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Russell morreu de gripe, na Inglaterra, 98 anos de idade. Se sua morte tivesse ocorrido hoje, a causa poderia até ser confundida com Coronavírus

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“ O amor é sábio; o ódio é tolo”

Lições de Russel, para iluminar nosso presente sombrio

No dia 3 de Fevereiro de 1970 morria Bertrand Russell, matemático e filósofo, um dos maiores pensadores da humanidade em todos os tempos, Prêmio Nobel de Literatura de 1950, deixando um legado monumental de mais de 40 obras publicadas, e uma presença viva, permanente e corajosa em defesa da liberdade, da justiça e da igualdade.

Russell morreu de gripe, na Inglaterra, seu berço natal, próximo de completar 98 anos de idade. Se sua morte tivesse ocorrido hoje, a causa poderia até ser confundida com Coronavírus, essa pandemia mortal que está apavorando o mundo e dizimando milhares de vidas humanas em quase todo o Planeta.

Ninguém mais adequado, me parece, para ocupar a reflexão de hoje , neste espaço Mundo Cidadão, visto que as lições que Russell nos deixou são de uma atualidade espantosa, servindo de luz nos caminhos sempre mais escuros que somos impelidos a seguir, marcados por desamor, intolerância e insensatez.

Exemplos claros da lucidez, amor ao conhecimento e enorme dimensão cidadã de Russel, ficam nítidos numa entrevista que ele concedeu ao programa Face to Face, da rede inglesa BBC, em janeiro de 1959, que dizem muito sobre os nossos dias de incerteza, disfarce, mistificação, descrença e sofrimento.


O entrevistador, John Freeman, pergunta a Bertrand Russel:

“Suponha, Lord Russell, que esse filme (entrevista) seja assistido por nossos descendentes, como os pergaminhos do Mar Morto, daqui a mil anos. O que você acha interessante dizer a essas gerações sobre a sua vida e as lições que você aprendeu?”

E o sábio Russell responde:

“Eu gostaria de dizer duas coisas, uma intelectual e outra moral. O conselho intelectual que eu gostaria de dar é esse: quando você está estudando um assunto, ou considerando alguma filosofia, pergunte a si mesmo, somente, quais são os fatos e qual é a verdade que os fatos revelam. Nunca se deixe divergir pelo que você gostaria de acreditar ou pelo que você acha que traria benefícios sociais se fosse acreditado. Olhe apenas e somente para quais são os fatos. Esse é a recomendação intelectual que eu gostaria de dar.”

“O conselho moral que eu gostaria de dar é muito simples. Eu diria: o amor é sábio; o ódio é tolo. Nesse mundo que está ficando mais interconectado, nós temos que aprender a tolerar uns aos outros, nós temos que aprender a aceitar o fato de que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos dessa forma, se formos viver juntos e não morrer juntos. Nós precisamos aprender a bondade da caridade e da tolerância, o que é absolutamente vital para a continuação da vida humana nesse planeta.”
Não é à toa que a resposta repercuta nos dias atuais com tanta força. Há 70 anos do final da IIª Guerra Mundial, ainda estamos imersos numa cultura do ódio (principalmente manifesto na internet) e da violência, tanto nas relações em sociedade quanto entre países. A resposta expressa dois princípios, intelectual e moral, que se complementam. Primeiro, procurar conhecer as coisas da forma mais objetiva possível; segundo, praticar a tolerância. Uma coisa leva a outra.

Assim, incorporo a análise feita por João Alberto Guerreiro sobre a visão de outra filósofa e política alemã, de origem judaica, Hannah Arendt, uma das mais influentes pensadoras do século XX, ao analisar a perseguição, a privação de liberdade e a morte de judeus sob Hittler, durante o processo de extermínio desencadeado a partir de 1933, quando diz:

“Justamente ao falar sobre as experiências totalitárias de seu tempo, principalmente da Alemanha nazista, Hannah Arendt encontrou a gênese do totalitarismo (a forma mais extrema de autoritarismo) na ausência de reflexão das pessoas que a ela aderiram. Assim, essa irreflexão levou a um agir irracional, onde a falta de reconhecimento da condição humana do outro prevaleceu, levando a um limite extremo de intolerância. Foi a partir dessa noção que ela elaborou o seu famoso conceito de banalidade do mal, caracterizando um fenômeno totalitário que foi aceito irreflexivamente e praticado naturalmente por pessoas comuns, nas quais a presença de uma maldade extrema não era encontrada.”

A resposta de Russell, atualíssima, nos leva a um sentido oposto à intolerância e à irreflexão.

Este nosso retorno a Bertrand Russell leva-nos à luz. Pode nos fornecer ânimo, inteligência e boa vontade para clarear nossas mentes, ajudando-nos a pensar e agir ,no presente , de forma humana e cidadã, guardando esperança às futuras gerações.

Blog: José Osmando de Araújo / Meionorte.com

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