Esporte
Lewandowski, o grande favorito e para incontestável
Messi e Cristiano Ronaldo não mereciam a final, mas ainda estão longe de ser absurdo como Modric
Presença dos gênios em vez de Neymar e De Bruyne no top-3 causa espanto e sensação de injustiça – e eu concordo. Mas sejamos pacientes: a passagem de bastão acontecerá em breve
Arregalei os olhos. Desbocado que sou, provavelmente devo ter soltado até algum palavrão quando vi os finalistas do Fifa The Best. Acho que ninguém esperava Messi e Cristiano Ronaldo, juntos, integrando o pódio desta vez.
Lewandowski, o grande favorito e para mim incontestável, talvez tenha ficado até intimidado, esperando concorrentes sem tais currículos, como De Bruyne ou Neymar. Mas a verdade é que, por mais que pareça injusto, está longe de ser um grande absurdo como, por exemplo, quando o croata Modric ganhou em 2018.
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É senso comum que Messi e Cristiano Ronaldo não são mais os mesmos de alguns anos. Pelo menos não passam a sensação de que “ganham jogos sozinhos” com frequência (não gosto da expressão, mas acho que vocês vão entender a mensagem). Temos visto mais recentemente que também são humanos e falham. Absolutamente normal.
Um tem 35 anos, o outro, 33. Estão desde 2008 levando o prêmio, exceto pelo ano em que os eleitores decidiram estar enfadonhos e escolheram alguém para representar a Copa do Mundo.
O desempenho coletivo de Juventus e Barcelona também não contribuiu. A Juve conquistou o Italiano pela nona vez consecutiva, mas foi vice da Copa da Itália e, no mais importante, a Liga dos Campeões, acabou eliminada para o Lyon nas oitavas de final.
O Barcelona fez pior: saiu humilhado para o Bayern (8 a 2 nas quartas) e passou sua primeira temporada sem título desde 2007/08. Messi esteve próximo de encerrar seu ciclo, mas voltou atrás. O clima no entorno era mais um dificultador para enxergar algo positivo na temporada do argentino.
Mas, sim, houve coisas boas. Se o Barcelona lutou pelo título espanhol até a penúltima rodada, é factível imaginar que, sem Messi, não pegaria nem uma vaga na Champions. Ele foi o artilheiro do campeonato e também quem deu mais assistências num time em frangalhos.
Durante o período estabelecido pela Fifa para o prêmio (8 de julho de 2019 até 7 de outubro de 2020), Messi fez 34 gols e deu passes para outros 26 em 49 jogos por Barcelona e Argentina.
— Foto: Infoesporte
Sua média de participação direta em gol por jogo foi de 1,22, bastante relevante, embora o número de gols tenha sido o menor em uma década. O menor dele, claro. Quando a régua passa a compará-lo aos outros, a situação ainda é confortável.
Cristiano Ronaldo não fica muito atrás. Sua média de participação direta em gol por jogo é de 1,05. É um jogador que dá menos passes, mas segue praticamente letal na frente, com 53 gols em 55 jogos. Na própria eliminação da Juventus na Champions, fez os dois gols. E disputou a artilharia do Italiano até o fim com Immobile, que terminou igualando o recorde de 36 gols do argentino Higuaín.
Se não tiveram desempenho de top-3, seguramente foram dois dos seis ou sete melhores.
Os meus finalistas seriam Neymar (3º) e De Bruyne (2º), mas não vejo tantos argumentos para uma grande revolta coletiva. Neymar fez 22 gols e deu 13 assistências em 34 jogos. Foi menos a campo porque se lesionou e o Campeonato Francês, visto com ressalvas pelo restante da elite da Europa, foi encerrado na 28ª rodada.
A única via seria a Liga dos Campeões. O PSG bateu na trave com um Neymar decisivo nas oitavas, importantíssimo nas quartas, participativo na semi e apagado na final contra o Bayern. Foi um dos melhores jogadores do torneio, mas não o melhor. Ainda que estivesse no top-3, só teria chances reais de ganhar o The Best se o destino em Lisboa tivesse sido outro. Não foi.
Os números de Neymar e De Bruyne
Categoria | Neymar | De Bruyne |
Jogos | 34 | 57 |
Gols | 22 | 20 |
Assistências | 13 | 32 |
Média por jogo | 1,03 | 0,91 |
Fonte: ge
Neymar chora com vice-campeonato do PSG para o Bayern na Champions — Foto: David Ramos/Reuters
De Bruyne, por outro lado, jogou bastante em quantidade. Fez a melhor temporada de sua carreira: deu 20 assistências no Inglês, um recorde ao lado de Thierry Henry pelo Arsenal em 2002/03. Foi eleito o melhor jogador da Premier League numa temporada em que o Liverpool nadou de braçadas e acumulou grandes atuações pela Bélgica.
O meia reuniu estatísticas impressionantes, por mais que o seu futebol elegante já pudesse ser suficiente. Não foi na opinião do colégio eleitoral, formado por capitães e técnicos das seleções, jornalistas e o público geral no site da Fifa. Cada grupo com 25% de participação na eleição.
Se não gostou do resultado final, não precisa reclamar com o Gianni Infantino. Na dúvida, alguns eleitores tendem a votar mesmo na bola de segurança.
Mas o bastão será entregue em breve. Um, dois, três anos? Não sabemos. Por enquanto, Messi e Cristiano Ronaldo ainda produzem para estarem no bolo – o fato de não merecerem ganhar já é um importante passo. Tenhamos paciência para usufruir do resto enquanto há tempo.
A cerimônia virtual de entrega do Fifa The Best será realizada na quinta-feira, dia 17 de dezembro, com transmissão direto da sede da Fifa, em Zurique, na Suíça.
Por Victor Canedo
Redator, repórter e comentarista do ge