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Poucas horas antes da final da Copa do Brasil, a cabeça de Renato Portaluppi fervilha

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Críticas, renovação com o Grêmio, reforços e final da Copa do Brasil: falamos com Renato Portaluppi

Em entrevista ao ge, técnico fala sobre a decisão de seguir no clube por mais uma temporada, diz que recusou proposta do Atlético-MG e projeta decisão conta o Palmeiras

Poucas horas antes da final da Copa do Brasil, a cabeça de Renato Portaluppi fervilha. Muito mais com o futuro, mas também com a partida com o Palmeiras, no domingo, no Allianz Parque. Em entrevista ao ge, o técnico do Grêmio projetou a decisão, admitiu o rendimento abaixo do esperado em 2020 e falou sobre os planos de turbinar o elenco com os reforços prometidos para 2021.

Se o rendimento pode não ter sido o desejado, também é verdade que o Grêmio entra com todas as forças para conquistas mais um título. O técnico deixou aberta a possibilidade de mudanças na equipe e reconheceu um elenco envelhecido em relação aos últimos anos. Seria um fim de ciclo? Nada disso.

Com contrato renovado para sua sexta temporada seguida no comando do Grêmio – disparado o técnico há mais tempo em um clube no futebol brasileiro – Renato também falou das críticas que considera injustas e da possibilidade real de sair. Além de confirmar a procura do Atlético-MG, disse que a ligação com o Grêmio pesou na hora de decidir pela permanência – em setembro são cinco anos no cargo – e que o ciclo vitorioso tem tudo para continuar.

Renato Gaúcho, técnico Grêmio — Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Renato Gaúcho, técnico Grêmio — Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Confira a entrevista com Renato:

ge – Você confirmou a renovação de contrato com o Grêmio hoje (sexta-feira) para manter um projeto a longo prazo. Houve mesmo possibilidades concretas de sair?
Renato Potaluppi – 
Teve, né, a do Atlético-MG, outras lá de fora também. Se fosse para parar em termos financeiros, eram propostas melhores. Mas nunca coloquei o dinheiro em primeiro lugar. Coloquei que, acima de tudo, sou gremista. Dar continuidade ao projeto de trabalhar com os garotos e tenho a promessa do presidente de contratar três ou quatro jogadores para que a gente fortaleça ainda mais nosso grupo e possa brigar por coisas maiores no ano de 2021.

Os investimentos, que você citou em outros momentos, irão ocorrer? E dá para adiantar onde o Grêmio irá mirar para investir?
De nomes, não dá para falar. A coisa mais importante é o jogo de domingo, a decisão da Copa do Brasil. Agora, pode ter certeza que não estamos parados. Estamos se movimentando, se mexendo com os nomes que temos em mente. Para que os jogadores possam qualificar o nosso grupo. Até porque todo ano vamos vendendo jogadores. Alguns meses atrás vendemos o melhor jogador, que era o Cebolinha. É uma coisa normal, nosso grupo vem envelhecendo, né. É necessário, vamos continuar o projeto, eu adoro trabalhar com os garotos. Mas, ao mesmo tempo, é importante qualificar o grupo com três ou quatro jogadores, que eu tenho a palavra do presidente. Sobre isso estamos nos movimentando.

Sei que você pode não confirmar, mas alguns nomes estão surgindo. Roger Guedes, Alex Teixeira… É nesse caminho mais ou menos que vai o Grêmio?
Eu falei que vamos contratar três ou quatro jogadores, não vou tocar em nomes. Não falo de jogadores que não foram contratados. Porque no momento que a gente fala, se custa “x”, vai valer mais. Aí as negociações se complicam. O importante é que tenho a palavra do presidente, e a gente vai dar sequência no projeto de trabalhar com os garotos também. Mas fortalecendo para que a gente possa brigar por coisas maiores em 2021.

Se fosse para parar em termos financeiros, eram propostas melhores. Mas nunca coloquei o dinheiro em primeiro lugar. Coloquei que, acima de tudo, sou gremista.— Renato Portaluppi

Mudando de assunto. Como você fica a poucas horas de uma decisão de título? Fica muito inquieto, consegue ficar tranquilo, pensativo no jogo?
É um pouco de tudo. Até porque estamos em mais uma final, né. Não é pouca coisa não. É uma competição nacional, todo mundo quer. Como estava falando, enfraquecemos nosso grupo, foi envelhecendo, e o Grêmio chega praticamente sempre nas competições. Não vai ganhar todas, mas estamos em mais uma final de Copa do Brasil. Tudo o que acontece com o treinador ou jogador que você falou, ficar tranquilo, descontraído, nervoso, é normal. Faz parte da nossa profissão. Só que até domingo, 18 horas, é uma eternidade. Mas a gente já está acostumado. O mais importante é que temos mais 90 minutos pela frente, com todo respeito ao Palmeiras, mas sabemos que temos condições de reverter. É um jogo difícil para a gente, como é para o Palmeiras, não tem o gol qualificado. Um gol leva o jogo para os pênaltis. Tudo pode acontecer.

Passa por onde uma reversão? Postura, tática?
É jogar. O Grêmio voltar a jogar o futebol que todo mundo sabe e conhece. Temos pouco tempo para treinar. Temos vendido bastante jogadores, temos enfraquecido nosso grupo, entendeu? A cobrança é muito grande em cima de tudo isso. Mas, mesmo assim, estamos em mais uma final. Acima de tudo, o que não pode e não vai faltar é vontade, garra, entrega, determinação. Essas coisas, além da parte tática, é que não pode faltar no jogo. Até porque uma decisão é sempre complicada. Dei o exemplo da final da Libertadores entre Palmeiras e Santos, não teve situações de gols e aí o Palmeiras fez aquele gol no final. Da mesma forma foram os primeiros 90 minutos, se aproveitou de uma falha nossa. Mas tem mais 90 e tudo pode acontecer. São os últimos 90 minutos e pode ter certeza que vai ser um jogo bem diferente do que foi em Porto Alegre.

Grêmio anuncia renovação de contrato com Renato Portaluppi até o fim de 2021

Grêmio anuncia renovação de contrato com Renato Portaluppi até o fim de 2021

Você citou questão de rendimento, que o grupo foi envelhecendo e perdendo peças com as vendas. No período da pandemia, quando voltou o futebol, já se esperava um impacto no rendimento de todos os clubes. O Grêmio ficou abaixo do que você gostaria?
Claro que o Grêmio tem que melhorar, não rendeu tanto quanto nós esperávamos. Mas por outro lado é compreensível. A pandemia, com muitos problemas para todo mundo. Enfraquecemos o grupo, envelheceu o grupo. Com tudo isso, o Grêmio sempre chegou nas competições, estava em uma Libertadores, Copa do Brasil, no Brasileiro, e praticamente não investiu. Onde outras grandes equipes investiram muito e não chegaram. Às vezes, a cobrança é exagerada, mas temos que colocar na balança e ver o porquê. Por isso a conversa com o presidente e com o Amodeo, homem das finanças, justamente por isso. Vou dar continuidade e é muito importante continuar com o projeto de trabalhar com os garotos, formar jogadores da base, é fundamental para o clube. Até porque se encontra em situação boa por termos descobertos os garotos. E ao mesmo tempo tenho a palavra que vamos contratar três ou quatro jogadores, estamos nos movimentando para qualificar nosso grupo.Às vezes, a cobrança é exagerada, mas temos que colocar na balança e ver o porquê. Por isso a conversa com o presidente e com o Amodeo, homem das finanças, justamente por isso— Renato

Se falarmos em investimentos, neste ano o Grêmio trouxe o Diego Churín, o Pinares e o Diogo Barbosa. Dá para esperar investimentos maiores que esses?
Olha, às vezes a gente quer trazer um jogador e barra na parte financeira. Já é difícil encontrar, estamos de olho em três ou quatro, nos movimentando. Não vou falar se é mais caro ou barato, mas pode ter certeza que se chegarem, vão qualificar. O torcedor quer, nós queremos. Para fortalecer e brigar por coisas maiores.

O título da Copa do Brasil também significa uma tranquilidade maior para a próxima temporada?
Foi um ano difícil para todo mundo. Lógico que queremos ganhar, o Palmeiras também quer. É difícil para todos. Outros grandes investiram muito e não ganharam. E o Grêmio está em mais uma final de Copa do Brasil. Competição importante, de nível nacional. Se for ver, quem foi campeão neste ano foi o Flamengo, que conseguiu o Brasileiro, e o Palmeiras, que ganhou a Libertadores. O resto, quem ganhou foi o estadual. E aí? Parece que às vezes os grandes ganharam há dois, três meses atrás. Todos querem ganhar. Não é só o Grêmio. Até pouco tempo, estava em três competições sem ter investido muito. Por isso a promessa de contratar e estamos nos mexendo. A coisa mais importante é o jogo de domingo, mas não podemos esperar para colocar a mão na massa. A gente está se mexendo, mas hoje em dia qualquer nome o preço é absurdo, principalmente quando o Grêmio se interessa. E quando encontra, porque é difícil também.

Você vai para a sexta temporada seguida no Grêmio com a renovação. Neste período de 2020, teve gente que citou fim de ciclo, fadiga. Você sentiu isso em algum momento da temporada?
Não, não. Sinceramente, não. Por isso que acabei de falar, desde 2016, quando cheguei aqui, temos três jogadores. O Kannemann, Geromel e Maicon. O quarto seria o Marcelo Oliveira, um elo entre grupo de jogadores, diretoria e comissão. Houve muitas mudanças no plantel, vendemos muitos jogadores, que era uma coisa necessário para o sustento do clube. Até pouco tempo atrás vendemos nosso melhor jogador. É uma coisa normal, só vender você vai enfraquecendo o grupo. Trouxemos o Churín, Pinares há pouco tempo, o próprio Diogo. É normal, o grupo vai envelhecendo também. É necessário botar oxigênio novo com jogadores qualificados para fortalecer, como já falei. E dar seguimento com o projeto de trabalhar com os garotos. É muito necessário e importante continuar descobrindo novos talentos da base para continuar nos ajudando no profissional. E quem sabe amanhã ou depois formar um jogador para ser vendido novamente.

No anúncio da renovação, você e o presidente Romildo citaram a ideia de trabalhar com a base e revelar jogadores. Os garotos da base serão aproveitados mais cedo?
É saber trabalhar o garoto. Lançar o garoto. Independentemente da idade. Não pode quando as coisas não estão dando certo lançar um jovem e transmitir a responsabilidade. Ao mesmo tempo vai dar oportunidade, mas vai acabar queimando o garoto, porque ele não está pronto para aquela responsabilidade. Tem que trazer para o profissional, dar a lapidada, passar muita confiança para ele e ir soltando aos poucos. Independentemente da idade. Eu não tenho essa preocupação se tem 17, 18, 21 anos. Vendo a qualidade, sentindo que dá para soltar, vou soltar. Assim forma o garoto. Não tem que esperar completar 23 anos, 24 anos. O garoto se tiver 18 ou 19 e tiver com qualidade suficiente, ele vai estar. Eu mais do que ninguém torço para que isso aconteça. Agora também tem que ter calma. Não vai ser da noite para o dia que o Grêmio vai colocar o garoto para jogar e ele vai explodir. Tem que ir com calma para não queimar o garoto. Mas estamos atentos com os garotos da base, sempre vão ter oportunidades. E aí quem dá a resposta é o garoto.

Pergunto isso porque o presidente falou em antecipar esse processo. A torcida também pede muito isso, citando, por exemplo, o Elias, que está no grupo de transição.
Sem dúvida, esse é o projeto. Essa é a sequência do projeto. Mas é importante que o jogador também nos dê a resposta, independentemente da idade dele. O que a gente mais quer, mais gosta, é formar jogadores. Nos últimos anos vocês tiveram exemplo. Queremos continuar no projeto, formando jogadores, e estamos sempre atentos. Infelizmente também, nos últimos 12 meses, a pandemia atrapalhou. Eu gosto de fazer coletivos do profissional com a base para analisar melhor os jogadores. Mas por causa da pandemia, porque temos que ser testados a cada dois, três dias, nos prejudicou. Mas estamos sempre atentos. Dentro do possível, trazemos para cima para treinar, a maior prova foi a estreia do estadual quando tínhamos já vários garotos. Quanto ao projeto, estamos praticamente 24 horas em cima.

Você atingiu o recorde de jogos de um treinador no Grêmio e já era considerado o maior jogador da história do clube. Você já se vê como maior treinador da história?
Eu trabalho para isso, né. Acho que são os méritos de todo mundo, do presidente ao roupeiro, todos os departamentos têm de funcionar, como têm funcionado. É por isso que falei, se hoje sou um dos maiores treinadores, é pelos resultados que tenho ajudado a dar. Por isso muitas vezes acho as críticas um pouco injustas. Não só de minha parte, por parte do grupo, diretoria, do presidente. A gente quer ganhar, trabalhamos para isso. Mas ne sempre é possível. Ao mesmo tempo nós fomos culpados porque o Grêmio ficou 15 anos em uma fila sem ganhar um título e de repente começou a ganhar, Copa do Brasil, Libertadores, Recopa. O torcedor ficou entusiasmado demais e acha que toda competição que o Grêmio disputa tem que ganhar. E não é assim. E mesmo sem o investimento que acabei de falar, muitas vezes enfraquecendo nosso grupo, o Grêmio chega sempre. Está aí em mais uma final. Onde muitos gostariam de estar.

Renato no jogo de ida da final da Copa do Brsail — Foto: Reuters

Sobre a final, há possibilidade de mudanças no time, alguma peça diferente?
Tudo pode acontecer. Até porque alguma coisa sempre precisa ser modificada. Principalmente quando as coisas não dão certo de acordo com o que a gente espera. No próximo domingo tudo pode acontecer.

Em 2020 se falou muito da preparação física. Você até falou em entrevista que bancava o professor Márcio Meira. O Grêmio correu pouco nesta temporada?
Não é que correu pouco. Correu pouco na cabeça de alguns e chegou em três competições. Eu vi clubes disputando uma competição e jogadores com cãibra. E aí, eu pergunto, e aí? Correu pouco também? O mais importante é o jogo de domingo, tenho conversado bastante com as lideranças dentro do clube, temos trocado ideias. O torcedor pode ficar tranquilo que sempre que é necessário fazer algum tipo de mudança, vamos fazer. Sem dúvida. Se é para o bem do clube, a gente faz. Não pode é muitas vezes faltando três ou quatro jogos achar que está tudo errado e tem que mudar tudo. Não é bem assim. Até pouco tempo atrás o Grêmio estava em três competições, só tem mais uma e o Grêmio está na final. Quando acabar o jogo domingo, temos conversado bastante, e a partir da próxima semana se a gente tiver que tomar alguma providência, a gente vai tomar.

Por Eduardo Moura — São Paulo

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