi. Devolvei, ele disse que não entendia, e coloquei minhas mãos nas partes íntimas.
Na mesma entrevista para a TyC Sports, Mohamed revela que tem o sonho de treinar o Real Madrid, e esteve perto mesmo de comandar o Boca Juniors. Clube no qual foi jogador no início da década de 1990, mas passagem curta, polêmica, marcada por um ódio e revolta da torcida azul y oro. Tudo porque foi acusado de errar um gol de propósito contra o Huracán, seu time do coração, quando o Globo brigava para não cair. Ele nunca admitiu as acusações. Até que falou em 2019:
“Eu nunca faria mal ao Huracán” – revelou, anos depois, Mohamed, sobre o gol não marcado
Este é Antonio Mohamed, que chega a Belo Horizonte com a missão de comandar um vestiário campeão. Não falta carisma e ferramentas para manter os jogadores motivados a seguir o caminho de títulos. Para quem convidaria justamente Maradona, Messi e “Doc” (o personagem que constrói a máquina do tempo no filme) para um churrasco, Mohamed até que ficaria satisfeito com os enredos do destino inalterado pelo DeLorean. Foi o destino que o eliminou da Libertadores 2013 contra o Galo, para reencontrar o clube, agora na condição de comandante, oito anos depois.
Por Fred Ribeiro — Belo Horizonte
Ge.globo.com