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Um golaço, nem mais nem menos, decidiu a classificação do Flamengo para as semifinais da Copa do Brasil

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Entenda como o Flamengo quebrou os encaixes do Athletico com Rodinei e Filipe Luís por dentro

Mudança promovida por Dorival Júnior fez Flamengo ocupar o meio-campo e abrir espaço para Rodinei, Ribeiro e Arrascaeta. Entenda a mudança tática.

Um golaço, nem mais nem menos, decidiu a classificação do Flamengo para as semifinais da Copa do Brasil, na vitória de 1 a 0 contra o Athletico, na Arena da Baixada.

De bicicleta, Pedro acertou o ângulo e abriu o placar num jogo em que os dois times criaram muito pouco no primeiro tempo. Cenário bem diferente da segunda etapa, que mostrou o Flamengo trabalhando mais a bola e criando mais chances de gol. Foram várias chegadas de perigo antes do cruzamento que inaugurou o contador.

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A diferença do desempenho nas duas etapas pode ser explicada pela tática.

O Flamengo soube furar os encaixes de marcação que Felipão mandou a campo com uma mudança promovida por Dorival: um novo posicionamento para Filipe Luís e Rodinei, jogando mais por dentro, numa função chamada de “laterais interiores”.

Primeiro, é preciso entender a forma como o Furacão jogou. Toda vez que o time defendia, as perseguições eram claras: Erick marcava Éverton Ribeiro, Hugo Moura marcava Arrascaeta e Fernandinho ficava com Vidal. Como foi a campo com três zagueiros, num 3-1-4-2, os alas do Athletico batiam muitas vezes com os laterais, em especial Abner: ele tinha a missão de bloquear as saídas de Rodinei. Veja na imagem.

Os encaixes de marcação do Athletico no primeiro  tempo — Foto: Reprodução

Os encaixes de marcação do Athletico no primeiro tempo — Foto: Reprodução

A marcação por encaixe, quando bem executada, é difícil de superar. Ela gera dificuldade para quem está com a bola, sempre sempre com marcação próxima, e gera dificuldade para levar essa bola para a frente, uma vez que as opções de passe são marcadas de perto. É uma lógica do futebol de rua e do futebol society: cada um tem um alvo e precisa seguir até o fim com ele. O outro lado tenta jogar, começa a ficar irritado, o que leva ao erro – os passes errados de Éverton Ribeiro não são coincidência.

Vamos a um exemplo da dificuldade que o Athletico, que entrou no jogo para marcar, gerou ao Flamengo. Ribeiro e Rodinei aproximam pela direita, lado forte do Flamengo. Rodinei não consegue jogar a bola na frente, porque ninguém aparece. Ribeiro também não consegue, porque ele mesmo é marcado por Fernandinho (que trocou o encaixe com Erick) e Arrascaeta, o único à frente, está acompanhado por Hugo Moura.

Encaixes afastaram as jogadas do Flamengo da área — Foto: Reprodução

Encaixes afastaram as jogadas do Flamengo da área — Foto: Reprodução

Na volta do intervalo, o Athletico entrou com a missão de manter a mesma postura. Só que o Flamengo mudou.

Se a lógica dos encaixes de marcação é todo mundo ter alguém para marcar, então a forma de quebrar essa forma de organização na defesa é fazer ele não saber quem marcar. Como isso é feito? Com mais jogadores que o rival num determinado setor.

Dorival criou superioridade no meio primeiro com Filipe Luís jogando mais por dentro, invertendo de posição com Vidal. Ao mesmo tempo, Rodinei foi jogar na meia direita, invertendo com Ribeiro e até Gabriel. O meio-campo do Fla passou a ter seis jogadores, sendo que o Athletico esperava três. Como Fernandinho era o responsável por subir a pressão, ele acabava deixando alguém livre – ora Vidal, ora Filipe Luís. Aqui, um exemplo: ele marca Gomes, e Erick, que marcava Arrascaeta, se preocupa com Rodinei. O efeito disso é que Vidal sobra, totalmente livre.

Flamengo coloca os dois laterais por dentro no segundo tempo — Foto: Reprodução

Flamengo coloca os dois laterais por dentro no segundo tempo — Foto: Reprodução

Aqui fica ainda mais claro: Fernandinho sobe com David Luiz, e quem sobra é João Gomes. Só que como Rodinei estava no meio, ele entra na conta e se torna mais um a se movimentar. Vale notar o posicionamento de Ribeiro, que abriu e levou Erick com ele, deixando a frente da zaga bem mais aberta.

Laterais jogavam por dentro e abriam espaços no meio-campo — Foto: Reprodução

Laterais jogavam por dentro e abriam espaços no meio-campo — Foto: Reprodução

No lance do gol, Abner fica sobrecarregado com Ribeiro e Rodinei, e quando decide subir a marcação, deixa Rodinei sair livre para o cruzamento.

É normal, natural e parte da nossa cultura olhar a linda bicicleta de Pedro, porque nosso futebol é todo pautado na técnica: no que o jogador faz com a bola. Mas a técnica só decide e faz as belezas que todo mundo gosta de ver se há espaço. Isso é a tática.

Não foi a primeira vez que o Flamengo muda sem nem trocar as peças.

No primeiro jogo da Libertadores contra o Corinthians, Dorival posicionou Everton Ribeiro e Arrascaeta bem abertos, fazendo dobradinha com os laterais. Como o Corinthians marcava por zona, a lógica não era colocar mais gente num setor para alguém sobrar, mas sim quebrar a linha fazendo o campo ficar maior. Contra o Furacão, já não adiantava abrir o campo. A ideia era deixá-lo menor, com mais gente num espaço, para alguém sobrar livre.

Arrasca e Éverton abertos no novo posicionamento do Flamengo — Foto: Reprodução

Arrasca e Éverton abertos no novo posicionamento do Flamengo — Foto: Reprodução

Sinal de um trabalho extremamente bem feito, e que de simples não tem nada: criar variações, com os laterais interiores que abriram caminhos em Curitiba, é muito mais complexo do que se pensa.

Por Leonardo Miranda

Ge.globo.com

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