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Qual é o melhor livro de cada estado brasileiro? Professores votam

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Após americana viralizar com Machado de Assis, professores votam: qual é o melhor livro de cada estado brasileiro?

Em projeto pessoal, escritora americana Courtney Novak escolheu conhecer uma obra por país do mundo e bombou no TikTok ao se apaixonar por ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’. G1 montou o ‘concurso’ na versão brasileira e elegeu ‘medalhistas’.

A “culpa” desta reportagem (sim, “culpa”, porque certamente vocês discordarão de parte do texto e criticarão o g1) é da escritora americana Courtney Novak, que viralizou no TikTok ao ficar obcecada por Machado de Assis e a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. “Não sei o que vou fazer da vida quando terminar”, disse ela, no vídeo.

Courtney conheceu esse clássico da literatura brasileira durante um projeto pessoal: ela se propôs a ler um livro de cada país do mundo. Foi aí que tivemos a ideia de adaptar o mesmo desafio ao nosso território – qual seria a obra mais indicada para representar cada estado do Brasil?

📖Quatro professores de literatura receberam a dura missão de escolher seus favoritos. Enfrentaram muitos dilemas: como tomar partido em uma batalha entre Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, em Minas Gerais? E no Rio de Janeiro, com Machado de Assis, qual dos tantos sucessos dele seria o maior de todos?

Fora as questões de “RG”. Clarice Lispector foi reconhecida como cidadã pernambucana, mas nasceu na Ucrânia; Carolina Maria de Jesus retratou a favela do Canindé, em São Paulo, apesar de ter nascido em Minas Gerais. Na classificação geral, optamos por priorizar, em cada estado, escritores em sua terra-natal.

Vamos aos resultados. Quem sabe você não se inspire a encarar uma expedição literária pelo país?

Veja o mapa abaixo e, em seguida, confira a sinopse de cada uma das obras mencionadas:

NORTE

Acre:

  • Obra: “O Seringal” (1972)
  • Autor: Miguel Jeronymo Ferrante
  • Enredo: O livro descreve o ciclo da borracha e as condições de trabalho dos seringueiros.
  • Outra sugestão: O escritor José Potyguara, embora tenha nascido no Ceará (em Sobral), foi para o Acre após concluir a faculdade de direito. Passou a escrever histórias regionais sobre o estado, como “Terra Caída” (1986), que narra a chegada de três famílias que fogem da seca nordestina e chegam aos seringais, onde são exploradas por coronéis.

Amazonas:

  • Obra: “Relato de um certo Oriente” (1989)
  • Autor: Milton Hatoum
  • Enredo:

“O romance explora a identidade cultural amazonense e combina as memórias familiares com a rica paisagem da região”, explicam os professores da equipe de português do Poliedro (SP).

  • O livro, inclusive, inspirou a criação do filme com o mesmo nome, produzido pela Globo Filmes e lançado no início de 2024. É possível acompanhar a saga de imigrantes libaneses na Amazônia brasileira com as atuações de Wafa’a Celine Halawi, Charbel Kamel, Zakaria Kaakour, Eros Galbiati e Rosa Peixoto.
  • Outras sugestões: “Dois Irmãos”, a obra mais conhecida de Milton Hatoum, venceu o prêmio Jabuti em 2001.

Amapá:

  • Obra: “Poemas do Homem do Cais” (1950-1982)
  • Autor: Alcy Araújo
  • Enredo: Uma seleção de 40 poemas celebra 100 anos do poeta paraense Alcy Araújo. Abrimos uma exceção neste caso, porque todos os autores que falam sobre o Acre e que foram mencionados pelos professores haviam nascido em estados vizinhos.

Pará:

  • Obra: “Sumidouro” (1977)
  • Autora: Olga Savary
  • Enredo: O livro reúne poemas que falam sobre o exercício de ser poeta e os universos de criação do artista. Recebeu o Prêmio de Poesia 1977 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
  • Outra sugestão: Adriano Soares, professor e autor do Fibonacci Sistema de Ensino, recomenda ‘Contos Amazônicos’, do paraense Inglês de Sousa. “Trata-se de uma coletânea de contos que apresentam a região amazônica, a cultura e o folclore. Meu conto preferido é ‘A festa do judeu’, que tematiza a lenda do boto”, diz.

Rondônia

  • Obra: “Cidade Morta”
  • Autor: Otávio Afonso
  • Enredo: Única obra autoral de Afonso – poeta, jornalista e funcionário público – é essa poesia, vencedora do Prêmio Casa de las Américas em 1980.

Roraima

  • Obra: “Makunaimãtaani – Presente de Makunaimã”
  • Autor: Kamuu Dan Wapichana
  • Enredo: O livro infantil bilíngue (em português e Wapichana) conta a história de indígenas que trocam as sementes de milho nativo, presentes de Makunaimã, por outras trazidas pelo Karaiwenau. Com isso, vem o problema: o milho começa a adoecer.

Tocantins

  • Obra: “Meu Primeiro Picolé” (2004)
  • Autor: José Concesso
  • Enredo: A obra é uma coletânea de contos, crônicas e ensaios sobre a vida do autor na pequena cidade de Rio Espera, em Minas Gerais.

NORDESTE

Alagoas

  • Obra: “Vidas Secas” (1938)
  • Autor: Graciliano Ramos
  • Enredo: A obra, uma das mais representativas da literatura brasileira, retrata a vida de uma família de retirantes que peregrina pelo sertão nordestino.

Bahia

  • Obra: “Capitães da Areia” (1937)
  • Autor: Jorge Amado
  • Enredo: Amado escreve sobre meninos abandonados que crescem nas ruas de Salvador e que cometem furtos para sobreviver. O líder do grupo é Pedro Bala, de 15 anos, filho de um estivador que morreu em uma greve. É um romance com forte crítica social.
  • Outras recomendações: Os professores entrevistados mencionaram outras duas grandes obras de Jorge Amado – “Gabriela, Cravo e Canela” (1958) e “Tereza Batista Cansada de Guerra” (1972).

Ceará

  • Obra: “O Quinze” (1930)
  • Autora: Rachel de Queiroz
  • Enredo: O primeiro e mais famoso romance da autora modernista descreve a grande seca de 1915 no Nordeste, por meio das histórias dos personagens Conceição, Vicente e o vaqueiro Chico Bento. Foi a obra que tornou Queiroz uma renomada escritora regionalista.

Maranhão

O primeiro lugar ficou dividido entre:

  • Obra: “Úrsula”
  • Autora: Maria Firmina dos Reis
  • Enredo: É a primeira obra da literatura afro-brasileira. Com forte crítica à escravidão, Maria Firmina dos Reis escreve sobre a relação ultrarromântica dos jovens Tancredo e Úrsula.

E:

  • Obra: “O Cortiço” (1890)
  • Autor: Aluísio Azevedo
  • Enredo: Com olhar darwinista, Azevedo representa os marginalizados (como malandros, lavadeiras e trabalhadores braçais) e a forma como são orientados por seus instintos e vícios. Todos vivem no maior cortiço do Rio de Janeiro no século XIX.

Paraíba

  • Obra: “O Auto da Compadecida” (1955)
  • Autor: Ariano Suassuna
  • Enredo: A peça teatral, em 3 atos, é um símbolo da cultura popular, com inspiração na literatura de cordel. Ela retrata as aventuras dos amigos João Grilo e Chicó, que tentam sobreviver, com malandragem e esperteza, a um ambiente miserável no sertão nordestino.
  • A história de Suassuna inspirou a criação de um filme homônimo, campeão de bilheteria, estrelado por Selton Mello e Matheus Nachtergaele.

Pernambuco

Houve um empate entre:

  • Obra: “Morte e Vida Severina” (1955)
  • Autor: João Cabral de Melo Neto
  • Enredo: O poema, um clássico da literatura brasileira e do regionalismo, traz uma crítica social a partir da viagem de retirantes nordestinos. Severino e sua família, representando os sertanejos, buscam melhores condições de vida, mas encontram a pobreza e a morte na trajetória.

E:

  • Obra: “Estrela da Vida Inteira” (1965)
  • Autor: Manuel Bandeira
  • Enredo: A obra reúne a poesia completa de Bandeira, autor modernista que usa uma linguagem coloquial e irreverente para abordar temas como saudade, infância e solidão, sempre com viés crítico.

Piauí

  • Obra: “Os Últimos Dias de Paupéria”
  • Autor: Torquato Neto
  • Enredo: Torquato Neto, poeta, jornalista e cineasta piauiense, foi um importante nome do Tropicalismo. A obra é uma coletânea póstuma de poemas e textos jornalísticos escritos por ele.

Rio Grande do Norte

  • Obra: Conselhos a minha filha (1845)
  • Autora: Nísia Floresta
  • Enredo: Nísia estimula a autonomia intelectual da própria filha e demonstra preocupação com a autonomia feminina no século XIX.

E, também na primeira posição:

  • Obra: Oiteiro: Memórias de uma sinhá-moça (1958)
  • Autor: Madalena Antunes
  • Enredo: Primeira e única obra da autora, escrita quando ela tinha 78 anos, narra a infância da autora em Ceará Mirim na década de 1920.

Sergipe

  • Obra: “Feijão de cego” (2009)
  • Autor: Vladimir Souza Carvalho
  • Enredo: A obra é uma coletânea de 33 contos que retratam a cultura do agreste de Sergipe no século XX.

CENTRO-OESTE

Goiás

  • Obra: “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias” (1965)
  • Autor: Cora Coralina
  • Enredo: O primeiro livro de Cora Coralina, publicado quando ela tinha 75 anos, traz uma reflexão sobre o cotidiano dos becos de Goiás e as inquietações humanas. Foi um sucesso e alçou a autora ao posto de uma das maiores poetas mulheres do século XX.

Mato Grosso

  • Obra: Livro sobre nada (1996)
  • Autor: Manoel de Barros
  • Enredo: O livro traz poemas curtos, que subvertem a linguagem usual para mostrar que o eu-lírico adere a “tudo o que não tem importância”. É uma das obras mais conhecidas de Manoel de Barros.

Mato Grosso do Sul

  • Obras: Jardim Fechado – Uma antologia poética (2016); Fiandeira
  • Autora: Raquel Naveira
  • Enredo: “Jardim Fechado” é dividido em quinze capítulos e conta a história de Raquel Naveira – ela mesma chegou a dizer que sua obra é “a voz das pessoas que vivem em Mato Grosso do Sul”. E “Fiandeira” tem referências à mitologia grega e à Revolução Industrial para falar sobre o “fazer poético” em uma mistura de prosa e poesia.

SUDESTE

Espírito Santo

  • Obra: Crônicas do Espírito Santo; 50 Crônicas Escolhidas (1984)
  • Autor: Rubem Braga
  • Enredo: Em “Crônicas do Espírito Santo”, Braga reúne as crônicas sobre sua terra natal.

Minas Gerais

  • Obra: “Alguma poesia”
  • Autor: Carlos Drummond de Andrade
  • Enredo: O primeiro livro de Drummond traz poemas famosos do autor, como “Quadrilha” e “No meio do caminho”.

E, empatado, vem Guimarães Rosa:

  • Obra: “Grande Sertão: Veredas” (1956)
  • Autor: João Guimarães Rosa
  • Enredo: Neste romance emblemático na literatura brasileira, com um estilo de linguagem inovador, Rosa apresenta ao leitor o ex-jagunço Riobaldo, com suas lutas, medos e paixões.

Rio de Janeiro

  • Obra: Dom Casmurro (1899)
  • Autor: Machado de Assis
  • Enredo: Em primeira pessoa, Bentinho conta sua história de amor pela vizinha Capitu. Com críticas à sociedade brasileira do fim do século XIX, Machado de Assis escreve um grande clássico sobre temas como traição, amor e ciúmes.

São Paulo

  • Obra: Macunaíma (1928)
  • Autor: Mário de Andrade
  • Enredo: Considerada a obra-prima de Mário de Andrade, “Macunaíma” conta a história de um “herói sem nenhum caráter” que sai da Amazônia e vai para São Paulo em busca de sua pedra-amuleto, a muiraquitã. É um retrato da sociedade brasileira.

“Trata-se de uma obra que se tornou símbolo da identidade cultural brasileira, misturando mitos, lendas e a diversidade do país”, explicam os professores do Poliedro.

  • Outras recomendações: “As Meninas” e “Ciranda de Pedra”, de Lygia Fagundes Telles; “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus [a escritora nasceu em Minas Gerais, mas retrata a vida na favela de São Paulo].

SUL

Paraná

  • Obra: O Vampiro de Curitiba (1965)
  • Autor: Dalton Trevisan
  • Enredo: O livro reúne 15 contos, quase todos ambientados em Curitiba, para relatar, com suspenses e enigmas, o dia a dia degradante dos seres humanos.

Rio Grande do Sul

  • Obra: “O Tempo e o Vento” (1949–1962)
  • Autor: Erico Veríssimo
  • Enredo: A série literária, composta por sete volumes, conta a história do Rio Grande do Sul (desde a formação do estado) por meio das disputadas entre as famílias Terra, Cambará e Amaral.

Santa Catarina

  • Obra: Broquéis (1893)
  • Autor: Cruz e Souza
  • Enredo: O livro traz 54 poemas do autor simbolista Cruz e Souza. Com jogos de palavras e tom erudito, os textos trazem sempre a presença da cor branca (seja do luar, da neblina ou da neve) como elemento para representar a espiritualidade
  • Outra recomendação: “Missal”, do mesmo autor, “denuncia o racismo e aborda questões existenciais e metafísicas”, afirmam os professores do Poliedro.

Por Luiza Tenente, g1

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