Esporte
Um palco de memórias afetivas e nada mais.

Templo do “soccer”, Rose Bowl ignora o tetra 30 anos depois de se tornar eterno para Seleção
Ingresso em painel discreto ao lado de bilheteria é única referência ao Brasil x Itália em estádio centenário que abre atualmente para raros eventos e reverência história no futebol americano
Um palco de memórias afetivas e nada mais. Essa é a relação do Rose Bowl com o tetra 30 anos depois.
Sempre que voltar a Los Angeles, a seleção brasileira se conectará automaticamente com sua história. Foi na região metropolitana da cidade que o Brasil conquistou a Copa do Mundo de 1994 e encerrou um jejum de 24 anos. O torcedor que planejar visitar o estádio onde Romário e cia. venceram a Itália nos pênaltis na tarde de 17 de julho, no entanto, não vai além de uma viagem no tempo, sem direito lembranças, imagens ou relíquias da conquista.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/O/H/HKNBSVQimI1nJylh9dBQ/whatsapp-image-2024-06-20-at-06.09.03-1-.jpeg)
Entrada principal do Rose Bowl, palco do tetra do Brasil em 1994 — Foto: Cahê Mota / ge
Localizado a 30km do SoFi Stadium, onde a Seleção estreia na Copa América, nesta segunda-feira, diante da Costa Rica, o Rose Bowl pode até não ter apagado o Mundial de 1994 de sua história, mas deixou bem escondido. Construído há mais de cem anos para grandes jogos de futebol americano, o estádio atualmente é palco de raríssimos eventos diversos ao longo do ano e não faz muita questão de manter viva sua relação com o “soccer”.
Por mais que seja um dos únicos estádios do mundo a receber finais de Copas masculina e feminina – juntamente com o Rassunda, na Suécia -, o Rose Bowl orgulha-se mesmo é de sua conexão com o futebol americano universitário. Não por acaso dá nome ao “bowl game” (jogo que finaliza a temporada) mais antigo do mundo e o sedia desde 1923.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/L/o/RuuemBRAa7FbZIxE8kmQ/whatsapp-image-2024-06-20-at-06.09.03.jpeg)
Estátua nos arredores do estádio lembra título americano na Copa de 1999 — Foto: Cahê Mota / ge
Um passeio pelos arredores do estádio é suficiente para se familiarizar com as universidades que levantaram troféu por ali, principalmente a UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), que manda jogos no local. Seja em enormes painéis pelas paredes ou em tijolos que decoram o solo, quase tudo por ali se refere ao esporte da bola oval. Relação que justifica também as homenagens em estátuas para lendas como Jackie Robison, ex-jogador que também deixou sua marca no basebol local, o ex-treinador Terry Donahue, e o jornalista Keith Jackson.
O “soccer”, por sua vez, foi imortalizado em estruturas de bronze, mas não relacionadas a 1994. Ao lado da esplanada na entrada principal do estádio, há uma estátua em referência ao Mundial Feminino de 1999, com a imagem de Brandi Chastain comemorando o gol de pênalti que deu aos Estados Unidos o título da competição diante da China.
– Muitos brasileiros passam por aqui curiosos e saem frustrados por não conseguirem nem ver o campo. Hoje mesmo, mais cedo, dois rapazes vieram aqui, mas não foi possível entrar – disse um dos seguranças de dentro da guarita na tentativa de visita do ge em busca de memórias de 1994.
Curiosamente, o 0 a 0 perdurou por 120 minutos nas duas finais de Copa disputadas no Rose Bowl, com brasileiros e americanas levando a melhor. Ali, bem pertinho daquela estátua, crianças batem bola em uma escolinha que mantém vivo o legado do “soccer” pelo menos nos arredores do Rose Bowl.
A realidade é de que o estádio raramente é aberto para visita até mesmo para turistas. Há apenas um tour por mês, onde o torcedor finalmente encontra uma mínima referência ao Mundial de 1994 – mas ainda sem destaque para a final. Em meio a dezenas de referências ao Rose Bowl Game e a ícones do futebol americano da UCLA, uma parede relembra momentos marcantes do “soccer”, que vão de disputas da Copa Ouro aos primórdios da MLS passando pelas duas Copas do Mundo e um cachecol em referência a amistoso entre Chelsea e Liverpool em 2016.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/J/B/IBjgFaTHAWlpsledbJlw/whatsapp-image-2024-06-20-at-04.27.03-1-.jpeg)
Pequeno painel no tour do estádio com referências aos eventos de “soccer” — Foto: Reprodução YouTube
Na Copa de 1994, o maior destaque é para uma foto de Valderrama na vitória americana por 2 a 1 sobre a Colômbia em partida que ficou marcada pelo gol contra de Andrés Escobar, assassinado ao retornar ao seu país. Naquele Mundial, o Rose Bowl recebeu oito partidas, entre elas também Brasil 1 x 0 Suécia pela semifinal.
Depois de muito rodar, um olhar mais atento – e bem-disposto – finalmente encontra uma única referência a final de 1994. Ao lado da bilheteria da entrada principal, um painel de informações é decorado por ingressos de eventos históricos e, como quem caça-palavras, é possível identificar a reprodução do bilhete de acesso daquele 17 de julho. Praticamente agulha no palheiro.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/M/W/GQF2BtTmi8ORhrA7lCGA/whatsapp-image-2024-06-20-at-06.09.04.jpeg)
Cópia de ingresso da final da Copa de 1994 é exibida ao lado de bilheteria — Foto: Cahê Mota / ge
Desde aquela tarde, o Brasil voltou a jogar no Rose Bowl apenas em mais duas oportunidades: em 2001, venceu os Estados Unidos por 2 a 1; e em 2016 ficou no 0 a 0 com o Equador. Já em Los Angeles, a Seleção entrou em campo outras oito vezes, com cinco vitórias e três derrotas no Coliseum.
Mais brechó do que jogos
Com o Rose Bowl Game em todo dia 1º de janeiro como ponto alto de sua programação, o estádio atualmente sedia poucos eventos ao longo do ano. Para 2024, o Flea Market, espécie de brechó que vende artigos antigos variados, é o que mais ocupa o calendário com edições mensais.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/U/k/45rl5SQsGSeEp0ZvXKSw/4408b3eddba64b2ab68c57421886a7c5.jpg)
Anúncio de divulgação do “brechó” mensal que acontece no Rose Bowl — Foto: Divulgação
Para não dizer que o “soccer” é totalmente ignorado, para o 4 de julho, Dia da Independência americana, está marcado o clássico entre o LA Galaxy e o LAFC pela MLS. Já em setembro, o México recebe a Nova Zelândia em amistoso de Data Fifa.
O calendário prevê ainda festivais gastronômicos, que ocupam a esplanada e o estacionamento do estádio, além de seis partidas de temporada do time de futebol americano da UCLA. Os tours acontecem quando há brechas e nunca mais do que uma vez por mês.
Roteiro de um estádio que respira o que os americanos chamam de futebol, mas que nunca deixará de ser um templo do “soccer”. Os brasileiros que o digam.
Por Cahê Mota — Pasadena, EUA
Ge.globo.com