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Ao que tudo indica, as Olimpíadas de Tóquio, agora marcadas para 2021, vão abrir uma nova fase da história olímpica

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Crise do novo coronavírus acelerou o processo de contração das Olimpíadas, a agora organizadores visam reduzir atletas e luxo das cerimônias, e repensam locais de competição

Jogos de Tóquio vão abrir novo período na história das Olimpíadas: a Era da Contração

A professora Kátia Rubio, maior referência acadêmica do movimento olímpico no Brasil e autora de diversos livros sobre o tema, divide a história dos Jogos em quatro grandes partes: a fase de estabelecimento (entre 1896 e 1912), de afirmação (1920 e 1936), de conflito (1948 a 1984) e do profissionalismo (1988 até os dias de hoje).

Ao que tudo indica, as Olimpíadas de Tóquio, agora marcadas para 2021, vão abrir uma nova fase da história olímpica: a Era da Contração de Gastos. Há alguns anos o COI tenta reduzir os custos de uma Olimpíada, mas a pandemia do novo coronavírus acelerou o processo.

Os organizadores de Tóquio já cogitam diminuir o número de atletas de Tóquio, assim como reduzir o luxo das cerimônias de abertura e encerramento. O que só aconteceria em Paris 2024, pode chegar já em Tóquio 2021: menos atletas, cerimônias menos polposas, locais de competição com menos exigências…Enfim, a Era da contração chegou.

Antes da pandemia, Tóquio estipulou um orçamento de US$ 12,3 bilhões (atualmente R$ 63 bi), mas que deve ter um aumento de U$ 2,3 bi (R$ 11 bi) por causa do adiamento. Agora, os organizadores buscam mais de 200 ítens para simplificar o evento.

Já o orçamento de Paris é ainda menor. Gira em torno de 7 milhões de Euros, cerca de R$ 40 bilhões, ou seja, 35% menor do que de Tóquio. Em Paris, teremos menos atletas (10.500), menos esportes e menos locais de competição construídos.

O tamanho dos gastos com as Olimpíadas fez com que inúmeras cidades desistissem da campanha para abrigar o evento: Boston (Estados Unidos), Roma (Itália), Hamburgo (Alemanha) e Budapeste (Hungria). Isso fez com que apenas Paris e Los Angeles seguissem como candidatos, e o COI, em um malabarismo inteligente, anunciou os dois locais como palco de 2024 e 2028 respectivamente.

O COI já deu mostras que iria começar a diminuir os Jogos com a criação da agenda 2020, proposta da própria entidade em 2014 para mudar as diretrizes do movimento olímpico. Uma espécie de nova ordem olímpica, baseada na sustentabilidade e na redução de gastos.

Quanto às obras e construções de uma cidade olímpica, o Rio de Janeiro, por exemplo, fez onze novas instalações que, na teoria, ficariam como legado para a cidade. Em Tóquio 2020, são apenas oito sedes que saíram “do zero” e serão permanentes. Já Paris 2024 terá a construção de apenas uma sede, o parque aquático, o resto dos locais ou já existem, ou serão provisórios ou passarão por reformas.

Essa contração, porém, não mudará em nada a importância das Olimpíadas, que continuará recebendo atletas de todas as nações do planeta, em uma confraternização dos povos.

A periodização olímpica

Fase de estabelecimento (1896-1912): entre as Olimpíadas de 1896, realizadas em Atenas (Grécia) e 1912, em Estocolmo (Suécia), temos um período marcado pela aceitação olímpica. Em 1896, a primeira edição, quatro anos depois, a primeira participação feminina, em 1904 o ineditismo dos Jogos no “Novo Mundo” (Estados Unidos), em 1908 o embrião da universalização das regras em quase todos os esportes e, em 1912, a primeira realmente organizada com antecedência.

Abertura da Olimpíada de 1896, em Atenas — Foto: Hulton archive/getty

Abertura da Olimpíada de 1896, em Atenas — Foto: Hulton archive/getty

Fase de afirmação (1920 – 1936): após a I Guerra Mundial, Antuérpia, na Bélgica, abrigou os Jogos de 1920, os primeiros com a famosa bandeira dos cinco anéis, juramento do atleta e dos juízes, e o hino olímpico. Na época, o período entre guerras, o COI já contava com mais membros que a Liga das Nações, entidade que foi embrião da ONU, criada no fim dos anos 1940. Nesta fase, as Olimpíadas já não eram uma festa de poucos e para poucos, mas vinha se convertendo em um grande espetáculo que ganhava o gosto do público em geral.

Fase de conflito (1948-1984): com o mundo dividido entre o bloco comunista e o bloco capitalista, as Olimpíadas viraram um objeto de propaganda dos regimes e afirmação da superioridade. A criação, não pelo COI, do quadro de medalhas, que comparava os países veio no início desta fase. No fim, vieram os boicotes. Dos americanos aos Jogos de 1980, na União Soviética, e o troco socialista quatro anos depois em Los Angeles. E a fase de conflito não se refere apenas à Guerra Fria, como também à questão Israel X Palestina e a questão antirracista e do apartheid são outros exemplos marcantes nesta época.

Peter Norman, Tommie Smith e John Carlos no pódio na Cidade do México, em 1968 — Foto: John Dominis/The LIFE Picture Collection via Getty Images

Peter Norman, Tommie Smith e John Carlos no pódio na Cidade do México, em 1968 — Foto: John Dominis/The LIFE Picture Collection via Getty Images

Fase do profissionalismo (1988-): o amadorismo foi sempre um dos grandes pilares do movimento olímpico, mas a disputa contra o poder financeiro foi perdida no fim dos anos 1980. Em Seul 1988, atletas e equipes experimentaram ousar sua capacidade de fazer brilhar a marca de seus patrocinadores, mas foi em 1992 que a profissionalização chegou para valer. O símbolo disso foi o time de basquete dos Estados Unidos, com estrelas da NBA, mas a ida de tenistas e ciclistas que participavam das milionárias competições em suas modalidades também marcou.

Guilherme Costa Brasil em Tóquio blog — Foto: Reprodução

Guilherme Costa Brasil em Tóquio blog — Foto: Reprodução

Por Guilherme Costa — São Paulo / Globoesporte.globo.com

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