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“Uma queda não é apenas uma queda”.

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O tombo do campeão: o Flamengo vai ter que superar 2019

Equipe rubro-negra acumulou gols perdidos, foi derrotada nos pênaltis e viu o Racing avançar para as quartas da Libertadores.

Uma queda não é apenas uma queda. Ela traz, além da comprovação do efeito da gravidade, as suas circunstâncias. O tombo flamenguista diante do Racing, por exemplo, teve certos contornos cruéis. Porque deixou consigo, esparramada na grama do Maracanã, a lembrança do avassalador campeão de 2019, que ganhava de tudo e de todos com método cartesiano e fúria incontrolável. O Flamengo, aliás, prometeu uma hegemonia continental que não se cumpriu. Ou que, pelo menos por enquanto, está interrompida.

Há, também, outros fatores que aumentam o pesar flamenguista. Porque a equipe de Rogério Ceni mostrou-se protagonista do jogo desde o início. Encurralou o Racing e criou inúmeras situações, inclusive com Vitinho despejando chapéus pelo campo como se a vida fosse um caminho de flores e sabores, distante da pandemia e das dores. Discípulo de Jorge Sampaoli, o quase imberbe Sebastián Beccacece deixou a apostila do mestre engavetada no hotel e defendeu-se como se fosse um histórico ex-zagueiro do Estudiantes de La Plata, mirando tornozelos, tabelas e objetivos. A região além do meio-campo, para o Racing, era uma miragem. A própria bola era um acessório.

O Racing Club de Avellaneda, na verdade, é sempre um mistério. Multicampeão nos primórdios do futebol argentino, levantou uma Libertadores e um Mundial (em 1967), mas há tempos não tem sido presença assídua nas contendas continentais. Mesmo assim, ausente, continuou espalhando pela América sua narrativa grandiosa: é clube histórico, de multidões e folclores. De Gardel, Perón e falências. De jejuns magnificos e títulos redentores, pois esporádicos.

E, bem, a classificação obtida nos pênaltis diante do Flamengo definitivamente não é um feito a ser alcançado por qualquer aventureiro. Mesmo que o cinto de castidade racinguista talvez pudese ter sido afrouxado após a expulsão de Rodrigo Caio e o gol de vantagem, marcado na sequência. A prudência extrema foi castigada com o gol de Wllian Arão, após escanteio, já nos acréscimos. Mas, para um clube que já foi declarado extinto por falência, como o Racing, disputar pênaltis é sempre um bônus — no campo e no cartório. O Racing, enfim, é um clube improvável.

Como parece ter sido improvável aquele Flamengo de 2019, em que todos os astros sentaram exatamente nas casas que lhe respondiam, Aquário em Ogum e São Judas na Gávea, para que o redentor colocasse seu furor lusitano a serviço das mais profundas intenções rubro-negras. Obviamente, a partir daquele bólido que varreu o Brasil e o continente, todo técnico será refém do legado de Jorge Jesus. Agora, eliminado da Copa do Brasil e da Libertadores, o Flamengo se vê enroscado apenas com o Brasileirão. É um time competitivo, que pode ser campeão, mas é preciso aos flamenguistas, em primeiro lugar, saber esquecer do encanto.

Porque o Flamengo dessa temporada ainda apresenta espasmos daquilo que recentemente lhe fez histórico, mas já viu se dissipar a aura infálivel e arrebatadora. Agora, como foi com Domènec Torrent, como está sendo com Rogério Ceni, é preciso disputar palmo a palmo o chão de fábrica do futebol brasileiro e sul-americano, um terreno em que não existe serviço à la carte: a gente come o que pode enquanto caminha.

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte
Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

ge.globo — Porto Alegre

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