Esporte
Pela terceira vez em sua carreira, Menezes foi apresentado como treinador do Timão.
Mano espera montar e usufruir de “novo Corinthians” e fica surpreso com oferta: “Não esperava”
Técnico de 61 anos explica contrato até 2025, quer um Timão menos espaçado para já e prefere não definir resto de ano como um “laboratório” para 2024
Pela terceira vez em sua carreira, Mano Menezes foi apresentado como treinador do Corinthians.
Na tarde desta sexta-feira, o técnico de 61 anos recebeu das mãos do presidente Duilio Monteiro Alves uma camisa com o seu nome e, na véspera do clássico contra o São Paulo, no jogo que marcará a estreia, explicou os motivos para a volta ao clube em que esteve em 2008/2010 e em 2014.
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RVeja a coletiva de apresentação do técnico Mano Menezes no Corinthians
– Quero dizer a satisfação de estar aqui, o orgulho de voltar a uma casa como essa e dizer que o que me levou a aceitar o convite para retornar ainda esse ano, que não era a primeira ideia e eu tinha deixado claro em entrevistas (de não trabalhar em 2023), foi exatamente o tipo de relacionamento que a gente construiu nas outras vezes que passei aqui. Esse comprometimento e gratidão mútua me fez voltar e assumir novamente esse desafio de dirigir essa grandeza que o Corinthians é, mesmo faltando três meses para encerrar a temporada. Recebi com surpresa, não esperava.
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Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, e o técnico Mano Menezes — Foto: Marcelo Braga
Mano admitiu que, em abril, já havia sido procurado pelo Corinthians, antes da chegada de Vanderlei Luxemburgo. Na ocasião, porém, optou por dar sequência ao trabalho no Internacional, que depois foi interrompido em julho por conta de maus resultados.
– Recebi uma consulta na outra oportunidade. Quando a gente recebe a consulta, diz estar aberto ou fechado à negociação. Eu disse que não estava aberto por estar em meio a um trabalho e que não largaria pela metade o que tinha começado a construir no Internacional.
A estreia será contra o São Paulo, neste final de semana, mas a cabeça também já está no jogo de terça-feira, diante do Fortaleza, na decisão da semifinal da Sul-Americana:
– A equipe tem qualidade técnica boa, vem fazendo uma Copa Sul-Americana que surpreendeu e que coloca o clube numa possibilidade de chegar na final. Jogou um jogo parelho contra um adversário montado há bastante tempo, sendo dirigido pelo mesmo treinador há três anos. Esse é o objetivo maior, mas não menos importante temos um clássico antes. Vamos jogar um jogo de cada vez, disputar o clássico pensando nisso que falei. Começamos a trabalhar ontem, vamos completar hoje. Temos três jogadores fora por suspensão. E os outros só amanhã, quando passarei publicamente para vocês, mas os jogadores vão saber hoje, porque vamos fazer o treino
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Mostrando-se atento ao Corinthians que recebeu de Vanderlei Luxemburgo, o técnico já coloca um primeiro objetivo principal: fazer do Timão uma equipe menos espaçada.
– Quero aproximar um pouco mais a equipe, estamos desde ontem analisando a equipe, a equipe está um pouco longe. E você não consegue jogar futebol hoje estando tão longe, por dois motivos: a bola não chega na frente na qualidade que você precisa, e os atacantes sofrem. E quando perde a bola, não recupera a bola no campo do adversário. O Corinthians está entre as equipes que menos recupera bola no campo do adversário. Isso ajuda a equipe, guarda energia para atacar, isso que faremos num curto espaço de tempo
O contrato do treinador vai até o fim de 2025. Mano afirmou que tentará montar uma nova equipe para a próxima temporada. E, diferentemente do que ocorreu de 2014 para 2015, quando deixou o cargo para a entrada de Tite, diz que espera desfrutar da remontagem da sua equipe.
Algo que, no Internacional, ele entende que não conseguiu fazer:
– Quando voltei na segunda vez, nós fizemos um ano de trabalho e, quando estávamos alinhavando algumas coisas, prometi entregar uma nova equipe montada até o final do ano. A gente conseguiu fazer uma nova equipe. É só ver como iniciamos a temporada e como terminamos (em 2014). Quando o time estava ficando pronto, veio a eleição, a opção justa e correta de quem você quer trabalhar. Mas para quem montou é ruim, na hora de usufruir você vai embora.
– Agora saio de um trabalho de um ano e quatro meses (no Inter). Passamos um semestre esperando a janela para não contratar quantidade, mas qualidade. Me expus, deixei meu nome sendo desgastado, tomando pancada, e o time está montado. Na janela, chegaram três jogadores de seleção e isso se reflete. Para quem saiu, é ruim. Vamos dessa vez tentar montar e usufruir da montagem do trabalho para que as coisas sejam justas.
Mano Menezes, técnico do Corinthians — Foto: Marcelo Braga
O treinador, porém, disse que não chega para fazer “uma limpa” nos jogadores mais velhos do elenco:
– Não gosto da palavra laboratório em futebol, acho meio desrespeitoso. A gente sempre faz avaliação. Quem pensa que a avaliação é só em dezembro não entende nada desse negócio. O jogador entra em um mau momento, sai perdendo. O jogador entra em um bom momento, o clube sai perdendo, porque faz contrato longo. As coisas são mais constantes e complexas. Não vim para tirar jogador porque o jogador está com 38 ou ficar com jogador porque ele está com 21.
– Eu vim para escolher o melhor para o Corinthians. Não existe essa história de tirar todo mundo e começar só com jovem, porque isso não se sustenta. As coisas serão feitas com comedimento. Eu não tenho nada contra a idade. Tem jogadores com 42 anos sendo os melhores da posição no Brasileiro. O que vale é rendimento, performance e constância.
Assim como nas outras passagens, Mano encontra um ambiente complicado. Desta vez, por conta da proximidade do período eleitoral, já que em 25 de novembro será eleito um novo presidente no clube.
– Não acho que as coisas se repetem. Todas as situações são diferentes. Essa situação pode ter traços semelhantes, mas vai ser vivida agora. O que nós conversamos muito, presidente, eu, Alessandro, é estabelecer relação capaz de sustentar no futebol as eventualidades de um ano político, o que tem qualquer clube. A gente procura evitar que elas venham para dentro do futebol, elas não se dão bem. Das questões políticas, o clube trata. Eu vou tratar das questões técnicas.
Veja mais trechos da coletiva:
- Como encontra o Corinthians
– Eu acredito muito em ideia, conceito de jogar. Os jogadores todos estão sempre precisando disso. Esse é o papel principal de um técnico de futebol. O que eu quero fazer em curto prazo, com traços simples e objetivos, você não vai fazer coisas tão complexas num curto espaço de tempo. Esses traços simples é para que os jogadores tenham uma consciência do que queremos fazer em cada uma das partidas para que a gente faça bem feito. Se eu não deixar isso claro, vai haver uma confusão, que é um prato cheio para as coisas não andarem bem.
- Renato Augusto
– Eu penso que um grande jogador, um jogador diferenciado tem que jogar o maior número de vezes possível. Se a equipe se apoia muito num jogador pela sua qualidade técnica e ele não está, a equipe sente isso. Vamos procurar administrar bem essas questões, às vezes poupando durante o jogo, para ele não ficar ausente em outros jogos. Quando chegamos aqui na outra passagem, Renato vivia situação parecida, tinha encerrado a temporada anterior com dificuldade, jogado poucos jogos. Nas temporadas seguintes ele foi participativo e decisivo como agora. É o que vamos pensar para ele e para todos os jogadores, precisa de mais gente para estar aí, ser não apenas coadjuvante, não pode ter isso só em um ou dois jogadores, a equipe não se sustenta assim.
- Bruno Méndez
– Eu o utilizei algumas vezes como lateral no Internacional. Contra o Santos, ele fez o gol de empate como lateral-direito num jogo em que empatamos em 1 a 1. Ele tem essa versatilidade, tem força, não é um lateral de apoio, no sentido de ultrapassagem, mas é um jogador que pode estar no apoio por trás de um atacante mais agudo. Às vezes você tem um time mais baixo em estatura e ganha um lateral mais alto. Ele pode fazer as duas funções. Tentamos equilibrar a questão da estatura, que é fundamental. Temos dois zagueiros altos, Gil e Veríssimo, Bruno pode compor como qualquer um dos dois, tanto pelo lado direito quanto pelo lado esquerdo. Ele entrega tudo quando está em campo, isso contagia os outros jogadores, às vezes é esse temperamento que um jogo importante precisa
- Jogadores com quem já trabalhou
– Não gosto desse contato direto de treinador e jogador. O jogador de futebol tem muitos direitos, mas não deve ir além desses direitos ao ligar para treinador, isso e aquilo. Nem treinador para jogador quando ele está em outro clube. É bom ter jogadores que já trabalharam com a gente, quase a defesa toda. Você tem questões de padrão de defender que vão se repetir a cada jogo, a cada momento, você ter ideia do que o treinador gosta de fazer ajuda, encurta caminho. Só não podemos esquecer que estamos um pouquinho mais velhos, temos que conhecer atalhos, contrabalancear com a juventude que perdemos um pouco.
- Conceitos de futebol
– 80% de futebol é posicionamento. Nossos times são muito parecidos tecnicamente falando, raramente você tem jogadores tão fora de série em nossas equipes no Brasil, os outros estão em níveis parecidos. O que faz diferença de uma equipe para outra são ideias, conceitos e execução. Quanto mais alonga o trabalho, melhor entrosamento consegue. Não se tem que inventar coisas mirabolantes nessa hora porque certamente não vão funcionar em curto espaço de tempo.
- Paolo Guerrero e Yuri Alberto
– Quando cheguei aqui (em 2014), o Corinthians jogava com três Romarinho, Guerrero e Sheik. E o time tinha ganho tudo daquela maneira. Mas num momento que aquele sistema não funcionava, os adversários te marcam bem, e você muda. Deixei dois atacantes e trouxe um a mais para o meio: dois volantes e dois meias. Um bem misto que era Petros de início. E tirei Guerrero de só jogar de costas e tomar pancada, ele gostou, apanhava muito. Eu tinha visto ele jogar uma Copa América no Peru desta maneira, conversamos disso. Ele tinha mais espaço. Foi o que fizemos. Vamos pensar no Yuri Alberto da mesma maneira. Ele já fez jogos melhores mais recentes. Às vezes o jogador perde um pouco da característica pela forma de jogar do time. Ele vai crescer.
- Gabriel Moscardo e outros jovens
– Não gostaria de individualizar muito as análises, os treinadores sempre valorizam as questões coletivas. Temos muitos jovens com potencial, hoje passo a vê-los com mais detalhes, com outros olhos e vou conhecê-los pessoalmente, o que aponta caminhos para o desenvolvimento deles.
- Desempenho x resultado
– O título não dá um futebol diferenciado para a equipe, mas dá confiança, rótulo de vencedor. E esse rótulo alivia a pressão que acompanha as equipes. Quando você fica um tempo sem vencer, sente a pressão do jogo decisivo. Quando passa a ser vencedor, aquilo passa a ser natural, sente menos tensão na hora da decisão. Isso a conquista dá para os jogadores. Tendo jogadores assim, não diminui a fome das conquistas. Eles sabem o gosto disso e já estão preparados para isso. Quem não está preparado, perde rendimento na hora da tensão maior, você está mais preso, arrisca menos, opta pelo mais simples e, às vezes, isso não é suficiente. Esses jogadores estão acostumados com isso.
– Eu gosto de desempenho bom, sempre que a gente sempre puder alinhar desempenho às vitórias… Todos os treinadores trabalham para isso, mas não pode ser menos importante ganhar do que jogar bem. Vencer ajuda a ter desempenho melhor ali na frente. Você vai ganhando conquistas, ganhando confiança, qualidade, vai mantendo o trabalho mais tempo. Tudo isso significa ganho a médio prazo. Continua sendo muito importante e o torcedor gosta de ganhar, principalmente o torcedor brasileiro. Sobre jogar fora de casa, é difícil para todos. Se olharmos times que estão na primeira colocação, eles também tem dificuldades. América Latina toda, onde o ambiente influencia muito. É muito ganhar do Corinthians na casa do Corinthians, todo mundo sabe. A equipe precisa ser mais consistente, isso depende do desenvolvimento dos conceitos, vai fazer fora de casa as coisas bem feitas.
Por Bruno Cassucci e Marcelo Braga — São Paulo
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