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Fernando Diniz e Marcelo Bielsa travam duelo em Uruguai x Brasil

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“Loucos” e ofensivos, Diniz e Bielsa fazem duelo de estilos peculiares em Uruguai x Brasil

Questionados pela ausência de títulos, exaltados pelos traços autorais de seus trabalhos, brasileiro e argentino têm a admiração de nomes como Neymar e Pep Guardiola

De técnico e louco, todo mundo tem um pouco. Pode até ser, mas o difícil é encontrar por aí quem consiga unir (e isso é um elogio) com tamanha intensidade as duas definições como Fernando Diniz e Marcelo Bielsa. Com jeitos bem peculiares de ser e marcas registradas em seus trabalhos, os dois se enfrentam pela primeira vez nesta terça-feira, em Montevidéu, no clássico entre Brasil e Uruguai.

Fernando Diniz e Marcelo Bielsa travam duelo em Uruguai x Brasil — Foto: ge

Fernando Diniz e Marcelo Bielsa travam duelo em Uruguai x Brasil — Foto: ge

Seja pelo comportamento (e manias) à beira do gramado, seja pela autoralidade que conduzem suas equipes, Diniz e Bielsa têm trajetórias que já ficaram marcadas e justamente por isso costumam levantar questionamentos. O principal deles está relacionado aos poucos títulos conquistados.

Em mais de 30 anos de carreira, “El Loco” ergueu somente quatro troféus, além da medalha de ouro olímpica com a Argentina. Fernando Diniz, por sua vez, foi campeão pela primeira vez no Carioca deste ano, e tem pela frente a sonhada final da Libertadores no comando do Fluminense, dia 4 de novembro, no Maracanã, contra o Boca Juniors.

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Está aí, por sinal, outra similaridade na trajetória de ambos. Foi também uma final de Libertadores que fez com que o trabalho de Bielsa chamasse a atenção fora da Argentina. Na ocasião já bicampeão nacional, perdeu para o São Paulo nos pênaltis no comando do Newell´s Old Boys, em 1992, quando tinha somente 37 anos.

Na área técnica, os dois chamam a atenção também pelo comportamento. Diniz tem suas caras e bocas, caretas e broncas marcantes. Bielsa fica praticamente estático, numa mesma posição, agachado observando o jogo.

A capacidade de elevar o rendimento técnico dos jogadores, a coragem de mudá-los muitas vezes de posição e, principalmente, a valorização da posse de bola são características que unem os dois. Por mais que suas metodologias sejam distintas, como disse o próprio Diniz em meio a elogios.

– Acho que a ideia de ter protagonismo no jogo é muito clara. Mas a ideia tática de propor as coisas não tem muita semelhança.

O impacto de ambos por seus conceitos de jogo vai além das conquistas e tem o carimbo de nomes consagrados no futebol mundial. Na data Fifa de setembro, antes da goleada sobre a Bolívia, Neymar fez elogios contundentes a Diniz:

– É um cara que faz um trabalho completamente diferente de tudo que já presenciei. É outro tipo de futebol. Tem mentalidade diferente do que já tive. A maioria dos treinadores que tive fazia quase as mesmas coisas. Ele gosta de reinventar o futebol, de te dar opções. É um cara muito interessante.

Fernando Diniz conversa com Neymar em treino da Seleção: admiração mútua — Foto: Vitor Silva / CBF

Fernando Diniz conversa com Neymar em treino da Seleção: admiração mútua — Foto: Vitor Silva / CBF

Do lado do argentino, a admiração vem de ninguém menos do que Pep Guardiola. Multicampeão por Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City, o espanhol se declarou em 2020:

– Bielsa é provavelmente a pessoa que mais admiro. Ele é único. Ninguém consegue imitá-lo. Ele inspirador para mim. Nós ganhamos mais títulos, mas como técnico, ainda estou longe dele.

Bielsa e Guardiola durante City x Leeds — Foto: REUTERS

Bielsa e Guardiola durante City x Leeds — Foto: REUTERS

“Fazem muito bem ao futebol”

Mesmo em início de trabalho pelas seleções, Diniz e Bielsa conseguiram colocar suas assinaturas nas primeiras rodadas das eliminatórias. Comentarista do Grupo Globo, Lédio Carmona elogia a forma como os treinadores buscam soluções durante todo o jogo para que suas equipes sigam intensas e ofensivas:

Fernando Diniz, técnico da Seleção, durante Brasil x Venezuela — Foto: Gil Gomes/AGIF

Fernando Diniz, técnico da Seleção, durante Brasil x Venezuela — Foto: Gil Gomes/AGIF

– Os dois são muito inquietos. Cada um a sua maneira, sempre acham que podem entregar mais, podem fazer mais. O Diniz é mais barulhento em alguns momentos, enquanto o Bielsa fica sempre ali agachado, maquinando o que fazer, e é um pouco mais contido. Os dois fazem muito bem ao futebol. Dificilmente você vai ver um jogo em que o Brasil não proponha, não tenha a bola, não busque soluções. Você não morre de tédio com jogos do Diniz e com o Bielsa, com todo respeito ao Óscar Tabárez, o Uruguai já é jogo muito divertido de ver.

Os dois fazem muito bem ao futebol. De loucos, não têm nada. São sábios!

Já Ramon Motta, também comentarista do Grupo Globo, detalha semelhanças e diferenças nos trabalhos do brasileiro e do argentino:

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– São dois grandes pensadores que são tão similares quanto distintos. Similares na pressão pós-perda, no controle de jogo para induzir e envolver seu adversário a oferecer certos espaços específicos de acordo com a maneira que atacam. Distintos na questão táticas em relação a marcação. O Diniz dá a liberdade de movimentação fazendo com que seus atletas joguem em posições que não estão acostumados, aproximação dos pontas que por vezes flutuam e jogam muito do mesmo lado para criar a superioridade. Bielsa gosta que seu centroavante controle os zagueiros na marcação fazendo com que os pontas tenham a responsabilidade de acompanhar os laterais.

– Os dois treinadores gostam de uma transição defensiva rápida, Bielsa de uma forma mais organizada com os jogadores específicos da posição e o Diniz com sua dupla de zaga e com quem estiver no setor da perda de posse.

O Brasil de Diniz encara o Uruguai de Bielsa, às 21h (de Brasília), pela quarta rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2026, no estádio Centenário, em Montevidéu. Com sete pontos, a Seleção ocupa a segunda colocação da competição que dará seis vagas diretas no Mundial e uma para a repescagem.

Por Cahê Mota — Rio de Janeiro

Ge.globo.com

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