Educação
O novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, toma posse no MEC
Milton Ribeiro é o quarto gestor do MEC no governo Bolsonaro
Em discurso de posse, ministro da Educação afirma que é a favor da laicidade do estado e diz que nunca defendeu violência
BRASÍLIA— O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, tomou posse nesta quinta-feira em uma cerimônia fechada para a imprensa no Palácio do Planalto. Em seu discurso, Ribeiro afirmou que vai conduzir sua gestão com base em princípios constitucionais e respeitando a laicidade do Estado. O ministro disse também que nunca defendeu a violência nas escolas, justificando uma afirmação anterior na qual mencionou que crianças devem ser educadas com “dor”. Em um vídeo que circulava pelas redes sociais, Ribeiro também dizia que a “correção” não será obtida por “métodos suaves”, com a exceção de algumas crianças “superdotadas” que entenderiam o argumento dos pais.
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Em sua fala, Ribeiro agradeceu ainda à escola pública e afirmou que quer abrir o diálogo no MEC. Ribeiro, que é pastor da Igreja Presbiteriana, é o quarto ministro da Educação do governo do presidente Jair Bolsonaro, que participou do evento por videoconferência.
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— Conquanto tenho a formação religiosa, meu compromisso que assumo hoje ao tomar posse está bem firmado e localizado em valores constitucionais da laicidade do estado e do ensino público. Assim, Deus me ajude.
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O novo gestor chega ao MEC após uma crise na sucessão da pasta depois da saída do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ribeiro chega para substituir Carlos Alberto Decotelli, que ficou apenas cinco dias no cargo e foi demitido devido a inconsistências no currículo.
— Jamais falei de violência física na educação escolar, nunca defenderei tal prática que faz parte de um passado que não queremos de volta. Entretanto, vale lembrar que devido à implementação de políticas e filosofias educacionais equivocadas no meu entendimento, que desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula, o que agora existe são episódios de violência física de alguns maus alunos contra o professor. As mesmas vozes críticas da sociedade devem se posicionar contra esses episódios com a mesma intensidade — argumentou.
Ao longo da fala, Ribeiro defendeu o diálogo e adotou um tom conciliador. O ministro disse que não se pode “desmerecer” quem veio antes.
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— Queremos abrir grande diálogo para ouvir acadêmicos e educadores que, como eu, estão entristecidos com o que vem acontecendo com a educação no país. Haja visto nossos referenciais e colocações no Pisa— disse, acrescentando:
— Para não ser injusto, ao olhar o passado educacional do nosso país não se pode desmerecer que grandes educadores deram legítimas e valiosas contribuições. Não estava tudo errado, mas o que vemos como resultado de políticas implementadas é que levaram ao que vemos nos dias de hoje na escola, sobretudo com nossas crianças.
Educação de crianças e ensino profissionalizante
De acordo com o ministro, o presidente Jair Bolsonaro pediu foco na educação de crianças e no desenvolvimento do ensino profissionalizante. Ribeiro disse que seguirá a orientação do presidente, o que indica quais serão as prioridades do gestor à frente da pasta. O ministro também defendeu a valorização do professor como um dos pilares da educação.
Após o discurso do novo ministro, o presidente Jair Bolsonaro falou por videoconferência do Palácio da Alvorada e o agradeceu “por aceitar tamanho desafio”. Ele descreveu o ministério como “grande, complexo, com autonomias e setores”, que depende muitas vezes de conselhos para tomar decisões.
— Não é fácil a vida do ministro. E dele, em grande parte, depende o futuro da nossa nação. já disse ao Paulo Guedes que o que liberta um país, o que liberta um homem não são programas sociais, são conhecimento [sic]. E esse conhecimento vem em grande parte do Ministério da Educação — declarou.
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O vídeo teve um corte no momento em que Bolsonaro citava o antecessor de Ribeiro, Abraham Weintraub, e foi retomando no momento em que o presidente afirmava que o ex-ministro “nos deixou há pouco tempo”. Em seguida, disse ter certeza de que a transição será tranquila.
— Você terá como, pontualmente, colocar gente ao teu lado com o mesmo espírito seu. Se bem que pode ter certeza que grande parte do ministério pensa como você. E eles agora, na tua pessoa, terão como fazer valer o seu potencial, para que venhamos então a dar o melhor do seu ministério para o Brasil, fato esse que nos libertará.
Preocupação em assumir a função
O presidente então revelou que o novo ministro, de forma “bastante sincera e aberta”, demonstrou estar preocupado em assumir a função nas poucas vezes em que os dois conversaram. Ribeiro disse, segundo Bolsonaro, que estava deixando algumas rotinas e comodidades para enfrentar um grande desafio “longe do seu habitat”.
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No início do pronunciamento, ele disse ter se lembrado do seu tempo de estudante, como aluno de escola pública no Vale do Ribeira, em São Paulo, e citou que conseguiu passar em concursos de admissão do Exército sem ter feito “cursinho”.
— Naquela época, Milton, te ouvindo falar aí, realmente o professor não só tinha, como exercia sua autoridade em sala de aula. Lembro-me dos anos 60, nos momentos de festa na cidade, quando havia um casamento, por exemplo, as primeiras pessoas das listas a serem convidadas eram os professores. Nós temos que resgatar isso daí. Os professores são praticamente os nossos segundos pais. Devemos respeito e reconhecimento por aquilo que nos ensinam e ficará para sempre em nossas vidas — comentou o presidente.
Bolsonaro disse ainda que a vida do professor nos dias atuais “não é fácil”, já que os governantes anteriores “tentaram consertar, mas na verdade se equivocaram”
— Existe hoje em dia uma gama enorme de excelentes e excepcionais professores em todos os níveis no Brasil. E, com toda a certeza, com a chegada de um ministro voltado para o diálogo, usando a sua experiência e querendo o melhor para as crianças, esse entendimento se fará presente.
Cerimônia discreta
Diferentemente de grande parte das posses do alto escalão do governo, a cerimônia do ministro da Educação aconteceu em uma sala no 3° andar do Palácio do Planalto. Em geral, esses eventos acontecem no Salão Nobre da sede do governo ou nos Salões Oeste ou Leste
Embora o governo recorrentemente promova eventos, inclusive posse de outros ministros como Fábio Faria, das Comunicações, no Planalto, a justificativa que circula sobre a posse ter sido fechada para a imprensa e em um local menor foi a precaução em relação ao novo coronavírus. O ministro, no entanto, tem 62 anos e é mais novo que o próprio presidente Jair Bolsonaro, que já participou de diversos eventos com aglomerações.
Outra versão que circula nos bastidores é que o governo pode ter se precavido com medo de a posse ser esvaziada. A escolha de uma sala no terceiro andar também é vista como desprestígio.
Milton Ribeiro é formado em Direito e em teologia, é ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi vice-reitor e reitor da instituição e tem experiência de mais de 12 anos na gestão da educação.
Paula Ferreira e Gustavo Maia / Oglobo.globo.com