Educação
Volta às aulas presenciais após pandemia de coronavírus
Até junho, o Brasil havia passado 16 semanas com escolas fechadas, enquanto a média dos países da OCDE e parceiros era de 14 semanas.
Com salas cheias e poucos professores jovens, Brasil tem desafios na reabertura das escolas, apontam dados da OCDE
O impacto da pandemia do coronavírus na educação já leva o Brasil a enfrentar mais semanas de escolas fechadas do que a média de países desenvolvidos. A reabertura das escolas trará desafios específicos para o país, como manter o distanciamento social em turmas com mais alunos que a média e organizar o trabalho de professores, quase 90% deles com idade acima de 30 anos.
Os dados são do relatório “Education at Glance 2020”, lançado nesta terça-feira (8) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A análise ocorre sobre 37 países que fazem parte do bloco, além de 9 parceiros (incluindo o Brasil).
“O fortalecimento dos sistemas de educação precisa estar no centro do planejamento do governo para se recuperar desta crise e dar aos jovens as habilidades e competências de que precisam para ter sucesso”, disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, ao lançar o relatório em Paris.
“É fundamental que todos os esforços sejam feitos para garantir que a crise não exacerbe as desigualdades na educação que foram reveladas em muitos países. A crise atual testou nossa capacidade de lidar com interrupções em grande escala. Cabe agora a nós construir como legado uma sociedade mais resiliente”, afirmou Gurría.
Os principais destaques são:
- Escolas fechadas: até junho, o Brasil havia passado 16 semanas com escolas fechadas, enquanto a média dos países da OCDE e parceiros era de 14 semanas;
- Salas cheias: enquanto o Brasil tem em média 24 alunos por sala nos primeiros anos de ensino na rede pública, os demais países da OCDE possuem 21. No ensino fundamental, são 28 alunos em média no Brasil, contra 23 na comparação com os países desenvolvidos. Nestas condições, distanciamento social necessário para a reabertura das escolas vai depender do espaço físico disponível;
- Recursos limitados: o relatório da OCDE alerta que os governos deverão enfrentar difíceis decisões para realocar recursos, disputados pela área econômica (com auxílios financeiros a trabalhadores e empresas) e pela saúde.
- Escolaridade e desemprego: antes da pandemia 14% dos jovens adultos brasileiros com ensino médio estavam desempregados. Entre as pessoas com nível superior, o índice era de 8%. Durante a pandemia, houve aumento do desemprego e o acesso ao trabalho remoto foi maior conforme o nível de escolaridade. A conclusão é que, quanto menor o nível de estudo, mais vulnerável a pessoa está ao coronavírus.
- Professores: os dados do relatório indicam que grande parte dos professores do Brasil não estão enquadrados entre os “jovens”, público que estaria mais distante do grupo de risco. Apenas 11% dos professores do ensino fundamental têm com menos de 30 anos, o que é um pouco abaixo da média da OCDE, de 12%.
O relatório da OCDE também analisou dados específicos sobre a evolução da educação técnica e profissional, além do ensino infantil e superior. Confira abaixo os dados:
Ensino técnico e profissional
Segundo a OCDE, a crise atingiu o setor de formação técnica e profissional de forma mais dura. Esta é uma grande preocupação, de acordo com o relatório, já que muitas das profissões que formaram a espinha dorsal da vida econômica e social durante o bloqueio da pandemia dependem dessas qualificações profissionais.
O Brasil tem 8% dos seus estudantes matriculados em cursos técnicos e profissionalizantes, aponta o relatório da OCDE. O índice está abaixo da média dos demais países analisados, que é de 32%. Esta etapa de ensino é o destaque na edição deste ano.
Entre estes estudantes do Brasil, 53% fazem cursos técnicos equivalentes ao ensino médio e 47%, ao ensino superior.
A educação técnica e profissional tem um papel importante na transição dos alunos para o mercado de trabalho, aponta o relatório. No entanto, como este tipo de aprendizagem envolve aulas práticas e pode incluir aprendizagem dentro das empresas, os estudantes deste segmento foram mais afetados pela pandemia devido às normas de distanciamento social e fechamento de empresas, afirma a OCDE.
Ensino superior
A expansão do ensino superior no Brasil cresceu acima da média dos países da OCDE na última década (2009-2019), embora o percentual de brasileiros com diploma ainda seja abaixo dos demais países.
Segundo a OCDE, no Brasil, houve aumentou de 10 pontos percentuais de graduados no período, enquanto nos demais países o crescimento foi de 9 p.p.
Porém, o crescimento ainda não levou a números universais. Em 2019, 21% dos jovens de 25 a 34 anos tinham diploma de ensino superior no Brasil, em comparação com 45%, em média, nos países da OCDE.
As mulheres seguem sendo maioria. No Brasil, 25% das mulheres de 25 a 34 anos tinham diploma do ensino superior em 2019, enquanto o percentual de homens era de 18%. A média dos países da OCDE é de 51% para mulheres e 39% para homens.
Um maior nível de escolaridade aumenta a probabilidade dos jovens conseguirem emprego e salários mais altos, afirma a OCDE.
No Brasil, essa diferença pode chegar a 258%, se comparados os salários de quem tem graduação com quem não terminou o ensino médio – a maior média entre os países analisados.
Educação infantil
Imagem de arquivo mostra criança desenhando durante atividade da educação infantil. — Foto: Helene Santos/Sistema Verdes Mares
O índice de crianças matriculadas em creches no Brasil ainda está abaixo da média da OCDE, aponta o relatório. As salas de aulas também estão mais cheias do que as dos demais países.
Por lei, a matrícula de crianças no Brasil só é obrigatória a partir dos 4 anos. Mas especialistas apontam que a educação durante toda a primeira infância (até cinco anos) é importante para estimular a aprendizagem em um período em que a formação cerebral das crianças está em pleno desenvolvimento. Ou seja, quanto antes, melhor.
Em muitos países da OCDE, a educação infantil começa para a maioria das crianças muito antes de eles completarem 5 anos e há direitos legais que garantem uma vaga por pelo menos um ou dois anos antes do início da escolaridade obrigatória.
No Brasil, 85% das crianças de 3 a 5 anos estão matriculadas em programas de educação infantil. A média da OCDE é de 88%. Dentro desta faixa etária, os dados mais recentes da organização indicam que 21% das crianças com até 1 ano de idade estavam matriculadas nestas instituições no Brasil. Nos países da OCDE, o índice é de 34%. Já entre as crianças de 2 anos, a taxa de matrícula é de 43% no Brasil, 3 pontos percentuais abaixo da média da OCDE, de 46%.
Por aqui, em média os professores desta etapa de ensino atendem a 14 alunos por classe. Na média da OCDE, são 7 alunos para cada professor.
Salário dos professores
Em relação ao salário dos professores, os docentes brasileiros recebem menos que a média dos demais países e parceiros da OCDE em todos os níveis de ensino.
Professores definem planos de aula durante a pandemia — Foto: Seduc
Na educação infantil, o valor médio anual é de US$ 24,7 mil no Brasil, enquanto a média da OCDE é de US$ 38,6 mil. No ensino fundamental, os valores são, respectivamente, US$ 25 mil e US$ 43,9 mil. No ensino médio são de US$ 25,2 mil e US$ 46,2 mil.
Os dados do relatório indicam que grande parte dos professores do Brasil estão prestes a se aposentar. Apenas 11% dos professores do ensino fundamental têm com menos de 30 anos, o que é um pouco abaixo da média da OCDE, de 12%.
Investimento em Educação
O Brasil está investindo mais na educação do que a média de países da OCDE. Em média, o Brasil aplicou 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, desde o ensino básico até o superior. O índice é 1 ponto percentual acima da média da OCDE.
Por aluno, o investimento do Brasil, é de:
- Educação básica (sem educação infantil): US$ 9.084
- Ensino superior: US$ 11.360
- Geral (educação básica sem educação infantil até ensino superior): US$ 9.402
Por Elida Oliveira, G1