Spaten Fight Night: Anderson Silva e Chael Sonnen duelam em reencontro histórico

Sonnen comemora “última chance” contra Anderson: “Sonhei com isso”

Antes de trilogia deste sábado, americano admite “inveja” da carreira do arquirrival brasileiro: “Ele é quem eu queria ser”

Chael Sonnen não queria sair do palco. Pela primeira vez em anos, se via diante de uma multidão que estava ali para vê-lo e ouví-lo. A empolgação foi tão grande que o “Gângster Americano” tirou a camisa, em momento que viralizou nas redes sociais.

Você acompanha a luta entre Anderson e Sonnen no sábado (15/06) ao vivo na TV Globo depois do Altas Horas e todas as lutas da noite ao vivo e na íntegra a partir de 22h no canal Combate.

Chael Sonnen na coletiva do Spaten Fight Night — Foto: Adriano Albuquerque

A cena aconteceu na última quarta-feira, no palco montado na Avenida Brig. Faria Lima, em São Paulo, para promover a primeira encarada entre Sonnen e Anderson Silva, estrelas do Spaten Fight Night deste sábado. A estimativa da organização foi de que quatro mil pessoas compareceram ao evento.

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– Quando subi ao palco, não conseguia acreditar! Tinha gente até onde eu conseguia ver, tinha gente além de onde eu conseguia ver, que viraram pontinhos. Não conseguia ver minha família, eles estavam gritando, eles estavam felizes, começaram a cantar – eu não sei qual era aquele canto, mas é algo como “Vamos te matar” ou “Vai morrer” – é um grito pró-Brasil, eles cantam em jogos de futebol e em lutas, e eu não sabia disso. Eu tinha medo desse grito! Pensava, “Que povo podre, não quero ir lá!” Mas eram jovens! Estavam gritando, mas me davam seus celulares pra gravar vídeos. Foi leve, foi divertido e espirituoso – disse Chael em entrevista no dia seguinte à encarada.

Sentado numa sala de reuniões no hotel em que está hospedado, com uma camisa preta e seus inseparáveis óculos – que, apesar das lentes coloridas, são de grau -, Sonnen em nada lembra o “vilão” que despertou a ira dos brasileiros entre 2010 e 2012, no auge de sua rivalidade com Anderson. As derrotas nas duas lutas com o Spider, contudo, ainda moram na cabeça do lutador americano sem necessidade de pagar aluguel e IPTU.

Por isso que o “Gângster de West Linn” não hesitou em aceitar o convite para uma terceira luta contra o arquirrival, mesmo sem lutar profissionalmente há cinco anos. Mesmo sabendo o quanto de estresse uma preparação para um combate desses traz.

– Meu sócio Ryan, quando marcou isso, me disse, “Tenho algo para ti. Você vai querer fazê-lo, mas não vou fazer se você for se estressar. Se você ficar animado e feliz, eu faço, mas não faço de outra forma.” Perguntei o que era e ele disse, “Quer enfrentar Anderson Silva?” E eu não conseguia acreditar nessa oportunidade, nunca esperei que viria. Nunca. Era uma fantasia, sonhei com isso, mas nunca pensei que aconteceria.

– Ele disse, “OK, mas sem estresse”, mas eu não posso prometer isso. É uma situação muito estressante. É uma última chance. Acho que todos podem entender em algum grau, todo mundo pensa em algo como “Ah, se eu pudesse fazer aquilo de novo”, “Se eu encontrar aquele cara que mexia comigo de novo, vou mostrar pra ele!” Não conheço ninguém que teve essa oportunidade. Essa seria a primeira vez. Mal acredito que isso está aqui – confessou Sonnen.

Na coletiva de imprensa de quarta-feira, o americano também alternou momentos de respeito e admiração com pitadas de provocação. Ele contou que era fã do brasileiro em 2002 e que teve de se convencer de que ele era “horrível” quando entrou em seu caminho no UFC. Também louvou a durabilidade de Anderson, que segue lutando aos 49 anos de idade sem se importar com os riscos associados, como aconteceu quando enfrentou o youtuber Jake Paul.

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Mas no meio da admiração, ainda há um clima de grande competitividade, que Sonnen faz questão de pontuar.

– Não tem como não ver Anderson e pensar, “Ele é o cara que eu queria ser! Ele está fazendo o que eu queria fazer!” Mas com isso também vem uma inveja. Respeito, honra e amizade são palavras bonitas, mas o que homens fazem para ter respeito e honra pode ser muito ruim às vezes. O combate é uma delas. Eu respeito e honro Anderson, mas a regra nº 1 do nosso esporte é estrago. Você pode causar mais estragos ao seu adversário do que ele pode causar em você? Foi pra isso que eu vim aqui – garantiu o wrestler.

Confira mais algumas respostas de Chael Sonnen na coletiva de imprensa:

Provocação costumeira ao Brasil

– Olha quantos de vocês vieram me agradecer! Eu tirei vocês da era das pedras. Vocês tentaram me dar uma cidadania honorária brasileira numa reunião com seu chefe de estado hoje de manhã. Eu agradeci, mas rejeitei, não quero prejudicar minha eligibilidade de ser governador no meu estado, mas é legal estar com vocês. E para cada soco que eu acerte na careca brilhante do Anderson no sábado, considerem isso como eu dizendo “De nada!”

A verdade sobre a “trapaça”

– Eu claramente estou brincando sobre isso, eu só não sei as regras do boxe! Acho que você pode usar qualquer uma das mãos, sei que não pode girar, sei que pode acertar da cintura pra cima. Sei que tem regras do clinche, que no boxe sem luvas você pode clinchar e dar golpes, só não sei qual é a regra. Estava brincando sobre a trapaça, não vou quebrar nenhuma regra. Mas aquela do clinche, eu vou tentar golpear quando o árbitro tentar nos separar! Não é trapaça se eu confessar, mas é disso que estou falando.

Anderson Silva e Chael Sonnen fazem encarada em São Paulo — Foto: Wander Roberto/Gazeta Press

Reação da família à rivalidade e amizade com Anderson

– Meu filho é fã e não entende. Perguntei a ele quem vai vencer a luta, ele disse que Anderson vai vencer, mas antes disso, quando descobriu que eu enfrentaria Anderson, ele disse, “Meu Deus, você vai enfrentar meu lutador favorito!” Eu disse, “Depois de mim, né?” e ele respondeu, “Você na verdade é o número 4, pai! Tenho Fedor e o St-Pierre na sua frente!” Ele é muito leal, mas ele não entende. E minha esposa, quando eu estava construindo toda aquela história pra segunda luta, eu não contei a ninguém, guardei segredo que tinha um show, uma performance ali, e ela não sabia e deixou ela numa posição estranha. “Mas vocês se dão bem?” Ela achou que eu fiz mesmo a tatuagem do comercial! Tem sido divertido.

Quem fica melhor de óculos?

– Os meus têm uma corzinha, então as pessoas acham que eu uso por estilo – são óculos de prescrição! Não consigo enxergar nada sem eles! E ele me disse que tem o mesmo problema! Minha mãe me disse, “Um dia você vai acordar e não vai conseguir ver”. E aconteceu, acordei, não conseguia ler, fui ao banheiro e tentei limpar os olhos com água, e pensei, “Disso que minha mãe estava falando!” Eu diria que ele fica melhor de óculos, eu ainda sou um pouco constrangido com eles.

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Importância de Anderson Silva na sua carreira

– Tente entender da minha perspectiva: Anderson venceu. Então ele tem o cinturão e o reconhecimento. Eu perdi, partiu meu coração. Mas ainda é a maior conquista esportiva que eu tive! Mesmo perdendo para ele, é a única conquista esportiva que as pessoas lembram. Eu venci dois títulos nacionais, fui reserva na equipe olímpica. Ninguém sabe disso! Eu sou campeão da superluta de Abu Dhabi, sabia disso? Ninguém mais sabe! Não recebo crédito por isso, mas recebo crédito por perder para Anderson, mas por ter sido um evento tão grande. Eu tenho uma ótima relação com Dana White, ele atenderia minha ligação agora se eu o chamasse, (mas) antes de eu enfrentar Anderson Silva, ele achava que meu nome era Kael Sonnen. Quando ele anunciou a luta, ele anunciou o próximo adversário de Anderson Silva, “Kael Sonnen”. Ele não sabia meu nome! Então, sem Anderson, eu seria só mais um dos caras. O que é legal, mas por causa dele, tive um lugar especial neste esporte.

Lugar de Anderson entre os melhores de todos os tempos

– Ele está na lista de todo mundo! O grande debate é quem é o número 1 entre Anderson Silva, Georges St-Pierre e Jon Jones. Fãs mais ardorosos colocam o Fedor (Emelianenko) na lista, e no número 5, Khabib (Nurmagomedov), pelo que fez, tem que ser considerado. Ninguém quer colocar Conor McGregor ali, ele teve algumas derrotas, mas quando ele era o campeão peso-pena e peso-leve, foi algo grande, venceu José Aldo e Eddie Alvarez, acho que ele teve uma carreira muito memorável. Tem a Ronda Rousey em algum lugar, José Aldo, houve alguns grandes. Mas ninguém tem uma lista que não seja Anderson, Jones e St-Pierre e você começa a debater a partir daí. Mas nunca vi uma lista que você precisa chegar no nº 5 pra ouvir o nome dele, nunca ouvi isso na vida. Ele está no Monte Rushmore de todos.

Por Adriano Albuquerque, Edgar Alencar, Gleidson Venga, Victor La Regina e Zeca Azevedo — São Paulo

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